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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

"Os homens não precisam de nada e nenhuma das coisas lhes pode servir para nada."

"Os homens não precisam de nada e nenhuma das coisas lhes pode servir para nada."

Aristóteles afirmava isto porque achava que a grande obra que o  homem deveria realizar na vida era pensar, o resto não era necessário.Até certo ponto Aristóteles tinha razão, de facto nenhuma das coisas que pensamos que nos são necessárias, o é, podemos prescindir de tudo, assim queiramos viver como os ascetas. Por vezes pensamos que ser rico é ser livre, mas só é livre aquele que dispõe totalmente do seu tempo.

 

E somos doces...

Quando as margens se riem com o nascimento da luz

Quando o grande mar desagua num grito de júbilo

E o silêncio traça um circulo de sussurros desamparados

A face nua da seiva aparece dentro de uma serena manhã

O nosso corpo é a unidade de pensamento e alma

É a obstinação da pedra a guiar o sol para os confins de nós

É a águia que voa sobre o clamor da paisagem

É o seio da noite a atrair os corpos para o tempo de Kronos

E damos passos em falso..e habitamos casas escuras

E somos folhagem e sangue de luzes

E somos doces...como raios de vida cortando a noite...

 

Ler a nossa vida...

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Ler é uma das melhores coisas de que podemos disfrutar na vida. Com a leitura aprendemos, alargamos universos, vivemos...mas o melhor livro que podemos ler é o da nossa própria vida, esse é o livro que todos nós escrevemos diariamente, esse é o livro onde a personagem principal somos nós e sem a qual nenhuma história poderá ser escrita.

 

Desconstrução

O mundo continua ali..apodrecido na solidão dos corpos

Espesso mundo feito de alegóricas máscaras...

Como um imanente vendedor de dias tirados a ferros

Cheiro amargo... respiração de animal retesado exalando fumo de cannabis

Nem a beleza da ignorada noite...nem a fecundidade pródiga dos Deuses

Nem a sombra fingida das palavras

Que caem das manhãs como frutos incandescentes

Nos dizem que somos a desconstrução do espaço

Que somos o sussurro destroçado da angústia

Que somos a caminhada no jardim asfaltado das fotos inquietas

Que somos a praça nostálgica onde vendemos sorrisos de lata

Que dentro do nosso triângulo de rostos felizes...se desenham ruas e lugares

Rusgas de olhos côr-de-violeta a desdobrarem-se pelas escadas longas do azul

E os rostos...sentados nos bancos de pedra lisa e fria...

A quebrarem-se de encontro ao nosso corpo...a soletrar obscenidades

De braços caídos a mostrarem-nos graffitis de nojo e pó

A ensaiarem passos de uma dança esquizofrénica...

Como ressurreições de Cristos desatentos aos pulsos da vida

E as ausências dos oráculos...e os deuses a bailar por dentro das tempestades

Limpidez e espanto..solene aspereza da brisa...fogo encantado

Rio que caminha por dentro de uma floresta nostálgica

Bebes o secreto descanso da alma..alameda de instintos sombrios

Anel de bosque entrelaçado em ti...e sempre as veias assombradas a pedir mais

Mais de ti..mais de mim...a surgir na secreta brisa dos teus lábios.

A tactear a desordem natural dos espelhos

Até que adormeces... na orla encantada do dia.

 

 

 

 

 

Musicofilia

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Há uma doença chamada Musicofilia. Essa doença do foro neurológico faz com que as pessoas que dela sofrem, oiçam continuamente tilintares, sinfonias,ecos,alucinações musicais. Estes sons que estão sempre a escutar não se parecem com aquilo que nos acontece, que é repetir continuamente uma música ou canção que nos ficou na memória, este é um tipo diferente de música, são trechos de cerca de vinte segundos que se repetem interminavelmente,e é também música nova, de tal forma isto é opressivo que algumas destas pessoas para se "livrarem" da música que escutam, tornam-se compositores.Oliver Sacks, escritor e médico neurologista americano, diz que isto é assustador, é como se o som estivesse nos mesmo espaço, por cima dos ombros deles, ali a pairar.

 

Com a idade o corpo cansa-se de tudo, até da vida.

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Pensamos que a morte é algo de tenebroso, mas a morte é apenas a renovação da vida. Sem morte não haveria vida.É a morte que dá sentido à vida.Se fôssemos eternos, chegaria o dia em que desejaríamos a morte. Uma vida eterna não faz sentido, seria um aborrecimento completo, é por isso que devemos aproveitar o melhor possível os dias em que cá andamos, já que como dizia Miguel Torga: " com a idade o corpo cansa-se de tudo, até da vida".

 

 

 

Tempo de luto...

Tempo de luto...filme de nada...tempo insensível

Âncora fechada ao sonho ...esguia luz..quadrado infinito

Cárcere extasiado..anel de Nibelungo..anatomia do silêncio

Arquipélago de sombras...manhã submissa...rumor de Deuses fumegantes

No destino das flores mastigamos a raiz do mar

Divina pedra a filosofar transparências de angústia

Ambíguo passado..ossos murmurantes..ilha e rocha

Vinho imanente..embriaguês de fel e nudez

Precipício doirado onde tombam os nossos terrores

Secreto caminho interior...porta primordial

Por dentro sangue...por fora nada..por dentro alma..por fora lama

Ausência de rio lavado em esperança

Incorruptível amostra de barro..tijolo e caos

Onde a insinuante crina do tempo nos fecha...

À chave...

 

Minguei num tempo de fogo..

 

Já não sou a caneta que te escrevia nos meandros da noite

Já não sou o fruto comestível que assolava o teu corpo

Minguei num tempo de fogo...ignorado e devorador

Como uma sombra enterrada no orvalho da memória

Mas trago ainda comigo os sons das algas e das mariposas

Ainda sinto o ardor da tua fotografia a planar na maresia das tardes

Dentro de mim ainda adormece o teu cheiro de estonteante verdura

Ainda sou o marinheiro que vence o desvairio dos teus mares

Da minha máscara ainda escorre a tinta húmida da saudade

Ainda devoro o tempo em nos deitávamos na beleza do orvalho

Hoje...imobilizo a minha memória no recanto vazio das fotografias

Hoje...o meu tempo é áspero...o meu dia é uma catedral vazia de fé...

Em ti...