Estou de frente para o vazio áspero do mar
No céu vê-se um segredo de chuva a empoeirar o ar
Bebo toda aquela fantasia manchada pela luz difusa da manhã
E vejo os teus olhos pálidos a erguerem-se da bruma que sufoca a luz
Ostentas lágrimas de nevoeiro denso
Caminhas por dentro da minha imagem... parada no exílio da manhã
Eu falo-te das vagas azuis
E sem esforço...vejo o infinito a amontoar-se num lago de sol
Pasmo...é a primeira vez que vejo os despojos da luz
A crescer nu mar...como uma muralha efervescente
E vejo na circulação fria dessa luz..uma circulação de sons inacabados
Como se fosse uma ária interpretada por ninfas mudas... sentadas...
Perpendiculares a todas as marés
Do fundo de mim ergue-se uma gaze preta
Que me tapa os olhos e os sentimentos
Sinto-me a descer...lentamente...por entre uma floresta de avenidas verticais
Sou agora um curso de água na deriva do meu caos
Sou uma inflamação de rostos inocentes
Que caminham debaixo de um calor tórrido
Depois... apago-me...como um estore laminado que se fecha
A todos os olhos que não me vêem.