Quando o vento se comprime no espasmo das águas
Como uma hidrogenia de átomos confusos...como uma fuga de astro alcoólico
A pele enrosca-se numa melancolia de cassiopeia metalizada
As mãos estreitam-se dentro de um instante que se move no bafio dos tectos
Translúcidos repentes apelam aos olhos das algas
Para que os seixos se multipliquem pela leveza do nevoeiro
E os lumes arrefeçam nas enxárcias das árvores
As aves levantam voo ao mesmo tempo que as lágrimas
O espaço é cortado em pedaços...as sombras acalentam os desajeitados
E há uns olhos mornos que se dissimulam na superfície da pele
Uma cor e outra cor que chega impelida pela sofreguidão das vozes
Um espasmo de mulher que foge à sujeição das praias
O mar alto..tão alto como a Torre de Babel a desdobrar-se em altares de nevoeiro
Rostos invisíveis...olhos invisíveis...
Interiores de homens invisíveis a derreter-se pela superfície dos espelhos
Percebo o ritmo das sombras no rosto dos mareantes
Percebo as recônditas paragens do corpo...percebo a largura das palavras
Percebo o derradeiro esforço de ser uma pedra fechada ao amanhecer
E essa horizontal maresia que reclama pela rosácea do grito
Diz-me que por vezes...nascemos dentro de um destino de mar solto ao sol
Inevitável apoplexia de mosteiro desolado
Jazigo de tempo tumular...vital cadência de morte confusa
Estável garça que se senta no tempo do futuro
Como uma raiva despedaçada pela névoa da distância
Como uma pele de nenúfar enrugado
Ocidental...acidental crepúsculo de navio
A cruzar a cinza deambulante das hortênsias
A florir no umbral do fogo...a olhar o chão que pisa o poeta
Que dorme no seu inverno de punhos levantados ...às palavras.