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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

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Poesia e outras palavras.

Como prevenir a seca?

maio-teria-de-ser-extremamente-chuvoso-mas-nao-o-s

 

Temos o país em seca severa. Sabemos que não mandamos no tempo, mas é dever de quem governa prevenir. Prevenir não quer dizer que agora temos que poupar água. Prevenir quer dizer que temos ao nosso dispôr várias hipóteses de garantir que ela não nos falta. Na Arábia Saudita os jardins são regados com água dos despejos sanitários, depois de reciclada é claro. Em Londres faz-se a mesma coisa recicla-se a água.Por último temos o exemplo de Espanha que já construiu cerca de 700 centrais de dessalinização da água do mar. A seca não é uma coisa que agora nos caiu do céu, os avisos são mais que muitos, e nós com tanto mar. com tanta água, só precisamos de alguém que (não seja à semelhança do Alqueva que demorou décadas até ser tomada uma decisão), tenha uma visão de futuro para o problema da água, porque já sabemos que os tempos vindouros não serão de fartura, mas de seca.

 

Do centro de ti saiu um mundo...

Em ti se acende a nostalgia das violetas

Em ti se desfazem olhares de grutas sagradas

Em ti se escrevem poemas...se entrelaçam pequenos gestos de pedra

Tu que ergueste navios a pulso..que domaste a eternidade...

Que decifraste o nome da ausência

Ao longo de ti choram as tempestades...finas tempestades de amor dorido

Na tua mão ergues a harmonia do cosmos

Do teu desapego saltam chispas de egrégios segredos

Quebraste a porta que dá para límpida cegueira

Pegaste no fruto das sombras e abriste os olhos ao instinto

Descobriste no azul...a brisa...e os caminhos que se abriram foram risos secretos

Ao meio-dia estavas na orla das palavras soletradas por conchas

A tarde assombrou-te com o eco do sal sobre a transparência das algas

E a noite foi a hora da dança solene..sagrada...

Do centro de ti saiu um mundo...do meio-dia saíram cavalos alados

Da obstinação das montanhas desceram vidas extasiadas

Enquanto os flancos da chuva bebiam o teu clamor de águia ferida...

 

 

No perfume imutável do silêncio...

Na urgência de mim sinto o meu corpo rodopiar

Fecho os olhos..entrego-me ao silêncio

E sinto que posso recolher em mim todos os passos circulares do tempo

Em frente..mesmo em frente...vivem anónimas flores cobertas de piedade

Viver..fingir...ausentar-me...assim construo a minha transparência

Assim emerjo límpido e altivo de todos os pensamentos

Assim me torno um mundo solene..

Sou o deus oculto que vive na margem de mim

Lá fora..na sombra extasiada do mar...na penumbra fictícia das estradas

No destino perdido das monções...

Lá fora...perduro...como um inflexível pássaro que debica os dias

Lá fora... pendurado num distante quadro de Munch..está o meu grito

Está a minha ânsia de ruína assombrosa...cáustica..nuclear...

Uma ruína de deus impuro..descalço de si...que dança na sombra de Eros

Que conduz as suas feras de espanto pelas estradas povoadas de sussurros

Onde os meus olhos abarcam toda a frescura dos labirintos que me espreitam

No perfume imutável do silêncio...

 

Começar pelos teus olhos..

 

Começar pelos teus olhos...extinguir-me em ti

Entreabrir a porta do teu amor..espreitar a sombra anilada do coração

Abraçar-te..pintar os teus ais com cores de sufoco

Mas aquilo que sabia...já não sei...

Porque aquilo que eu pensava que sabia...

Era apenas a vidraça da mágoa a encobrir os meus olhos

Era o sol que brilhava na névoa das minhas queixas

Era o debicar do mar aguçado pelo vento

Era um sonho sonolento e fugaz...uma despedida de domingo

Deambulo pelos tons cinzentos...cinjo a minha face à urgência de ser nada

Soltar a alma...descansar o corpo...partir e voltar dentro de mim

Sentir a sonoridade de uma emoção...um fogo urgente a crescer pelo vento

Olhar a profundidade de um céu recortado por silêncios

Dizer que a vida desce pelas colinas exaustas

É demais..a vida...são tantas as despedidas..e tantas as searas

Na pedra onde me sento..coberta de líquenes doirados..há um rio

Há uma voz de sangue a conspirar dentro de um imenso sonho

Desfolho emoções...bebo o estalido dos meus passos na erva rasteira

E depois vejo a sala...o sofá...a vida sentada na televisão

E o mar a esperar pela geada...a cobrir as margens com a alegria sonora das gaivotas

Abro a janela...o relento entra em mim...entranha-se na côr branca das paredes

Fala-me do cerne das águas que correm sem nunca encher os rios

Fala-me do silêncio das ramadas ao sol...felizes...bruscas..plenas de idade

E há também a aurora...essa conquista da luz e do segredo

Esse prometimento de um novo dia...esse palácio por onde escorrem flores vermelhas

E há manhãs de escombros..súbitos desabares de cidra...cavalgadas de rubros archotes

E há uns dedos finos...descansando numa pele de ninfa..desvanecida...

