Pôr-do-sol
Já vi tantas vezes na minha vida o pôr-do-sol...que não quero mais caminhar na escuridão...
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Já vi tantas vezes na minha vida o pôr-do-sol...que não quero mais caminhar na escuridão...
Houve um tempo em que se secavam uvas-passas para comer no Natal. Semeava-se, secava-se e guardava-se o feijão e o grão. Apanhavam-se as amoras selvagens e dele saía o delicioso doce de amoras. Vinha o tempo dos marmelos e do tomate e fazia-se a marmelada e o doce de tomate. Secavam-se ervas para fazer chás e penduravam-se os enchidos no fumeiro. Acartava-se a lenha para que no inverno o fogo não faltasse. Tudo se aproveitava, tudo era uma dádiva, as flores, os frutos, a madeira. Mugia-se o gado, ovelhas vacas e cabras, e fazia-se o queijo...puro. De tudo havia que tirar o sustento. E havia o linho e a lã para fiar e cardar. Era um tempo bonito, um tempo de saber e de sobrevivência. Um tempo como já não há. Um tempo que ficou parado na memória dos dias sem memória.
A vida é feita com lascas de alma...
Um halo de luz desabou do céu
Um pintor desenhou uma tela de sangue
O suor escorreu ...a respiração rebentou
O pranto enrosca-se numa coluna de Juno
As rugas da memória cheiram a mitologia
E os cabelos ondulam no adormecimento do vento...
Sozinho rouco e alucinado
Grito que invento mundos que cheguem para todos
Mas no interior das casas vive a ausência dos abraços
E o mundo é um palácio quebrado pelo silêncio
Que se abre na medida exacta do mar...
Flor nacarada... gesto de Deus
Coração que ousa ser jardim
No fim da claridade o nosso corpo encontrará a paz
No fim da treva o sol separará o vazio dos corpos
E a água dirá: - estou exausta!
O espectáculo começou praticamente à hora marcada. O palco, intimista e despojado não era palco para uma sala como a Altice Arena. Bob Dylan a “jogar” à defesa, refugiou-se no piano e encostou-se à sua banda, de tal forma que as pessoas que estavam no topo oposto ao palco nem um vislumbre devem ter tido do artista. A banda era constituída por bons músicos,quem nem sequer foram apresentados. Houve umas três ou quatro músicas bem esgalhadas, uma versão do Don't think twice it's alright e de uma outra que não recordo agora, o resto foi arrastado e chato, por vezes dava até a impressão de que se estava sempre a ouvir a mesma música. Foi um Bob Dylan caquético que não comunicou com o público. Não houve nem sequer um agradecimento, ou outra qualquer palavra dirigida à audiência. Houve um encore, (quase por favor), e depois saíram sem sequer se dirigirem à boca do palco, parecia que estavam com pressa de perder o avião. Não tocaram uma única música daquelas que são intemporais, eu sei que não devemos viver no passado mas um Blowin in the wind ou um Mr. tambourine man, acho que toda a gente estava à espera de ouvir. Para mim, que tenho ainda uma harmónica comprada por causa do Bob Dylan, foi o matar de um tempo feito de romantismo, foi ver que The times they are a changin, mas que para o lado de Bob Dylan é para pior.
Do perfume que habita a pedra
Ergue-se a nostalgia de uma cidade branca
Como um promontório de cal e campanários
Como um regaço de prantos
Como um labirinto onde o coração se divide
Em linhas de claridade e desertos brancos
E habitava um brilho nos olhares extasiados
E surgiam praias de areias púrpura
Onde o silêncio era um mastro de seda
A duvidar da sombra... a mergulhar nas águas
A embranquecer os olhos
A esvaziar as enseadas...
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Há nos dias um fogo gelado... onde a alma suavemente se consome...
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Todo o Homem é um fim e um começo...e nada mais é... que um caos inexplorado...sempre sedento de si...
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Há um tempo que nos envolve...um mistério tímido que vive nos quartos
Enquanto a luz mancha a sombra infinita do partir....
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Toda a gente aspira a ser livre...esquecendo, muitas vezes, que primeiro é preciso libertar-se de si próprio....
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Tudo cabe dentro do mistério..até a ilusão de que tudo tem um significado...
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A poesia é o real transformado em belo...
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Há um caminho na imaginação que os homens esquecem...e que só as crianças conhecem.
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Em ti pinto o mundo..porque do meu corpo saem desejos coloridos..
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Quando vires submergir a noite...recorda-te que a manhã é a neblina do dia desconhecido.
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Levar a vida a sério...é perder o tempo precioso dos sorrisos
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Olho as horas que correm sobre as pedras imóveis... e nessa distância de mim...acredito que as palavras não sofrem...
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Gostamos de gostar e gostamos que gostem de nós, mas todo o gostar pressupõe conhecer
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Há um desassossego que nos sufoca os dias...sabêmo-lo bem...e no entanto somos incapazes de respirar a paz do tempo eterno, porque sentimos que há tanto para fazer no tempo que nos resta.
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Nos dias de hoje queremos tudo certinho e catalogado, abominamos o que não faz sentido, mas porque é que as coisas têm que fazer sentido? Não será o que não tem sentido uma realidade? Não vivemos nós num mundo onde nada tem sentido?Talvez a beleza da vida resida nas coisas que não têm sentido aparente , porque são essas coisas que nos fazem procurar algo que faça sentido e essa busca é incessante, porque nada está acabado nem definitivamente perdido.
O grito do silêncio ergue-se como um perfume
A brisa sopra como uma felicidade omnipotente
Dentro de mim ergue-se um sol de memórias
Dentro de mim há uma arca onde guardo a pedra, a flor seca, o tempo de nós
Olho para dentro desse tempo onde o mar secava o sal
Olho para essa lacuna de mim onde apodrecem os dias
E vi...refletida no chão a alegria de mais um dia...de mais um espelho baço
A erguer-se na intacta expressão dos meus olhos
Como um coluna de aves a voar sem destino
Mas sempre a subir...a subir...até serem apenas infinito...