A paciência não foi feita para a morte..
A paciência não foi feita para a morte...foi feita para a vida...por isso não há interesse em conhecer a morte...porque há uma proeza em cada um... que enfrenta a Vida...
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A paciência não foi feita para a morte...foi feita para a vida...por isso não há interesse em conhecer a morte...porque há uma proeza em cada um... que enfrenta a Vida...
Descartes afirmou:" penso logo existo"...eu não posso concordar com a frase...se eu estiver num deserto onde ninguém me veja... eu penso, mas...existo para quem? A nossa existência é percecionada pelos outros, se apenas uma pessoa habitasse a Terra, possivelmente nunca saberia da sua existência, uma vez que são os outros que nos transmitem sentimentos e é pelos outros... que temos sentimentos ..eu trocava a frase por :"faço logo existo"...
Dobra-se dentro de mim o cheiro dos dias em que dormias silenciosa
Deixaste os teus passos espalhados pelos recantos complexos do meu pensamento
O teu aroma era a vida...e nos olhos do chão...
Estava a cama onde desafogávamos as fragilidades do corpo
Ainda há um odor a vaguear pelas frinchas da casa
Ainda há uma caleira que pinga saudades de um tempo que não espera por nós
Na rua ainda sinto um rumor a falta de ti..como se o ar estivesse empestado pela tua ausência
E na fragilidade do espaço da minha memória...
O teu corpo adormecesse na flor que enfeitava a verdade que não existia
Sei...que em todo o lado estava o teu olhar
Sei...que as mais belas cores vagueavam pela tonalidade lenta das minhas mãos
Sei que estavas onde os meus braços estavam
E agora...visito a tua presença dentro de um caderno feito de espaços
Visito a tua vida nas lacunas brancas de onde nunca saíste
No futuro serei a incoerente memória de uma aventura sem limites
Serei a tese matemática da imperfeição de um tempo insalubre
Como se houvesse um desequilíbrio nas personagens que fomos
E que agora amontoamos ao canto do esquecimento
Como roupa despida por mãos invisíveis..e parcas...
Contemplo a intacta extensão da luz branca do néon
Escorro pela misteriosa porta onde o anoitecer me espera
No fundo de mim mora o segredo das horas vazias
No fundo de mim vive a chuva anestesiada pelo contínuo vaivém das paredes nuas
E há um escuro..um sonho...uma revelação que se ergue do anoitecer
Nuvens de estrelas pejam a madrugada...
Aderem aos corpos exaustos pela fuligem das marés
Buscam no ritmar dos dedos a seda da pele...chove nas saliências das portas de aço
Há um sonho de pessoas espessas a brincar na madrugada
Crianças anoitecem no escuro da avenidas...
A luz branca enche-lhes os dedos com sonhos
Mulheres brilham no embaciado dos olhos...as salas esvaziam-se...lentamente...
E no fundo dos copos...há um rasto de secura...
Por vezes aconchegam-se a mim
Memórias esculpidas em imagens que segredam outros risos
Memórias suspensas na revelação nocturna dos olhares
Peso e leveza misturam-se num bandeja cristalina
E dentro dessa bandeja habita o zénite ferido do esquecimento
Iria contigo se me pedisses...seria a eterna sombra das cidades onde habitas
Corpo suspenso...escuridão de papel...ferida imobilizada num desenho vivo
Carne incendiada por travessias de catástrofes...ternura muda...
Abandonada na esquina de uma pirâmide artificial
Sei onde guardas as feridas..sei que visões hostis se fixam na tua retina
Contemplo esse acordar para a procura de outro corpo...
De outros ossos fixos noutra pele... onde possas ser nua e terna...
Mas a luz embaciada pela névoa da solidão...levanta-se na penumbra dos umbrais
Ergue-se da mentira das ruas...como segredos intactos de um tempo de avalanches
Que te sustêm na existência sombria dos sentidos...
