Há na noite uma alegria inútil..
Perscruto a noite como se não tivesse olhar
Nada se move na solidão do sono
Há na noite uma alegria inútil... alcoólica
Um reverso de medalha amortalhada num galope de sombras em flor
Lembro-me daquela estrela que me falava do mistério das estátuas
Daquelas estátuas feitas das penas dos que venceram
Estátuas que estão ali... plantadas... como mentiras de pedra
Deito a cabeça na minha almofada feita com a solidão do deserto
Dá-me um cais e eu serei o teu luzeiro... o teu verde-anilado
E assim poderei ser mar e tu a pedra que se ergue nos meus ombros
Lembro-me das laranjeiras que nos acenavam na noite das ruas
Lembro-me de apontar o dedo às histórias que me contavas
Lembro-me de tudo...menos do nó que me apertava a garganta
Ainda tenho na minha... a mão que me passavas pela cabeça...como um anseio de sede
Como uma escrita rasa...feita com as cores da tua vida.
De longe a longe vem-me uma dor ao peito
Sobe por mim como uma porta...ou uma farpa
Nunca mais me visto de multidão... nunca mais assomo ao teu corpo de licor.
Imagino-me a escorregar pelos cabelos dos jardins
E adormeço....