Tempo
Na geometria construída com fragmentos de tempo...a nossa alma vive no secreto exílio da memória...
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Na geometria construída com fragmentos de tempo...a nossa alma vive no secreto exílio da memória...
Se a vida é um poema...esguias são as palavras que o compôem...e leves são as horas da felicidade...
Em redor de mim a chama do silêncio anuncia o dia
Do chão molhado ergue-se o perfume da terra ressequida
A lua traça labirintos nos caules do poejo
Nesta pureza de verde e prata... tudo me liga ao mundo
Tudo me diz que sou mar dividido....
Mar entrelaçado com o luar que me agarra
Mar de pedra e de gesto perdido...
Mar de mãos que escorregam no corpo da chuva
Mar de brancura e enseada
Onde as aves se apartam das ilhas e dos ventos
E onde o meu corpo galopa no cadafalso das artérias
Como um papel rasgado pela escultura do tempo
Aliança de teias e rostos de mármore rosa
Sozinhos...acoitados numa prece pintada num naufrágio
Onde navega a noite e o vazio da espuma
Onde os homens se resgatam nos cálices do infinito
Com rostos imóveis...com floridos destinos
Com intensos clamores de mãos a agarrar a fúria das tempestades
Que por eles se roçam...que por eles passam
Como imagens de abismos rugindo
Por dentro da sua alma... feito de calma... e raiva...
Na pedra e na cal respiram as mãos do tempo
Nos terraços alargam-se os horizontes das pupilas
Um perfume de cidade parada sobe pela nossa densa vida
É a noite... é o florir da alma...é vento que se enrosca em nós
E o vento faz-nos crescer como um ninho que nos liga à vida
E o vento tece em nós o rosto de um cavalo a galope
E o vento divide-nos...e somos pranto e água a divagar
E vamos pelas correntes dos labirintos
E erguemos mastros que se eriçam com as dúvidas do destino
E ligamo-nos a todas as coisas que há nas trevas e nas areias
Como uma rocha pura...como um chão calado
Como uma luz exaltada e solitária...
Vogando nas asas dos promontórios...onde esperamos encontrar a luz do farol
Mas também é lá que nos esperam mais passos e mais jardins de alabastro
Desenhando círculos doidos à nossa volta..e somos esses círculos doidos
Feitos de uma geometria inconsisa e demente
Além disso... sabemos que iremos rolar como uma imensa luz
Como um corpo liberto das sombras e dos ciprestes
Como uma luz fresca...
Como um pecado sem originalidade...
E a mão nua estava pousada sobre a saudade
Como um olhar que cintila no vazio
Ou como uma sombra que repassa o corpo frio...
Tombados sobre a nossa própria pele
Respiramos as invisíveis luzes do deslumbramento
E mesmo que das montanhas se ergam rugas
E mesmo que a nudez se cole ao nosso corpo
Como o aroma de uma resina fresca
Seremos sempre peixes secretos
A navegar num fragmento de ausência.
E mesmo que perturbemos o silêncio dos fantasmas
Aqueles fantasmas que florescem nas nossas grutas mais secretas
Aqueles cuja agonia é um vazio de estátuas
Expostas à mutilação do tempo
A nossa alma acenderá sempre o brilho antigo da vida
Erguer-se-á sempre do branco respirar da espuma
Como uma tarde que cai nas sombras do ocaso
E se enreda na fantasia de um relógio parado.
Mas nós iremos por esses caminhos...
Iremos preencher o vazio dessas estradas
Como quem escuta as sílabas de um Deus atónito
Ou o som de uma harpa chamada... Vida.
Agora até já há viagens de finalistas de pré-escolar...por este andar qualquer dia há viagens de finalistas de parto...
Este que vem do outro lado
E que procura no luar e na pedra o equilíbrio das aves
Este que se debruça sobre a poesia do silêncio
E que é como que um corpo dividido em mil palavras
Este que pálido tece o vazio com mãos de veias floridas
E que olha para a beleza das coisas como se estivesse em frente ao mar
Este que por vezes se esquece da aliança entre a alma e o infinito
E que guarda os dias numa ânfora feita de retalhos
Este que brilha na ressonância intratável das lajes
E que cospe sobre a estética obstinada do caos
Este que procura vestir-se de matéria intocada
E que acha que a alma das ruas se esconde na sombra das casas
Este que é um corpo de luz a vibrar na fantasia dos Deuses
E que não procura ser coisa nenhuma
Que se encanta com as escorrências do destino
Este que vem não sei de onde ...talvez seja uma pedra preciosa
A balançar nas mãos polidas do sol
E a quem um dia disseram que um poema é um caminho
Traçado nas esquinas vidradas das palavras.
E do meu caos saltou uma palavra...viver...
Juro que acredito profundamente no infinito... qualquer que seja o significado de infinito...