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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Quem lê não mente

Quem lê não mente*(pelo menos enquanto está a ler),só por isso já devemos amar os livros,mas o que procuramos nos livros? Distração? Histórias que não vivemos mas que gostaríamos de viver? Ensinamentos? Nos livros há prantos, flores de todas as cores e até inexplicáveis sentimentos que não sabemos sentir sem estar a ler. Há lágrimas nos livros e choros de luzes que se afogam nas páginas que lemos. Os livros são uma protecção contra a falsidade dos momentos em que somos apenas uma personagem invisível, ali, no livros estamos nós, somos o nosso próprio espelho e há tantos livros como espelhos, há tanta sabedoria nos espelhos como nos livros que espalhamos pelo nosso dia-a-dia. Quando começo a ler um livro tenho sempre esperança de que ele vá mudar algo dentro de mim, por isso posso falar de esperança quando inicio alguma leitura.É claro que todas as palavras e todos os livros nascem do interior de quem escreve, mas quantas vezes não estamos nós ali, alimentando-nos daquela história, comendo aquelas frases, bebendo aquelas personagens? Eu acho que os livros são fotografias de situações, de pressentimentos, de objectos parados na imensidão da nossa memória, é por isso que se pudéssemos agarrar a luz, ela certamente se condensaria na página de um livro, como se fosse uma emoção que nos iluminasse...

 

* frase extraída do livro "O livreiro de Paris"

 

 

Inertes jazem as palavras...

Inertes jazem as palavras... desfeitas pelo passado

Imaculadas cadeias prendem-nas na secura falsa do papel

Formam livros..escuridão...vida..sentimentos

No fundo... são apenas imagens de um espaço a zunir na nostalgia da nossa alma

Tal como o silêncio é um eco trágico do espaço

As palavras lentamente esquecem quem são...

E partem dentro da nave escura do quotidiano

 

 

E mesmo que corra toda a cidade

E mesmo que corra toda a cidade a procurar a tua mão

E mesmo que a queimadura que me invade se disfarce de tédio

E mesmo que esgravate na tua ausência todos os momentos que fomos

Sei que as minhas forças se dispersam por outros lugares

Sei que os meus lábios já não se aconchegam na fissura ambígua dos teus ombros

Sei que há um veneno sedento do sangue acre que se dispersa pelas ruas

E depois....também sei que a solidão está gasta

E mesmo que a memória se corte na lâmina do passado

Nada trará de volta...o corpo...o sangue a ferver...o fascínio das visões tatuadas na pele

As certezas de que os sonhos ainda vivem na boca das flores

E nós..distantes..a avançar mar adentro..a afiar a a secura das vagas

A saber que a saliva é um veludo sobre a pele seca dos sargaços

Talvez ainda nos restem ilhas distantes...areias desesperadas nas praias onde não fomos

Talvez o mar se torne sonâmbulo..e durma connosco na dilaceração das noites

Talvez os sonhos se tornem sagrados...

E a lua se aproxime da chuva que cai no sangramento dos dias

E uma e outra vez as imagens vêm...as feridas retiram-se...os corpos adormecem

Plenos...como fotografias de uma luz extasiada...

Ou como pequenas tatuagens de estrelas

Que se vêem em firmamentos de aflição...sós...completamente absortas...sedentas

Da tragédia do Homem...

 

Baú de memórias#6

Scan5.jpg

 (Moçambique 1968,Nampula)

Muita gente não sabe que tivémos uma guerra colonial, não é culpa sua, é culpa de um sistema que teima em esconder os erros do passado.Nesta foto temos uma amostra do clima tropical,chove a cântaros,há soldados  em tronco nu, mas no canto esquerdo vemos um negro descalço que não participa na "festa", quase como se  estivesse com medo de se aproximar.

Como um bote que parte sem velas... nem vento...

Há toda essa espécie de passado a ferir-nos a lucidez inabalável dos dias

Há todo esse sentir que o destino é uma assombrosa aventura da consciência

De que nos serve todo o Universo a dispersar-se no nosso sangue?

De que nos serve descobrir a flecha distendida pela mão do futuro?

De que vales..de que águas..de que ânsias se fazem os contentamentos do mundo?

Olho a rua..e vejo candeeiros que se acendem para a noite exorbitante de olhares

E penso ...de que verdes se fazem as árvores no escuro nocturno?

Que silêncios ecoam nos coágulos brancos das memórias?

Sabemos que o mundo é uma garra que se ergue na penumbra ansiosa dos remorsos

Sabemos que o cerne da Morte reside no inabalável clarão da Vida

Sabemos que a brancura da espuma vem das profundezas do céu

E que os olhos voam... tal como as aves se sentam nos bancos das nuvens

Mas o Mundo..essa extensão de vales e de passados

Essa ansiedade exposta aos vendavais que se erguem das aflições

Essas almas..quase vida..quase nada..quase tudo...

Espalham-se nos prados..ecoam nas lezírias...sobem até ao último cansaço dos corpos

E há trovoadas...há impressões...há cheiros a cinza..compactos..fluidos...verdadeiros

E as copas das árvores dançam na loucura dos quartos

A alegria é uma recta oblíqua e fantástica... a empurrar o céu para dentro de nós

A estalar na manhã das neblinas ofuscantes...a empurrar-nos para dentro do além

Como um bote que parte sem velas ...nem vento...

 

Gostavas de saber tudo o que podes ser...

