Aquele que foi e já não é
Aquele que foi e já não é
Aquele que se disfarçou de riso e de comédia
Aquele que se acendeu nos olhos das aves
Não passa agora de um braço triste onde desponta um dedo
Que aponta as saliências do futuro.
Aquele que num delírio de fogo escreveu poemas
Aquele que se confundiu com as sombras da floresta
Aquele que se extraviou por dentro da febre de ser apenas ele
É hoje uma transparência de perfume e vento
A acenar à neve que se solta das artérias do ar.
Aquele que roubou a cores e permaneceu por dentro dos instantes
Aquele que avançou pelos dias com a leveza de um astro insaciado
Aquele que flutuou na etérea fímbria da realidade
Agora só espera que uma aguda noite o transporte
Para dentro de uma folha que voga na brisa leve dos limoeiros.