Este que vem do outro lado
Este que vem do outro lado
E que procura no luar e na pedra o equilíbrio das aves
Este que se debruça sobre a poesia do silêncio
E que é como que um corpo dividido em mil palavras
Este que pálido tece o vazio com mãos de veias floridas
E que olha para a beleza das coisas como se estivesse em frente ao mar
Este que por vezes se esquece da aliança entre a alma e o infinito
E que guarda os dias numa ânfora feita de retalhos
Este que brilha na ressonância intratável das lajes
E que cospe sobre a estética obstinada do caos
Este que procura vestir-se de matéria intocada
E que acha que a alma das ruas se esconde na sombra das casas
Este que é um corpo de luz a vibrar na fantasia dos Deuses
E que não procura ser coisa nenhuma
Que se encanta com as escorrências do destino
Este que vem não sei de onde ...talvez seja uma pedra preciosa
A balançar nas mãos polidas do sol
E a quem um dia disseram que um poema é um caminho
Traçado nas esquinas vidradas das palavras.