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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Advogados e engenheiros ou versevirsa

 

Há carreiras profissionais que moldam o carácter das pessoas, ou são as pessoas que já são assim e escolhem este tipo de profissão. Estava eu a refletir sobre as variadas profissões e também sobre os meus amigos, e descobri que não tenho nenhum que seja engenheiro ou advogado, e mais,nunca consegui entre os que conheci e conheço um que se aproveitasse, não sei porquê mas esta é a verdade. A minha definição para advogado é... manhoso.A minha definição para engenheiro é...enviesado...que me desculpem os que forem boas pessoas, mas... esta é a pura verdadinha...

 

 

Vento

Quando o vento se comprime no espasmo das águas

Como uma hidrogenia de átomos confusos...como uma fuga de astro alcoólico

A pele enrosca-se numa melancolia de cassiopeia metalizada

As mãos estreitam-se dentro de um instante que se move no bafio dos tectos

Translúcidos repentes apelam aos olhos das algas

Para que os seixos se multipliquem pela leveza do nevoeiro

E os lumes arrefeçam nas enxárcias das árvores

As aves levantam voo ao mesmo tempo que as lágrimas

O espaço é cortado em pedaços...as sombras acalentam os desajeitados

E há uns olhos mornos que se dissimulam na superfície da pele

Uma cor e outra cor que chega impelida pela sofreguidão das vozes

Um espasmo de mulher que foge à sujeição das praias

O mar alto..tão alto como a Torre de Babel a desdobrar-se em altares de nevoeiro

Rostos invisíveis...olhos invisíveis...

Interiores de homens invisíveis a derreter-se pela superfície dos espelhos

Percebo o ritmo das sombras no rosto dos mareantes

Percebo as recônditas paragens do corpo...percebo a largura das palavras

Percebo o derradeiro esforço de ser uma pedra fechada ao amanhecer

E essa horizontal maresia que reclama pela rosácea do grito

Diz-me que por vezes...nascemos dentro de um destino de mar solto ao sol

Inevitável apoplexia de mosteiro desolado

Jazigo de tempo tumular...vital cadência de morte confusa

Estável garça que se senta no tempo do futuro

Como uma raiva despedaçada pela névoa da distância

Como uma pele de nenúfar enrugado

Ocidental...acidental crepúsculo de navio

A cruzar a cinza deambulante das hortênsias

A florir no umbral do fogo...a olhar o chão que pisa o poeta

Que dorme no seu inverno de punhos levantados ...às palavras.

 

 

A relatividade de se ser humano

Pensarmos que o universo se organizou para produzir a humanidade, é darmo-nos uma importância que não temos e que nada física ou moralmente consegue justificar. O universo programado para engendrar Mozart é uma ideia encantadora...mas, e o universo programado para engendrar Hitler ou Pol Pot? A incerteza e o imprevisível tanto valem para o bem como para o mal é por isso que não existe um valor absoluto, nem uma moral absoluta, mas o facto de cada valor ser relativo não significa que nada valha, o que existe é uma causa, uma origem, um fundamento, porque toda a moral tal como toda a existência e todos os actos, são reais e relativos.

Inspirado em André Comte-Sponville filósofo francês

 

 

Sinais

Há um sinal de mim em cada lua que espreita pela fresta da minha janela

Uma humidade desolada a envolver todas as ruas da cidade

Odores a terra espalham-se pelo espelho das faces...

Insónia de mar a espreitar pelo cabo do mundo

Estrela confusa que amanhece num charco de urina

Gelo de lua...planta de fel ... inacabada felicidade...assassina de vazios

Salmoura infindável que se desdobra pelas janelas do ar

Notícias de jornal colam-se à minha pele

Falam-me da infindável busca da razão...dos gritos obscenos dos oceanos

Dos homens que se contorcem em espasmos de lama e fígado

Lisergia de ácido plano...doce flor da loucura das luzes...cores caleidoscopiais

Vermelhas...amarelas...impossíveis...atrozes como frutas amargas

Amarram-se a mim como troncos de néons oscilantes

A chuva desce pelos ramos das árvores...chuva colorida...fantástica

Um homem fala dentro de um instante...desce pela confusão dos telhados

A pele da memória solta agudos laivos de fome...encerra-se numa luz metálica

A música toca...The Tubes...lago sonoro...ave escura...

Corro...sonho...estico os dedos...agarro a luminescência dos astros

Sou a imensa fúria gelada do sol ...

 

Filosofia chinesa

O mundo morre todos os dias, o mundo nasce todos os dias, o fim é um começo e qualquer momento é um momento de transição entre o acabar e o renovar.

O sábio não age,mas não há nada que não seja feito.

O sábio é como o vento, o povo como a erva.Quando o vento passa as ervas abaixam-se. Confúcio

O pensamento chinês é baseado no conformismo.É conformando-nos com o real que nos podemos deixar levar por ele. A verdadeira aceitação das coisas está não na forma de considerar o mundo como um modelo a construir, mas é  no saber esperar que uma situação se torne mais favorável, que reside a eficácia do nosso sucesso.

Baseado em François Jullien, filósofo francês

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