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folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

Rasgo esta cidade..

Olhar parado nas costas do destino...cálice de mundo...pequenino

Mar de nuvem...folha de verdade...respirar exige... um peito imenso

Rosa amarela..medo da saudade...tempo de sorriso...flor rara de incenso

Regato de ouvidos...verbo de muitas cores...turva é a janela...geração de dores

Funil de verdura...permanente quarto...longe está o dia...perto está o barco.

 

Turva e branca sede...escuro engodo laço..negas que já foste...o sol do meu abraço

Água perfumada...lume e mansidão...bela esquina ácida...dor de coração

Teia de placenta...murro de memória...rua foz de menta...espelho de história

Veias gotas voz...dias fios invernos...além vais tu fechada...aqui vou eu enfermo

 

Rasgo esta cidade...com fios de pele a prumo...bebo a novidade..emborco o fel sem rumo

Azul de grito opaco...verde relógio d´água...fresca tarde insana...frio calor de mágoa

O teu braço agita...treme leve a terra...anel de sol que grita...exangue verdade encerra

E agora tu pequena... feliz pulso de verão....ágeis dedos correm...pele de mansidão

Ar na mão fechada...torre de silêncio...morte perfumada...grito em suspenso...

Vida túnel cortinado...cobrindo a janela..do silêncio.

 

Retratos de silêncio

 

Polifónicas ampulhetas marcam o compasso do tempo dos desertos

Esses desertos onde o tempo é feito com as cinzas da carne coralina

Aí... onde o sossego é uma transparência de espuma e vento

O nosso retrato é uma espessa mão a acenar ao mundo... a gelar o mundo

Dedos descarnados cavam o chão da terra.... barcos perdem-se nas vielas

Docas de silêncio rendem-se às luas mais ocultas

Esconsas noites apegam-se ao renascer dos corpos

Há uma força bruta que se solta da pureza dos ventos

Por dentro das tempestades jazem homens inquietos

Sombras celestes cavalgam a loucura dos homens

No leito do sonho acordam tempestades de fogo

Como feridas de náufragos antigos a tactearem as brumas da poesia

 

Passo e traço um risco sobre a limpidez das casas

Conjugo as horas com as pequenas estrias de uma espada intemporal

Um lago de sangue escorre dos meus braços

Sou a imperfeição das pedras a atear fogos de cristal

 

Poderias passar por mim sem que eu perceba a tua sombra

Poderias raspar a minha pele como quem safra a linguagem das medusas

A bem ou a mal aceito tudo o que chega ao fim

Aceito os passos desentendidos do cansaço

Aceito querer-te com se fosses a límpida conjugação do amor

E lamber as tuas feridas com o meu sono de luar e cobalto

Aceito que tudo se resume a uma água que corta a direito...uma torrente aflita...um espasmo

E depois...como sei que tudo cai...como uma noite sem fim...

Aceito-te...como és!