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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Histórias como já não há...

 

Quando era miúdo costumava ir passar uns dias a casa da minha avó que vivia numa aldeia alentejana. Nessa aldeia havia duas mercearias a da Maria e a do "marreco"...porque como é óbvio o dono era marreco...coitado. Nesse tempo as mercearias vendiam um pouco de tudo, até vendiam comprimidos para a dor de cabeça. Um dia ia eu com a minha avó à mercearia e vem uma vizinha que lhe pede para lhe trazer uns comprimidos Melhoral porque lhe doía a cabeça, mas...diz a mulher - se não se importa traga-me da Maria, que eu não gosto dos do marreco...

 

Digam-me...que estou aqui...

 

Caminho pela lenta tempestade da rua...sinto uma fome impiedosa pelas coisas oníricas

Vagueio pelo vento como uma órbita macia...abro-me às folhas que cobrem os meus estilhaços

Deito-me no espaço que resta da minha alegria...como um silêncio sentado nos umbrais das trevas

Do chão ergue-se o último canto das árvores... em mim enrosca-se a quietude da névoa

Carrego a minha inércia como se me sentasse em todas as anémonas que se derretem no sono

Sou o eclipse que ondula pela vastidão das ruas...como um vento sem destino

Caibo em todos os momentos puros...em todos os países onde a chuva cresce na face dos homens

Areia emancipada...flor de lar longínquo..efémero despertar de astro extinto

Digam-me que o tempo não tem idade...que o perfume se desprende das areias

Digam-me...que estou aqui...

 

Tudo é grande...

 

Ainda sinto o eco congestionado da rigidez do mar

Toco-te com lábios ambíguos...como frutos espalhados pelo apócrifo  setembro

Tudo é grande...resta-me apenas uma aurora que sobe pela minha saturação das coisas

Uma aurora que me arranha como uma idade de corpo ao relento

Caminho pelos frágeis dias..como se me desdobrasse em milhentas faces

Crestadas por implacáveis respirares de corpo amarrotado

Sobre mim adejam aves...rostos...murmúrios de campos vindimados

O sono chicoteia as manhãs...o fumo é uma lírica serpente a elevar-se na atmosfera cinza

Dormi demais...resta-me o mundo..as colinas..as coisas infinitamente distantes

Vergo os dias como a força retesada dos sonhos...respiro sobre o fim da tarde

O mundo é um céu humedecido...um mar de corpos congestionados...uma falésia

Defendo-me da lucidez da manhã...como uma floresta sem arestas e sem mitos impossíveis

Resistir ao longo da casca do vento...pisar a frescura de um templo sem horário

Só me falta mesmo..ser o lençol branco que tapa as horas...

O carvalho ofuscado pela ventania rasante do suão

O dia é um poema frondoso...cabelos ao vento...águas de abril....fome de corpo

E quando a névoa se espalha pelas agulhas dos castanheiros

Abre-se um espaço em flor..um destino de estrelas...uma fome de estevas

Abre-se o chão...e os meus pés calcam o silêncio...

 

 

Energia suja

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O que me faz admirar e ao mesmo tempo detestar a política é a forma hipócrita como os partidos tomam posição relativamente a determinados assuntos. Vem a propósito o caso da energia eólica que opôs o Bloco ao PS. Conhecemos o poder da EDP para manipular e fazer pressão sobre os governos. Temos assistido ao espectáculo que a oposição ao governo faz relativamente aos fogos, ou às armas de Tancos, tudo serve para atacar e denegrir, mas tudo bem é o papel da oposição, mas já não se compreende o seu silêncio de chumbo em relação a uma matéria tão importante como é a das renováveis, ou por outro lado, sabemos, porque a EDP está minada pelos boys do PSD, daí que não se ouça uma voz a falar da falta de palavra do PS, aliás PSD e CDS sempre tão afoitos em votar contra as propostas do governo, veja-se o caso das batatas fritas,( batatas fritas, até dá vontade de rir), que votaram ao lado do PCP para chumbar a proposta de lei. Agora nesta proposta não, caladinhos que nem ratos, eles que até podiam aprovar a lei, bastava que se colocassem ao lado do PCP e do Bloco, só que iam lesar os compatriotas que esmifram os consumidores de electricidade. Agora também dizem que por causa desta proposta do Bloco já foram retirados projectos na área da renováveis no valor de 400 milhões de euros, certamente seriam projectos que iriam sacar ainda mais dinheiro aos clientes das eléctricas, projectos desses não precisamos, o que nos faz falta é um projeto que limpe de interesses o sector da energia.

 

És e... pronto

 

Vida...vela a despenhar-se pelo perfume dos sonhos

Sono de braços abertos à aurora dos dias

Árvore...cabeça...céu...mar

O sol distrai-se no tempo húmido dos orvalhos

Húmus de pássaro a triturar o cansaço dos dias

Ninho de madrugada cintilante...

