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folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

Este que vem do outro lado

Este que vem do outro lado

E que procura no luar e na pedra o equilíbrio das aves

Este que se debruça sobre a poesia do silêncio

E que é como que um corpo dividido em mil palavras

Este que pálido tece o vazio com mãos de veias floridas

E que olha para a beleza das coisas como se estivesse em frente ao mar

Este que por vezes se esquece da aliança entre a alma e o infinito

E que guarda os dias numa ânfora feita de retalhos

Este que brilha na ressonância intratável das lajes

E que cospe sobre a estética obstinada do caos

Este que procura vestir-se de matéria intocada

E que acha que a alma das ruas se esconde na sombra das casas

Este que é um corpo de luz a vibrar na fantasia dos Deuses

E que não procura ser coisa nenhuma

Que se encanta com as escorrências do destino

Este que vem não sei de onde ...talvez seja uma pedra preciosa

A balançar nas mãos polidas do sol

E a quem um dia disseram que um poema é um caminho

Traçado nas esquinas vidradas das palavras.

 

Memórias de um tempo sem memória...

 

Houve um tempo em que se secavam uvas-passas para comer no Natal. Semeava-se, secava-se e guardava-se o feijão e o grão. Apanhavam-se as amoras selvagens e dele saía o delicioso doce de amoras. Vinha o tempo dos marmelos e do tomate e fazia-se a marmelada e o doce de tomate. Secavam-se ervas para fazer chás e penduravam-se os enchidos no fumeiro. Acartava-se a lenha para que no inverno o fogo não faltasse. Tudo se aproveitava, tudo era uma dádiva, as flores, os frutos, a madeira. Mugia-se o gado, ovelhas vacas e cabras, e fazia-se o queijo...puro. De tudo havia que tirar o sustento. E havia o linho e a lã para fiar e cardar. Era um tempo bonito, um tempo de saber e de sobrevivência. Um tempo como já não há. Um tempo que ficou parado na memória dos dias sem memória.