O sentir da morte talvez tenha uma beleza

O saber dos dias talvez acorde em nós o sonho do absoluto

As palavras desembocam na intocável paisagem

O vidro das mãos conspira numa fusão de paradoxos

Os sentimentos dissolvem-se na prata da manhã

Somos infinitos...secretos...frágeis

Como vasos de tempo plantados dentro do medo

Todas as noites convidamos o céu a entrar em nós

Perdidos na obscuridade serena da luz

Procuramos o arquipélago vacilante da sensibilidade

Onde nos esquecemos que somos apenas solenes reinos de dor

Vogamos nesse esforço de águas plenas

Recolhidos na quietude imóvel do espaço

Temos intuições de sonos químicos

Entregando-nos ao bálsamo saturado da alma em suspensão

Esbarram na angústia ambivalente das catedrais

Irrecusáveis ressonâncias de chuva matinal

Quando o coração se separa do corpo

E a respiração se faz sopro

O sol aquece as imagens que flutuam nos nossos olhos...

Minerais.

Há uma dimensão própria no silêncio que envolve as coisas.Há em cada um de nós um enclave onde saboreamos o peso das coisas sem tempo.Há no silêncio um retorno ao tempo esquecido de nós...e é aí que nos desfazemos dos passos que marcam a nossa passagem. É aí que repousamos a alma por entre os ruídos imperceptíveis do silêncio. No silêncio somos ser e mundo unidos numa indistinta fracção de corpo e alma. É preciso aprender a ver na escuridão do silêncio. É preciso escutar os sons que o silêncio emana. Quem nunca reparou que ao crepúsculo,por breves minutos,mesmo antes do sol-pôr...todas as aves se calam, todos os ruídos desaparecem, e somos submergidos por uma calma celestial, quem nunca reparou nisto, nunca escutou o silêncio.

Muito embora seja contra a minha maneira de ser e de viver,hoje vou falar de futebol. É triste o espectáculo a que assistimos, colegas a insultarem colegas, presidentes de clubes a mostrarem o seu  ódio ao adversário,golpes baixos, violência inútil. É triste observar( só o faço de soslaio), três estarolas (parafraseando Francisco Lucas Pires) em cada canal de televisão, a debitar ódio, a incentivar à violência, a fazer morrer o nosso sonho de sermos adeptos de um clube. O futebol é paixão, é amor, e deveria ser também desporto. Longe vão os tempos em que podíamos falar com outras pessoas sobre futebol, (agora parece que se diz discutir),esta expressão só por si diz que não há diálogo possível, mas sim...discussão possível. Chegámos a um tempo em que ir assistir a um jogo de futebol é o mesmo que andar de mota, devemos levar capacete, caneleiras, colete de protecção e até colete anti-balas, já para não falar em óculos de soldar. É triste, é muito triste, que não nos deixem ser adeptos e nos tenham tornado em apáticos espectadores de cenas de violência gratuita.