conversar
Só é possível conversar, se a palavra e o silêncio tiverem cada um o seu tempo.
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Só é possível conversar, se a palavra e o silêncio tiverem cada um o seu tempo.

Aqui temos mais uma amostra do cinismo dos partidos políticos. Os maiores partidos uniram-se e para quê? Para discutir o bem do país? Nãããão! Uniram-se pela calada da tarde, em sessão fechada, para aprovarem uma lei que os favorece, ou seja, legislarem em causa própria, e é de tal maneira cínica esta lei, que foi omitido o ou os nome/s do/s deputados que a elaboraram e qual o ou os partido/s que a promoveu/ram.Até os zelosos comunistas, paladinos da moral,pressurosos defensores do povo, se fecharam em copas e aprovaram a lei. Outra aberração é que ao contrário das outras leis, esta tem efeitos retroactivos. Num país sobrecarregado com impostos ver os maiores partidos aprovarem leis que os libertam desses mesmos impostos...não há outra forma de os crismar....senão de abjectos....talvez S. Marcelo possa endireitar isto...
Seguimos o ponto onde o silêncio se esconde
Onírico vazio de figura desalinhada...vã espera de sol dramático...deserto escondido
A rua encontra-se com o frio..enterra-se no frio...dispersa-se no frio
É uma rua de frio...a rolar pelas encostas estilhaçadas da noite
A órbita do sol quebrou-se...como um suicídio de liberdade
Do mar evadiam-se pássaros bíblicos...como marés de navios a desabrochar na areia
Liberdade de espuma quebrada...encosta suspensa no martírio do vento
Uma bússola cavalgava o imenso desconhecido...ordenava o rumo dos gritos
Como uma exaltação de pedras e mundo....áspero desenrolar de batalha marítima
A colar-se na concha líquida da lua...
Os meus olhos despiam-se sobre a superfície da água
Enquanto a água ignorava o reflexo dos meus olhos...
E seguia...indiferente....em direcção à foz
Como se perseguisse a inutilidade das minhas memórias...
O vento abana a folhagem da ilusão...o sonho renasce
O luar esvazia-se nas minhas mãos...escorre pelos meus gestos
É uma inutilidade de sombras e medo
Por entre a tristeza das cigarras...recordo o teu rosto gravado na pele das oliveiras
O teu sorriso é uma miragem que as ondas outonais enchem de perfume
Vejo-te através do jardim descolorido da magia...implacável sombra de dias sepultados
Floração de silêncios tremendo na sombra inquieta dos segredos
Na recta dos dias traço círculos encantados...suponho que são encantados
Porque são feitos da harmonia perfeita das giestas
Tomo a tua imagem em minhas mãos...
Abraço-a como quem se perde num relógio sem tempo
Onde penetro o segredo inquieto da poeira que o ar levanta...
Os nossos atos são uma ficção que se liga à nossa alma por uma teia de fios delgados, a isto chamamos vida....
Não há limites para os mecanismos patéticos da imaginação humana...sobre as outras pessoas.Virgínia Woolf
Todas as lembranças dormem...todas as razões se esbatem
O vento deita-se na planície como se fosse uma fantasia de criança
Nuvens gravam-se nos olhos...vislumbres de espanto e véus nacarados
É a nudez da vida a expulsar os medos...é o vazio a encher-se de nós
Na inutilidade plena dos caminhos...voam sombras de aves...confusas sombras
Presságios de dedos tocando a flor das algas...como risos de quem é feliz
Sonâmbulas sombras de cavalos alados...Alcácer Quibir de estrelas
Oiço melodias arrancadas ao fundo da lama...palavras feitas de folhagens
Invento-me..vou de corpo em corpo...sustento-me de ritmos quebrados
De joelhos... canto...invoco todas as paisagens...
O mar é largo...o vento é forte...o vento faz adornar os pesadelos
Encolhe-se numa extinção de barco sem remos
Como se cada grão de areia...fosse um sinal de mim...
Um sinal feito de asas e braços...de brilhos imóveis...de janelas curvas
Por onde escorre a dissolvência das minhas lágrimas.
No nítido dia as ondas quebravam as barreiras da alma
Voz de mar a entoar serenas melodias de espuma
Gaivotas expulsavam o silêncio...
E eu...desenrolava os olhos pela magia da tarde
Mar...jardim cavalgado por ondas transbordantes
Imensidão selvagem...batalha coalhada no azul escuro
Tormento de rochas...fusão redonda de pétalas líquidas
Mar que transborda...que devasta...que desgasta..que come
Mar revestido de luzes...aceso num castiçal de sol
Mar que exalta...essa dor sem fim...de não ter princípio
Esse supor que se debruça na areia...esse navegar de alma e sede
Esse colorir de silêncios...essa beleza tão funda...tão profunda
Que nem os olhos nem a alma se saciam.. de ti
Ela dormitava, cabeça encostada nas costas do sofá. Ele, na janela, fumava como quem nada espera da vida. A sua vida tinha o tamanho da rua onde morava. A noite era fria, um gato vadio miava, chamava as gatas.A rua era apenas um reflexo de lua. Um deserto de esquinas. Um som afastado de carros que vagueavam na auto-estrada. A vida descansava no seu cigarro. Ele, absorto pensava no significado da vida.Pensava nos degraus que agora lhe custavam a subir. Acabou o cigarro. Voltou para dentro.Chamou-a.Ela não abriu os olhos. Chamou-a novamente.Ela calada. Fria. A vida prosseguia na rua, nas esquinas, no miar do gato.Ela já ali não estava.