Havia um muro branco onde o luar florescia
Havia um muro branco onde o luar florescia
Pérolas de luz caíam na madrugada
As ruas refletiam o nojo magro da solidão
No quarto uma luz despida dispersava-se pelas paredes
Nocturnos melros assobiavam aflições
O soalho era uma afirmação de velhice obstinada
Havia um drama em cada estrela
Havia um beijo em cada lua
O silêncio dançava a sua própria música
A razão era uma metáfora cega
A escuridão era uma boca a engolir a alma
Atravessava-nos um sentimento de carne violenta
Um clarão de prata desfazia-se na lonjura...não havia horizonte
No meio de nós a insónia sentava-se como uma fábula dormente
Aqui e além o granito tragava as águas
Voltaicas raivas estremeciam na profundidade dos olhares
Os espelhos esgotavam-se em imagens feridas de saudade
Porque sabiam que os poros da alma exalavam ventos glaciais
E a beleza vasta do espaço inclinava-se para dentro das artérias
Como se um cavalo galopasse na penumbra do sangue