Alguns de nós têm muita dificuldade em fazer conversa de circunstância,enquanto  outros falam pelos cotovelos, o excerto seguinte fala da dificuldade que Miguel Torga sentia em falar só por falar.

"Não há nada a fazer, a conversa arrasta-se penosamente, cheia de silêncios,de interjeições, de reticências.Mas chega um terceiro participante, amigo do meu interlocutor,subitamente tudo muda.A partir de então o diálogo parece deslizar sobre carris. É uma amável troca de factos, de recordações, de anedotas. Eles conhecem as mesmas pessoas, as mesmas praias, admiram as mesmas mulheres. Ao passo que eu, esquecido, aborrecido, marginalizado, olho impotente para este tecido verbal em que não tenho lugar."

Quantas vezes sentimos que não fazemos parte do mundo de certas conversas que temos que escutar? Mas por educação ou por falta de alternativa, lá vamos carregando a nossa cruz feita de silêncios.

Cai um grito de estrela num lago parado

Cai uma lágrima sulfurosa que fura a pedra do destino

Pássaros de barro cantam sobre a nossa pele sólida

É o ruído do tempo a chegar ao mundo

É a perfeita harmonia das folhas a despejar tranquilidade

A revoar na planície feita de silêncios

Olho para cima e tudo se acaba num azul desabrido

Os impossíveis voos das andorinhas espalham-se pela abertura das nuvens

Anjos tecem finas grinaldas de beijos brancos...imaculados

A proximidade da chuva corre de encontro aos sinos da igreja branca

As mãos abrem-se numa sombra de sal

Que poisa na espuma da lua.

Os sonhos ao realizarem-se...morrem... e é para não morrerem que os sonhos caminham sempre à frente do homem.

Já  o homem para viver... corre sempre atrás dos sonhos...