E que germinam em ti como a ambrósia do divino...
Escondi as horas dentro de um mundo que desconhecia
Percorri lábios e noites que depois abandonei na estrada carregada de castigos
Segui pelas ruas...caminhei de ponta a ponta pelas palavras que teimavam em calar-me
Mas não percebia que verdades habitavam por dentro das verdades
Que sombras se encolhiam num abraço que abarcava todos os crepúsculos
Que poemas se escondiam nos dias religiosamente passados a vaguear pelos teus lugares secretos
Apenas sei...que me vi... perante o absoluto pasmo dos céus...
Tantos dias e tantos frios....aconchegados na lapela branda do cansaço
Tantas palavras ditas por acaso na mesa onde os lábios se perderam
Horas passadas a falar na inutilidade das coisas...a esquecer as coisas
Como se dizer olá fosse uma bofetada na face envergonhada da noite
Sorrir...e depois lentamente esconder-se por dentro dos olhos
Correr toda a tarde e toda a noite por cima das lágrimas que lá estavam...mas não se viam
Depois..era querer tudo como se fosse uma vingança...ou uma prece
Não há nada a fazer..todas as palavras se fecham por dentro dos minutos
Há um ferrolho a antecipar a noite..a dizer quero..a dizer não posso..a calar a alma
Como se fosse um castigo esparramado no chão inútil do desejo
As pessoas passam na nossa vida como se não fizessem ruído
Como se fossem pequenos pregos pontiagudos...alguns deixam uma marca deslavada
Mas entre perceber que havia um e havia outro..e que havia um dentro dos dois
E que os dois só ali estavam para ser um...passou um século..as luzes finaram-se...
E não chegaram a dar as mãos...
O Homem é aquilo que se esforça por atingir
É o amor e a amizade que tiram o Homem do isolamento do mundo
A cobiça não se quer a si própria, quer o mundo, e possuindo-o, quer ser ela própria o mundo.
O presente não é mais que o desejo do futuro
Como o actor depende do palco, dos outros actores e dos espectadores, todas as coisas vivas dependem de um mundo que aparece como o local da sua própria aparição, de outras criaturas e de espectadores que confirmem e reconheçam a sua existência.
Também nós somos aparências, em virtude de chegarmos e partirmos, de aparecermos e desaparecermos; e embora venhamos de parte nenhuma, chegamos para tomar parte no jogo do mundo.
Nota: uns pensamentos são inspirados em Hannah Arendt outros são textos retirados de livros seus.
Descobri no meu baú esta foto datada de 1950. A história desta fotografia é a de representar um tempo em que não existia a banalização da imagem. Anualmente realizava-se uma feira lá na terra, e nessa feira havia sempre um estúdio( barraca) onde se faziam fotografias, neste caso vemos o cavalinho para o menino que pôs o lacinho para a foto, e por detrás uma espécie de coluna romana desenhada num pano (torta), no chão podemos apreciar o lixo que serve para quebrar a monotonia da foto....
Esquadrinho a penumbra dos meus passos...
Vejo as marcas de alguém que pisou o meu passar
E por entre o infinito dos meus dedos...
Foscos xistos dizem-me coisas incapazes de pensar
Porque falam comigo as vozes das arestas?
Porque me fitam as paredes lisas..de cal
Onde está esse jardim da madrugada...
Em que perdi a minha imagem vertical?
À esparsa luz das teias invisíveis...cobrem-se gestos..despem-se máscaras
Os olhos brilham no fundo oculto dos sentidos
Tilintam ambições na voz quebrada dos poetas
Descem suores de sol pela pele dos poetas
E o mundo ri-se das flores...desertas
Que crescem nos atalhos brancos do pensamento
Onde o lápis é o cajado das palavras
Que podem florescer numa jarra de papel
Dentro de um difuso espelho vejo espraiar mares
Que acordam agora a minha voz...
Imolada numa rua de cordel...