A Poesia solta-se das jarras...
Gotas de chuva sopram pelos corpos das janelas
Água pura a cair num silêncio intrínseco
Perfeitos dedos traçam pressas no emaranhado dos vidros
Flores acendem-se na imaginária linha dos corpos
Em cada mão uma lua...em cada nome um corpo... despido
Na combustão do orvalho
De noite as luzes são mais belas
Invadem os nossos extasiados olhos
Como se nos atirassem cores para dentro das pálpebras
Uma noite ardi como se fosse um pensamento
Uma noite abri uma porta e cresci
Das ervas saltavam palavras
O mundo era uma anónima fonte de devastadora solidão
Na equivalência das horas dormem fervores de alegria
Uma música fria assoma na perfeição das rosas
O esquecimento é uma casa sem infância
O nome do outono faz girar os caules das vidas
E eu digo: a morte passa
E os peixes rodam dentro da minha cabeça
O luar é o futuro a absorver o escuro
E para além de todas as essências a linguagem das mães
Perdura na demência absoluta dos dias
Sonhava destilar o corpo das magnólias
Só para saber se davas por isso
Só para sorrir da candura das noites
Só para saber se cantavas na delicadeza estrutural de uma manhã pura
Uma suave agonia espalha-se na sombra de Deus
Uma mão ergue-se por dentro da ilusão
As ruas têm a suavidade dos sinos
A morte respira pelo sangue das lágrimas
A melancolia apodrece sobre as rutilâncias da carne
E as crianças entoam sinistros cânticos de embalar
Como se fossem flores a explodir nas cordas dos contrabaixos.
Que estalem as visões
Que Deus adormeça numa redoma de seiva
E nós...pobres sangues fundamentais
Lavemos os sexos nas penumbras caídas da noite
O espírito dos campos ergue-se pelas colinas escarpadas
Tudo o que sei...é que o açafrão se alimenta das papilas dos homens
E a cinza vive da infelicidade do fogo.