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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Laje seca...

Laje seca... para além de ti há uma ferida que bebe o cálice de outras eras

Cálice imerso em preguiça e tempo...meta de trópicos desfolhados por instantes

Desencontro de lavas oceânicas imersas em passados de vagas memórias

 

No fundo das vozes há um abrigo de pele e seda

Princípio de outras eras onde a nossa pele se desfazia em sede de saudades

Entrego aqui as minhas mãos roídas pelo zinco dos dias

Deposito além os meus olhos fundidos no amarelo das acácias

quantos passados passaram por mim?

Quantos me disseram que respirar é o mesmo que habitar o corpo da vida

Já não sei...só sei que continuo a respirar

E a dizer que amo todo o vento que escorre pelas fachadas do meu corpo

O vento que faz abanar as gotas penduradas nos meus portões de ferro

E as terras e os lagos e as candeias que ainda se acendem nas noites frias do medo

Que me despertam como raízes de cruzes encerradas no fresco da noite.

 

E se de repente uma revelação se pendurasse nos ramos luminosos das gaivotas

E se todas as frescuras inexplicáveis das ervas me contassem

que traições vivem no esboço de cada pessoa

Agreste silêncio... infinito rio correndo sobre as dores das horas

Coincidência de mão a tocar o destino das portas cerradas

Futuro devorado pelo presente...brisa de pavores serenos

Voz inteira que ri e chora na penumbra roída das chamas indefesas.

 

Se eu pudesse guardava na minha algibeira todos os quadrantes e todos os sóis

Se eu pudesse correr como uma vela sem tempo nem alto-mar

Dormiria sobre a carne nua das marés...contigo a baloiçar...

Dentro de mim.

 

 

Amor de luz...

 

Meu luminoso astro feito de luas entrançadas

Terra magra aberta ao cio...carta magna....navio

Quem nos liberta do frio?

O amor....

Amor que gira na surpresa dos astros

Amor que o mar cala de tanto calar

Amor de de tantas cores...de tantas arestas

Universo de barcos e velas a revoltear nas índias

Amor de um além azul-escuro...bravio sal de flores ensonadas

Amor de luz...de hálito a campo molhado

Quem se lembra da medida da escuridão quando o amor se esvai?

Quem sabe quais são as flores que nascem num sentir seco?

Quem conhece a densidade de um sentimento sabe que o amor

É o instante exacto e puro...

Onde o tempo deixa de existir.

 

 

Querer...

 

Quero que no meu mais profundo grito se abrigue o sangue visionário das memórias

Quero que todos os instantes sejam visões de remotas ilhas inexplicáveis

Onde o assombro começa nas chagas das papoilas

E os porquês egípcios rejubilam nas maçãs do rosto de um qualquer tempo imaculado

 

Quero perdurar por dentro da circuncisão da terra e revelar o segredo íntimo das medusas

E esperar... esperar que os corpos se ergam como fotografias de mármore

Depois quero voltar ao instante em que os dedos cansados desenhem ternura num papel imaculado

Mostrando-me os vertiginosos arquipélagos que despertam na orla embriagada das gaivotas.

 

Penas de fogo

Matagais ácidos invadem o meu sonho vegetal

Corre-me no sangue a asfixia de uma insónia

Volto ao tempo das tímidas noites

Sonoras gargalhadas ardem na imensidão de remotos beijos

Erguendo-se como vagas atlânticas...inexplicáveis.

Medo e gritos dobram-se sobre a minha pele seca

Os dedos crescem em desejos de quartzo alucinante

Partir é mais que um tempo... partir é mais que uma memória

Partir é arder na teia do momento em que já não somos mais que um muro sem retorno

Penas de fogo e solene calcário que corrói a ira das sombras

Como se o sangue revelasse ser mais que eu...mais que a viagem ancestral

Muito mais que um tempo passado onde brota o instante em que nasci

Como um fogo que me mostra o rasto de uma procura sem destino.

 

As aparências

Estar vivo é criar um palco. Na vida cada um cria o seu palco,a sua peça e a sua própria representação dela. Estar vivo é procurar por dentro das aparências um caminho estreito que desagua na essência de si próprio. É na aparência das coisas que vemos, que procuramos as coisas que não vemos. É a aparência do que não vemos que procuramos o que está ao alcance da nossa vista. O penso, logo existo é apenas uma forma de pensar a existência, também podemos dizer toco, logo creio, ou sinto, logo faço do meu sentir uma outra coisa que pode ser amor ou ódio, mas que é vida. A aparência é o que nos faz conviver, convivemos todos com as aparências de uns e outros, mas será que convivemos com a sua realidade? Parece-me que não, a realidade de cada um é outra coisa, é o que está por detrás da aparência, mas a verdade é que é a aparência que comanda os nossos instintos e o nosso julgamento dos outros.

 

E lá longe...

 

Nos dias em que a nossa memória se liberta da espessura inabalável do silêncio

E que os líquenes das casas se quebram de encontro às ruas vazias

Onde os nossos olhos avistam a costa quântica dos aromas a corpos nus

E lá longe...muito ao longe... despertam milímetros de enternecedoras praias

E nos ermos dos valados a solidão é uma fragrância de medos escuros

Lá onde os corpos já não pertencem aos dias nem às cores dos deuses

lá onde o medo é uma fera encurralada na maresia da noite

E no centro dos nossos olhos há uma muralha de gente ancorada nas docas sem história

Furnas de diurnos sátiros encolhidos no limbo do escuro

Bocejos de sonho e tempo que se revelam na mão adormecida dos anjos

Piares de morte e corujas estelares...acordar de temores e arder de tempos

Quer se libertam nas folhas delgadas das facas

Que cortam as escorrências perfumadas das frutas maduras

Com o seu hálito de fome aberta aos instantes sonoros do que não existe...

 

 

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