Laje seca...
Laje seca... para além de ti há uma ferida que bebe o cálice de outras eras
Cálice imerso em preguiça e tempo...meta de trópicos desfolhados por instantes
Desencontro de lavas oceânicas imersas em passados de vagas memórias
No fundo das vozes há um abrigo de pele e seda
Princípio de outras eras onde a nossa pele se desfazia em sede de saudades
Entrego aqui as minhas mãos roídas pelo zinco dos dias
Deposito além os meus olhos fundidos no amarelo das acácias
quantos passados passaram por mim?
Quantos me disseram que respirar é o mesmo que habitar o corpo da vida
Já não sei...só sei que continuo a respirar
E a dizer que amo todo o vento que escorre pelas fachadas do meu corpo
O vento que faz abanar as gotas penduradas nos meus portões de ferro
E as terras e os lagos e as candeias que ainda se acendem nas noites frias do medo
Que me despertam como raízes de cruzes encerradas no fresco da noite.
E se de repente uma revelação se pendurasse nos ramos luminosos das gaivotas
E se todas as frescuras inexplicáveis das ervas me contassem
que traições vivem no esboço de cada pessoa
Agreste silêncio... infinito rio correndo sobre as dores das horas
Coincidência de mão a tocar o destino das portas cerradas
Futuro devorado pelo presente...brisa de pavores serenos
Voz inteira que ri e chora na penumbra roída das chamas indefesas.
Se eu pudesse guardava na minha algibeira todos os quadrantes e todos os sóis
Se eu pudesse correr como uma vela sem tempo nem alto-mar
Dormiria sobre a carne nua das marés...contigo a baloiçar...
Dentro de mim.