 

 

Qualquer vida vai em direcção à morte

"Qualquer vida vai em direcção à morte, a morte é o fim da vida: será isto uma razão válida para morrer o mais rapidamente possível, ou seja, para se suicidar? O facto da morte ser o fim da vida, o seu rumo, nada nos diz sobre o valor da vida, nem sobre o valor da morte." Este pensamento de Edgar Morin leva-nos para outro campo, que é o da angústia perante o mistério que é a Vida.Uma vida que segue sempre em frente, nada do que é volta a ser, portanto nada do que vivemos voltaremos a viver,perante isto só o eterno é razoável, porque só o eterno dará sentido à vida, mas viver acreditando na a eternidade faz parte do mistério, assim como não acreditar também é parte da vida, no entanto quer o homem acredite ou não na eternidade, isso em nada vai alterar o valor da vida, nem o da morte. O  Homem não sabe o que é o presente,não sabe para que serve essa labuta diária,aquele presente que é a vida minuto a minuto, segundo a segundo, um presente que não nos deixa antever o futuro, porque isso significava perder toda a beleza do inesperado.Nistzche disse que deus morreu, mas Deus morreu para quem? Se há um deus ele é imortal, se não há, também existe imortalidade naquilo que não existe,porque aquilo que não existe acaba sempre por existir dentro da cada um.Sem deus ou com deus, é ao homem que compete zelar por si, pela sua vida e pela sua morte, porque o que na verdade existe é o absoluto vazio das coisas que nos cercam.

 

A vida é feita de coisas que não vemos,

É no mundo do espírito que o homem inventa o seu real, embora todo o real parta das vivências de cada um. A partir do momento em que são vividas o homem recria-as no subconsciente. No mundo do espírito o que está perto fica longe e o que está longe fica perto, é essa a maravilha do pensamento. No nosso espírito podemos sempre reviver as emoções, as paisagens, as pessoas e até os sentimentos que nos influenciaram como se fosse a primeira vez que o sentimos. Também aquilo que nos deixou marcas desagradáveis pode surgir no nosso pensamento, não como uma coisa que nos magoou mas como uma defesa para que nos lembremos do que nos aconteceu. A esse armazém de sentimentos chamamos memória,e nessa memória cabe tudo, lá está o que fazemos de bem e de mal, o que nos fazem bem e mal, a memória é a terra das coisas invisíveis que se tornam visíveis sempre que as recordamos, é como uma tela que precisa de ser colocada na transparência da nossa luz interior para que possa ganhar vida. Sabemos que a alma vive dentro do nosso corpo, embora possa pensar por si, independentemente da nossa vontade.Quantas vezes queremos esquecer, ou não pensar em algo e não conseguimos? Quantas vezes somos dominados por essa força do espírito que não nos deixa dormir? É essa força independente de nós, que vive em nós, que se transporta em nós, que nos faz sentir que a vida é feita de pensamentos, que a vida é feita de coisas que não vemos, ou que vemos muito fugazmente, que a vida sem pensamentos seria uma coisa animalesca.

 

Estou na estrada concisa da manhã...

 

Estou na estrada concisa da manhã...

No enigma das conchas..nos vastos desertos

Na latente voz das penumbras..na imobilidade dos céus

Na secreta rua dos espelhos..no arquipélago desconhecido

Num país onde a aragem é uma carícia bravia..estranho país de máculas ancestrais

Onde estranhos deuses murmuram nomes de grécias em decomposição

Aqui desperto..como um límpido astro...

Vertical e puro.

 

 

E digo desperta...

 

Há um fogo que transporto em camadas sobrepostas

Há um vulcão cauteloso a espreitar por dentro da loucura

E digo desperta...inventa...despe-te

E digo saca do alfange...ri...busca a ilha das gaivotas

E olho para dentro de um azulejo azul onde brilha o tempo das conquistas

E digo acorda...inventa invernos...busca montanhas...imagina barcos

E digo salta...respira vagas e brisas...cintila na sombra das paredes

E digo cavalga as ondas...claras ondas que se recortam na força do luar

E digo vastidão de alamedas...e falo de manhãs lisas e quietas

E adormeço...na impermanência da eternidade.

 

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