Vivo como um solstício indestrutível
Como um silêncio aberto nas fendas da vida
Como uma pele cansada que crepita num corpo de noite incauta
Que farei dos meus sonos se um rio se interpuser entre nós
Que farei da oscilação metálica da minha alma...
Se uma corda me atar aos espinhos
Sei que um dia..passarei pela boca lívida dos precipícios
Sei que um dia..subirei a essa cratera onde incubam beijos e pássaros
Respiro..ausento o olhar....penso ...
E se os passeios se esvaziarem de pessoas
E se os risos se esconderem em catacumbas de infinito
E se os leitos dos rios estreitarem na foz aguda das algas
Que farei? que farei?
Que farei quando formos contágios de cabelos e braços entrelaçados
Quando agudas plumas nos enfeitarem as marés
Quando o sisal erótico for tecido por lábios de seda
Que farei...quando os alfanjes cortarem o apocalipse
Quando as palavras se estenderem pelo estrangulamento das esquinas
Quando um voz for um simples acenar
Quando um cansaço for um exótico plural de sentimentos
E quando os astros se despedaçarem em folhas de névoa cristalina
Que farei...quando as flores se fecharem ao calor dos beijos
Quando a terra celebrar a secura das faldas
Quando a alma surgir dentro de uma aurora vitoriosa
Que farei...quando fechar a porta...
E partir...