O mundo continua ali..apodrecido na solidão dos corpos
Espesso mundo feito de alegóricas máscaras...
Como um imanente vendedor de dias tirados a ferros
Cheiro amargo... respiração de animal retesado exalando fumo de cannabis
Nem a beleza da ignorada noite...nem a fecundidade pródiga dos Deuses
Nem a sombra fingida das palavras
Que caem das manhãs como frutos incandescentes
Nos dizem que somos a desconstrução do espaço
Que somos o sussurro destroçado da angústia
Que somos a caminhada no jardim asfaltado das fotos inquietas
Que somos a praça nostálgica onde vendemos sorrisos de lata
Que dentro do nosso triângulo de rostos felizes...se desenham ruas e lugares
Rusgas de olhos côr-de-violeta a desdobrarem-se pelas escadas longas do azul
E os rostos...sentados nos bancos de pedra lisa e fria...
A quebrarem-se de encontro ao nosso corpo...a soletrar obscenidades
De braços caídos a mostrarem-nos graffitis de nojo e pó
A ensaiarem passos de uma dança esquizofrénica...
Como ressurreições de Cristos desatentos aos pulsos da vida
E as ausências dos oráculos...e os deuses a bailar por dentro das tempestades
Limpidez e espanto..solene aspereza da brisa...fogo encantado
Rio que caminha por dentro de uma floresta nostálgica
Bebes o secreto descanso da alma..alameda de instintos sombrios
Anel de bosque entrelaçado em ti...e sempre as veias assombradas a pedir mais
Mais de ti..mais de mim...a surgir na secreta brisa dos teus lábios.
A tactear a desordem natural dos espelhos
Até que adormeces... na orla encantada do dia.