Gostavas de saber tudo o que podes ser...gostavas de espalhar magias..segredar aos mares

Gostavas de desembocar numa rua onde as feridas da alma se lavassem na textura das luzes

Gostavas de saber que inúteis dias se desprendem dos gestos

Que asas voam em direcção a um mar amorfizado

Que águas se pressentem no tempo das tempestades

Que telas se escondem por detrás das coisas que te transportam

Hoje é o tempo das janelas que se abrem a um tempo de melancolia

Hoje é o dia das luzes incompreendidas..ilusórias...

Há uma variação de tonalidades na noite do pensamento

Há um alicerce que te agarra à terra...uma ferida que se encolhe na febre das paredes

E na fímbria dos olhos há uma alma que se desprende em variações de cores outonais

Que assombros se alimentam da ventania breve que te assola?

Que ilusões te sacodem as tardes e se depositam na febre ancestral dos teus passos?

Nada há fora de ti que não seja ilusão

Nenhuma chuva..nenhuma lama...nenhuma viela ...te pode trazer a tua história

E se souberes perguntar á noite com as palavras certas

Ela vai falar-te de medos..de fel...de brilhos que povoam as vagas

E se sentires que o espaço é um jardim a perder de vista

É porque no teu caminho há uma sede...um vago sentimento de magia

Que vive no humilde assombro de seres uma vida...um mundo..um esforço...

Porque hoje és a soma de todos os teus fantasmas

De todos os teus séculos abertos na superfície ilógica da alma

E de vez em quando..cismas que és vácuo..que és uma veia...ou uma emanação

E então surge em ti a caótica noite das vagas...da espuma...dos muros onde o desespero assoma

Como uma madrugada onde a geada é o consolo da vertigem que te assola...

E onde sabes que a primavera... é o princípio de ti...

 

 

Fujam a sete pés deste tipo de ATM

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 Na semana passada quis fazer uma compra numa loja no algarve, a loja  não tinha pagamento por multibanco, dirigi-me a uma caixa automática( igual à da foto) que ficava do outro lado da rua, e levantei 100€ com o meu cartão de débito/crédito. Hoje recebi o extrato do cartão e qual não foi o meu espanto quando vi que me cobraram 4€ pelo levantamento, mais 3€ porque o meu cartão de crédito foi activado, mais imposto de selo no valor de 0,28 cêntimos. Dirigi-me ao meu banco e explicaram-me que levantar dinheiro nestas caixas é o mesmo que levantar dinheiro no estrangeiro, por isso as comissões são as mesmas...e o mais grave é que a máquina não diz quanto é que vai cobrar pela operação...

O que é a suburbanidade?

Suburbanidade é um conceito que ainda não consegui descortinar, chama-se suburbanos. às pessoas que vivem fora das grandes cidades como Lisboa ou Porto, mas não se apelida da mesma forma as pessoas que vivem na periferia de outras pequenas cidades. Sub quer dizer inferior, ora logo significa que quem vive na periferia é inferior a quem vive na grande cidade. Acho este conceito errado. Chama-se suburbano àquele que tem que apanhar transportes (suburbanos)para se deslocar para o seu local de trabalho, mas e aquele que conduz o próprio carro também é suburbano? Ou é suburbano aquele que vive longe do local de trabalho? Nesse caso porque não chamamos sobreurbanos aos que trabalham perto de casa? Se ser suburbano é viver num caixote de onde se sai de manhã e se entre noite adentro, mas,e nas cidades não acontece o mesmo? E aos que vivem nas cidades suburbanas que têm melhores condições de vida que as grandes cidades ainda lhes chamamos suburbanos? Eu que vivo numa pequena cidade do Ribatejo, tenho vista para o rio, tenho um percurso pedestre de cerca de quatro quilómetros também junto ao rio onde posso praticar desporto e ao mesmo tempo observar entre outros, flamingos, corvos marinhos, águias pesqueiras, garça brancas e reais,alfaiates,etc... que tenho à minha disposição uma quinta onde também posso praticar vários desportos, onde me posso deitar nos relvados, onde existe uma quinta pedagógica para as crianças, onde tenho todos os serviços essenciais, não trocava a minha suburbanidade por um caixote na cidade de Lisboa...só para deixar de ser suburbano...

 

Dentro do esquecimento

 

Dentro do esquecimento vive um murmúrio de lendas finas

E na solidão dos espelhos repousa a eternidade

E porque há um exílio em cada um de nós

E porque há uma terra de prantos..de luares..de negrumes..

Onde dormem pássaros sem asas que debicam côdeas de ruas infelizes...

E as mãos intemporais dos anjos condescendem em cariciar as faces que se desprendem do tempo

Que frios podem doer sob as roupas rasgadas dos olhos que não vêem?

Que ardores podem sentir os segundos apertados num abraço?

Que sentir há nos corpos...nas luzes..

E nas mãos pequenas das crianças que desejam nunca se perderem no caminho dos homens?

Sei que um dia acordarei sob os olhos arregalados do tempo

E que na alba desse dia uma ave sobreviverá dentro de mim

Como um sorriso ou uma casa onde todos podem entrar

E que nos palcos sujos do destino uma visão se desprenderá do tecto rasgado do solstício

Espalhando as cores imortais pelas ruas dos dias em que as lágrimas mancharam a vida

Com uma espécie de sombra que se aloja em todos os recantos...

E que tal como uma magra gazela...explodirei numa orgia de saltos alegres

Até que desaparecer num horizonte onde não existe espaço ...para a tristeza...