“Em Goa em vez de se dizer – “olá como vai? - diz-se – está sossegado?”** que é o mesmo que perguntar – está em paz?

De facto esta deveria ser a nossa principal preocupação, estar em paz, e perguntar aos nossos amigos se também estão em paz deveria ser o nosso dever, porque é a partir do estado de paz que todas as coisas se apresentam muito mais sorridentes, muito mais alegres. É a partir do nosso estado de paz que relativizamos todas as coisas que nos aborrecem e que percebemos que nada é mais importante que a felicidade que carregamos no nosso interior. Sabemos que as pessoas que estão de mal com a vida mostram um estado de angústia ou de má disposição, essas pessoas não estão nem têm paz, são  como um inverno que vive permanentemente dentro delas.

** excerto extraído do livro Jardins da Maré Baixa de Maria José Almada Negreiros.

Faz de conta que eu caminho em ti

Que os meus olhos oceânicos se desdobram pela limpidez dos cometas

Que as cartilagens do meu coração se desfazem em lentos corredores

Que a polpa cíclica dos meus abraços se acoita na tua face lunar

Faz de conta que eu te vejo

Como uma paisagem cheia de portas entreabertas

E que as feridas dos meus passos são caminhos de ausência e asfalto

Como se eu nascesse em ti depois de morrer e morresse em ti depois de nascer

Faz de conta que conheces a minha profundeza de noite e âmbar

Que o meu vazio sem ti é um mar a despejar dores espiraladas

E que as casas são sítios de silêncios arquejantes

Quando juntos ingerimos as portas das estrelas

E o nosso corpo clama por mais um momento de fascínio perfumado .

Deus deu-nos o mundo e a vida...mas esqueceu-se de nos dar o manual de instruções para desmontar o deserto que vive em nós...

Para construir pontes...é preciso derrubar muros... inspirado em Afonso Cruz