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folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

As crianças e a cadeia de Tires...

 

Há na cadeia de Tires a Casa das Mães. É um local onde as mães que estão presas podem conviver com os filhos. Estas crianças a única coisa que conhecem do mundo é o limitado muro da prisão. Há várias questões que se podem colocar e uma delas é a de que não deveriam as mães ter permissão para sair,(pelo menos um dia por semana), com o seu filho, mesmo que fosse acompanhada por uma guarda prisional? Haverá o direito de privar estas crianças do contacto com o mundo só porque a mãe cometeu um erro?

 

Sabemos que o adulto carrega em si todas as emoções que viveu e as emoções que mais marcam um adulto são as que conheceu em criança, são essas que vão definir o futuro adulto. Pergunto-me que peso carregarão estes meninos e meninas um dia quando forem adultos? Que recordações os marcarão na sua vida de adultos?

 

Criar uma criança é pôr à sua disposição o mundo. É mostrar-lhe que tudo se pode fazer, mas que nem tudo se deve fazer, que há coisas que são erradas. É questionar sobre que tipo de ser estamos a formar. Que tipo de valores lhe estamos a incutir. Criar uma criança é mostrar-lhe a beleza das coisas. É ensinar-lhe o que é a integridade, a honestidade, o compromisso e também que todos os actos têm consequências. Quantos pais estão conscientes disto?

 

A carnificina das palavras...

 

Na veia carnificada corre a mão

Que lança o sal sobre a simetria da morte

Na paisagem de pedra rodopia a madeira da memória

O coração respira como um gargalo fechado

Que se redime no galope pueril de uma queimadura

Lunares gargantas empinam-se no gelo de cada mão

O corpo é um remoinho perdido no enredo das ruas

A respiração corta a direito a largura dos precipícios

Dos olhos sai uma imagem cinematográfica

De sangue que levita no vácuo das pedras

O centro do vento afoga-se

As mãos explodem

As raízes entranham-se na leveza púrpura do caos

A carne expôe-se à luz

A órbita dos incêndios expande-se

A foice corta o abismo da paisagem

As ervas ostentam uma elegância hirsuta

É o verão a dormir nos seixos dos espelhos

A respirar pelos músculos da paisagem

A luzir na transparência dos aromas

Todas as coisas correm na torrente que me cerca

As frutas...a escuridão...a doçura profunda de uma luz...

Solar... de estrela esgotada.

 

Sobra o peso anestésico das metáforas

Sobra a constelação do sono

Sobra a zoológica riqueza de um abraço

A música...o brilho marmóreo

A aterradora substância da água fundida

E a tremenda pontada nas costas

O extravio angélico das catedrais

Que se dispersa no ritmo desordenado de uma boca.

 

Lentamente a matéria circula pelo interior oco dos nomes

Um sopro invade a transfusão dos gritos

Organismos remoinham nas pálpebras

A alucinação dos pulmões clama por mais memórias

Vocábulos tornam-se instrumentos de lembranças

Na massa de cada pão há uma prancha que respira fogo

O mundo é uma noite..de medo...de chuva..de insubstância

A descarregar paisagens...a beber-nos por dentro

Como um enredo de loucos a rejubilar numa textura de gás.