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folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

Esfinge

Roça por mim o arrebatamento de um dia que me divide

É tarde..demasiado tarde para desistir do tédio

Na densidade das coisas sinto o respirar do coração

Como uma janela que se fecha sobre si

Espero o vão despertar das aves...ociosas

Convidando-me a rir como se habitasse um quarto sufocante

Antes que do fundo da noite a realidade se erga

Antes mesmo que o vazio gele nas gotas do orvalho

Fecho os olhos à humidade gasta da solidão

E entro nos dias...pé ante pé...

Como se habitasse a fímbria de uma frígida fresta

Aberta numa lonjura de esfinge

Que acorda na minha constelação de noites...

Nebulosas....

 

Inesperada margem

Hoje esqueci-me de quem fui ontem

O que fui ontem desmoronou-se no cascalho do tempo

Hoje sou o pião que gira em torno de mim

Um pião sem tempo que caminha pela insípida madrugada

Como luz que adivinha o recomeço dos dias

Estéril oscilação de catedral no lusco-fusco do inverno

Fraca consumição de lago florido

Onde me precipito num incêndio de nenúfar

Esquecido... do bafio dissimulado das vozes

Como penumbra de água em suspensão

Ou como um rosto que se dissimula pelos recantos dos dias

Inesperada margem indiferente aos derradeiros raios de sol

Regaço de pedra cercada pelo desvario das sombras

Que vivem na procura das palavras que açoitam o suave movimento do futuro

Como fontes ancestrais brotando pelos olhos cinzentos das aves

Que comem... debaixo de um céu de fogo...

A minha escuridão..

 

verdura

Na véspera de mim solta-se um grito

Do fundo da minha idade ergue-se uma poeira de flores

Penso em todas as coisas que perdi

Como um mar atirado ao vento

Desabo sobre a verdura do mundo

E o meu rosto fecha-se...nos areais do silêncio

 

Peixe-voador

Sentei-me na praia como se me sentasse no espaço que me separa do mundo

Fixei a minha sombra na areia lisa de sol

Deambulei pela linha pesada do horizonte

Encolhi os olhos à claridade salgada da luz

Adormeci na espuma oblíqua das ondas

Senti a alma a embater de encontro à luz

O mar respirava...

Extinguia-se na praia do meu silêncio

Silêncio de rochedo tatuado na areia

Dos meus olhos saía a obscuridade baça das algas

Eu era...um peixe-voador...

A cavalgar a imobilidade da lua...

Que nascera dentro de mim.

 

 

Vida

Pegamos na vida com pinças, viramo-la para cima, para baixo, para os lados, olhamos o alto e pensamos...como é difícil falar da vida...ao mesmo tempo sabemos que é absurdo falar na vida, pensar na vida, saber o que queremos da vida. A vida representa-se por ela própria, vive-se e pronto, que queremos mais? Porque queremos sempre saber mais e mais e mais? Onde encontrar o ponto de cruz que nos ata à vida? Onde está essa utopia criada por nós, e que serve apenas para nos mortificar?Para que serve?Qual a diferença entre os que pensam e os que não pensam na vida? Não há!!! Todos somos os dedos que seguram a pinça com que perscrutamos a vida. Todos somos o silêncio que se oculta nas margens da vida,mas todos habitamos dentro das coisas que fazem de nós ...vida.

 

 

Cores

O que me impede de chegar ao fundo de mim?

De fechar os olhos e ver os pensamentos

O mar está só... a luz está só...

Todas as manhãs damos mais um passo para dentro de nós

Um dia acordaremos enterrados em novembro

Como se nos faltasse a emoção da despedida

Há o peso de um desejo a alastrar pela sofreguidão da tarde

Um peso impossível de tocar com o coração

Mas na consumação das minhas pálpebras...

Brilham as cores...

De um choro queimado pela lentidão do céu...

 

Naufrago

Dói-me esta chuva que me cai nos olhos alagados de sal

Esta chuva que sobe por mim

Que me sulca como se ouvisse os choros do meu silêncio

Que faz erguer o aroma da terra carregada de jasmim

Que me salpica com laivos de ondulação ferida pela aragem

Abro o meu peito às estrelas que desfalecem na luz terna do infinito

De mim sobra apenas o desdém pelas cores rosadas do riso fácil

Erupções de sol perdido...

Neve de penumbra que queima os pressentimentos da alma

Como um golpe desconexo que brilha na dessintonia submersa das despedidas

Poço de mistério...inútil mudez..insignificância de naufrago

Baixo os olhos..talvez um dia acorde...

 

Os Smartwatch`s foram proibidos na Alemanha

samsung-gear-s.jpg

 (foto tirada da net)

Devido a vários casos de espionagem, na Alemanha, as crianças foram proibidas de usar smartwatch`s, é que os relógios permitem que os pais saibam ao momento onde elas estão, ( o que não é mau), mas o problema é que os paizinhos queriam ouvir as conversas dos filhos, na aula, no recreio, com os amigos, enfim queriam ter um controle sobre os filhos.Imaginemos alguém a ser controlado a toda a hora em todas as situações nem Orwell nos seus piores pesadelos imaginaria isto possível.

 

Imagem

Desaguamos a nossa face nos rostos que caminham lado a lado com o nevoeiro dos dias

Flores de gestos crescem nas ruas das cidades...resistimos à brevidade das horas

Suspendemos o nosso nome sem sabermos que somos semelhantes a sinais de vida

A pouco e pouco engrossamos ...como rios cobertos de nevoeiro

Somos os antepassados da vegetação que ornamenta o prolongamento das tardes

Celebramos o nascer do sol...lamentamos os dias...

Somos a geada apocalíptica que enturvece o nosso coração...

Somos terra a farejar a fuga apaixonada do silêncio

Que vibra na surpresa de um quadro  envolto em mistério

Onde vemos a nossa imagem pregada numa teia de solidão...

 

Dilúvio

De longe chegam-me os ecos da noite...ruas crepusculares...tímidas palavras

As lágrimas há muito tempo se quedaram dentro da primavera

Anos de coral afloram pela cortina lenta dos dias

Sei de cor o nome das tempestades...

Conheço a vida que se cruza comigo em cada esquina

O mundo silencioso das ramadas em exaustão atinge-me dentro do peito

Forte... assim ...como um aluvião de sentires...

Como um prolongamento do canto minucioso das águas

Ou um nevoeiro que se ergue nas encostas escarpadas do rio

Relâmpagos de infância cruzam os ares

As mãos são raios de luz que crescem em desmesurados ângulos rectos...quebrados

Como coisas sem importância...como suspensões de vãos ocasos...lentos...perdidos..

Na forja milagrosa da manhã..na palidez da ventania...

No dilúvio de ser apenas... aroma de gente...infinita...