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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Como ventos soltos...

Vê como os passos esculpem o chão nocturno

Vê como a desordem da luz se espalda nas sombras

E como a evidência dos gestos é apenas uma obscura razão de estrangular as mágoas

Corres...tu e eu... em direcção à corrente absorta dos sonhos

Foges...tu e eu...ao frio que desfaz as correntes silenciosas das marés

E somos ondas de mar...e somos transparências de luar cru

Correndo pelas veias doridas das manhãs de cristal

Aqui estamos...rasgados pelo silêncio vazio do mar

Perdidos como corpos em baloiços que alastram pelo vento

Estranhos como guerreiros espantados...

Abandonados ao sabor das asas deformadas dos abismos

Gravámos o nosso corpo numa tarde sem forma nem razão

Liquefizemos os nossos dias...perdemos as tardes e as árvores

E agora...cruéis...abandonados...respiramos o tempo deformado das auroras

Como horizontes sem corpo nem memória

Como ventos soltos...no escuro de uma estrada....

Sem fim...

 

Harpa de luz

Harpa de luz a percorrer os caminhos do silêncio

Ave nascida na vertigem da harmonia

Porque te perdes na distância azul do mar?

Porque escolhes ser a dispersão de ti?

Sabes que na espera dos dias a terra é uma inútil esperança

E que o sublime êxtase reside no branco gasto do medo

E nos teus olhos que baloiçam em redor do arvoredo

Que te fala das dores leves dos segredos

Porque  nos dias que germinam em jardins misteriosos

Crescem lírios de esperança...

E as luas dançam em puros trajes de opala

Enquanto a tua alma dança...e balança...balança...balança

Vestindo um traje ofuscante...de gala...

 

O fluir dos dias

Podemos não ter a capacidade para escrever.Podemos não ter nascido para sermos artistas nem músicos.Podemos não ter qualquer ensejo se construir o que quer que seja.

Mas podemos ver aquela luz a alumiar a vida. Aquela luz que nos lembra que só temos esta vida e que tudo deve ser um desafio...até o de não fazer nada e simplesmente deixar os dias fluir...e encantar-se nesse ócio que nos mostra que a vida é bela..

 

 

Já nada floresce no chão das tílias

 

Vértice de corpo...peso de espera...dedos sibilam no antro da noite

Na esperança do vazio dissolvo o fogo

Apenas possuo o medo das sombras

Perfeito tormento...tranquilo chão...flor de orvalho

Não olhes...não esperes...dorme

O sol é uma parede tardia...um campo vasto ...uma luz sombria

Envelhecemos...lembras-te de nós?

Já nada floresce no chão das tílias

Translúcida calma...breu de guerreiro...

Tudo enlouquece no manto de fevereiro

Poema de março estendido ao sol

Estrada inútil...varanda de sonho

Pinto florestas...assombro janelas..demoro-me nas fontes

Esqueço as ausências...espero por elas...

 

Gastei o vazio

Gastei o vazio que havia dentro da memória dos mares

Andei pela dissolução inútil das lágrimas...

Adormeci na terra coberta de cinza e peçonha

E na pureza dos meus dedos cheirei o perfume do teu corpo

Abri pressentimentos como quem espera pela floresta do nunca

Desbravei paisagens em navios sem vida

E nas janelas dos braços abri caminhos sem céu nem fim

Chamei-te para veres a imobilidade do céu...

Ergueste os olhos e viste cidades

E eu parti...sem ti...

 

Caminhos vacilantes

 

Vi no corpo das pedras o perfil do medo

Vi tempo sem lugar nem maravilha

Mas foi esse poente de gestos perdidos que me quebrou a fome

Foi essa transbordante mágoa que me acendeu o lume

Foi essa passagem de corpo em surdina que me assaltou os dias

Porque toda a solidão é um traço deixado em ponto de viés

É um bolor de gestos amansados pelos quebrar dos sonhos

É a comungação do tédio a vislumbrar quartos desertos

Paredes imperfeitas...traços de sono...

Gaiolas de sangue quente embalado por noites frias

Onde irei buscar o horizonte onde os pinhais embalam o verde fosco das tardes?

Onde estará o jardim que me estrangulará a melancolia?

Verde caindo no mar a pique...sobressalto de maré fantasma

Colheita de céu inacabado...onde vivem deuses desconhecidos

Sombra ébria de magnéticos anseios...somos...somos...caminhos...

Vacilantes...

 

Imagem secreta...

 

Imagem secreta...memória de vida...

Caminho poisado num jardim escondido

Fantástico medo enlaçado na alma

Vislumbre de passos em volta de anjos

Audível calma que amanhece numa fonte de gritos

Esqueleto de espera...presença de vazio...

Oblíqua porta ... quintal que adormece na flor dos mitos

Brilho de instante que vibra dentro de mim

Flor que desbrava... o eterno fim...

 

Cerco de sal e mar ...

Cerco de sal e mar ...serenidade de ave a sobrevoar os dias

País de gestos e de lagos gravados na carne das palavras

Bolor de desejos afogados em serenas fotografias

Há uma certa raiva neste país de ouro e pesadelo

Há um definhar de maré coalhada na largura dos oceanos

Há um barco que rema junto à melancolia das esperas

Presságios de nevoeiro antigo...gaiolas de alegrias estranhas

Vislumbres de memórias definhando no morno súbito das tempestades

Se para alguma coisa servimos...é para povoar a chuva com sonhos de ouro

Para nos encavalitarmos na melancolia breve do sol rasante

Para ouvirmos o envelhecimento triunfante do nevoeiro

Para onde vai o nosso corpo?

Onde está o lugar feito da irremediabilidade profética do futuro?

Que luz se aflige na autenticidade do medo?

E os gritos que expulsamos pela palidez das tardes

Onde está essa água azul cobalto que quebra o corpo das falésias

E as algas...ondulando como galáxias inúteis..definitivas

Dizem-me que uma respiração infindável...vive abraçada à maré que se escoa...

Por mim...

 

 

Luz

A luz cortava o ar numa geometria de azuis espessos

As vozes respiravam para lá de todas as dimensões

Rostos meigos pairavam nas lágrimas de chumbo...

O mundo inspirava sílabas de musgo e coral

Havia enigmáticas texturas a cobrir os pesadelos das folhas douradas

O mundo possuía caminhos...vibrações...

Vítreos coágulos de sol empoleiravam-se na eternidade dos deuses

E eu..era apenas a lembrança de um caminho...

A transpirar na pele de uma bolha de luz...

 

 

aridez

Não sei porquê mas não gosto de cemitérios onde não há árvores.Não gosto de cemitérios onde as campas estão quase umas em cima das outras...só pedra e mais pedra. Também acho que nenhum morto gosta de ali estar...