Anoitecer
Para onde vais vaga que o vento afaga?
Para onde escorre essa geometria de cinza alado?
Bocal de perfume esfacelado a invocar a passagem dos dias
Função de planta transparente a gravar-se nas arestas dos olhos
Mar a invocar céus... perante a enormidade de ter que respirar sonhos
No meu interior cresce o asfalto ferido das cidades
Na minha alma desenham-se traços de régua e esquadro
Enquanto o cio do vento lambe os pedaços que caem dos meus passos
No anoitecer que respira na clausura da aurora
Os corpos ardem como espelhos fascinados
As estradas são o íman que atrai a perdição das luzes
O sonho é o incómodo de si próprio...um mar de violetas a engolir jardins
Uma passagem que transpira no fundo da dor
Tão forte...como uma porta de luz entreaberta para o desencanto da neblina
Todos os corredores que percorri me levaram ao desencontro das memórias
Todos os perfumes são difusas estrelas a desafiar a lentidão das noites
Onde cresce uma tosse amarga... que fala de vinho e ausência
Que engole a luz das cidades...com uma raiva cíclica
Como se fosse um cometa de âmbar a desafiar a perenidade da alma.