Lábios de anzol a absorver a languidez do corpo

Pressentimento de algar despótico...portal insolente...

Seco como o naufrágio da alma...

Refúgio de mãos distraídas

No embaciar dos olhos...o sol domina o vastíssimo choro da terra

Ninho de estradas...vindima de luar...tantas vezes revolto

Tantas vezes me assomei ao espaço...

Que a neblina me cobriu de beijos

Quando a insolência sólida das casas se espelhou na sombra das ruas

E o tempo a evaporar-se como alguém que chega do vento... sem rosto

Halo de música...flor de futuro..os olhos crepitam na ausência de ti

Na passada rápida das aves..despontas...tens um nome...

Uma rua onde podes ser puro...

Uma rua escancarada ao burburinho cúmplice do chão

Tudo é simples na reinvenção de ti...

Tudo é pesado na complicação das lágrimas

Poisas sobre a espuma férrea...como um crepúsculo matinal

És e... pronto..estás e... silêncio

Dormes sobre a pedra tumular dos poemas...

Intimidado pelo afogar das palavras...enfeitas a complicada maresia...inútil

Inútil como as festas de outono...como as pálpebras que deslizam pela face

Inútil como uma notícia que não chega...desfolhada de milho e joio

Intenso verde a devassar as águas que se deitam em ti

Canal por onde escorre o perecer dos sonhos...

Invisível arco solar sem referência...sem orientação..sem profundidade

Na fogueira misteriosa queimas a carne de pedra...sangue adensado...copa de magia

Eterna harmonia...das festas de junho...vida...desfasada.

 

A nu

Às vezes despimo-nos das coisas...inventamos dias de sol...como cobardes e selvagens sombras

Às vezes despimo-nos das pessoas...inventamos guerras....como fantásticos assassinos do amor

Na impossibilidade de sermos o que não somos...inventamos pessoas...que possam viver em nós

Encostamos a nossa pele à aragem..beliscamos orgasmos extravagantes....fazemos promessas

Lentamente percebemos a nossa incapacidade de perceber a existência...então vomitamos sobre nós

Fazemos figas...somos medíocres como se nada nos tivesse acontecido...escondemo-nos porque não nos percebemos.

Esbarramos no mundo de Sarte...somos responsáveis por nós..somos seres habitando fábulas...somos a nossa fábula.

Impacientes...infelizes...felizes...toscos barrotes empilhados nas casas frias...somos a explicação do falhanço de Deus.

Mas nada nos explica...nem os filósofos gregos nem quaisquer outros...somos todos mudança...passagem....infinito...

 

 

Coisas de dezembro

 

E pronto...estamos quase em dezembro.Adoro esta época porque é um tempo em que sinto que gostam de mim, sinto-me acarinhado, amado, sinto mesmo um travozinho na garganta com tanta atenção que me é prestada.É uma época em que no meu telemóvel não param de cair mensagens de pessoas que eu nem conheço,É fantástico saber que há tanta gente a pensar em mim....só ainda não percebi qual é a razão porque todos me querem impingir qualquer coisa, de perfumes a carros, passando por telemóveis e até  planos de férias,os meus amigos se lembram de me lembrar(passe o pleonasmo) que estão ali para mim, disponíveis para me enfiar qualquer coisa em casa,desde que a minha carteira seja como a do Toni Carreira, aberta a ajudar os mais desfavorecidos, a diferença é que eu não me quero livrar de nenhum tribunal senão... "faria-o"! ( atenção estou a plagiar o Toni).

 

Farol

 

Levanto-me..dói-me a aceitação do dia

Sou um farol na ponta de um paredão dormente

Há sempre um outro a escorrer de mim

A alastrar como rugas na minha pele seca

Ou como uma mancha perdida que rasga o quadrante da minha sombra

Ocasionalmente ocorre-me uma afasia de espanto

Como uma chuva do acaso..sinto cheiros...cores

Coisas simples que me assolam como restos de tempo

Iluminado pelo clarear do assombro

Sobre a mesa tenho fotos inchadas pela lenta resistência das vidraças...

Quebradiças como olhares que preguiçam no leme dos dias

Olho a insensatez desses dias...está tudo ali

Como um desejo impiedoso...gravado na carne extinta da luz

Por fora pessoa...

Por dentro irrealidade e espanto afogados numa letargia de sonho

Salpicos de dias..desgrenhar de vozes

Marés abertas aos rochedos do frio

Abrigo de gelo onde nada acontece

E onde o vento passa...

Roçando-se pela respiração da minha alma...

Que se solta num silêncio de véu encoberto...

Pelo imprevisível corredor dos dias...

 

 

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