Fogo que gela
Sei que venho de um fogo que gela
Sei que ardo nos dias que me abandonam
Sei que me consumo como uma imensa labareda que me ilumina
Até que nada me reste..até que nada me falte...até que nada eu seja...
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Sei que venho de um fogo que gela
Sei que ardo nos dias que me abandonam
Sei que me consumo como uma imensa labareda que me ilumina
Até que nada me reste..até que nada me falte...até que nada eu seja...
Que bom que é poder vogar na tona dos dias...sem nos importamos com a profundidade da vida.
(Inspirado em Almada Negreiros)
Meu mar sereno... onde caminha a hora das aves
Minha praia onde me esvazio do infinito que me cobre
Tuas ondas são navios onde me agarro
São teias onde floresço
São cavalos de luar debruçados sobre a minha alma
Nada mim sobrará depois da espuma
Nenhum pedaço de mim traçará um rastro na penumbra dos baixios
Não haverá rumo...nem triunfo...
Nem restos de flores a soçobrar nas correntes
Eternas correntes que correm lisas pelos caminhos do sal
Livres e soltas de amarras...
Como ventos assoprados por uma madrugada crua
Sozinha...sem restos de crinas ao vento...
A minha alma é um lago
Onde se refletem as cores dos dias
Um enorme poço onde uma pequena luz brilha no fundo
Bruxuleante...lacrimosa....
Espreito a minha alma
E vejo o meu vulto a dançar no fundo do poço
Não projecto sombra... sou uma figura de mim
Sou ao mesmo tempo como uma imagem exterior a mim
Onde todas as coisas se refletem...irrefletidamente...
Numa dança acrobática e ondulante...
Procuro romper com a minha sombra
Mas como posso fazê-lo sem romper a alma?
Como partir o espelho onde me revejo?
Como forçar a alma sem romper a sombra?
Como dar vida a esta imaterialidade?
Faço o meu vulto dissipado voltar à realidade?
Olho-me... e vejo um fantasma...aparentemente real...
Sou eu esta a sombra que me olha?
Esta aparição lívida e intangível de mim?
Ou uma irrealidade animada pela minha alma?
Vejo-me nitidamente decomposto em várias cores
Como quem espreita através do cristal
E na verdade sou eu...este corpo...esta alma...
Que imaterialmente predomina sobre a realidade!
Penso...logo desisto...
Não me quero chatear com filosofias...sou feliz assim...
Foi em fevereiro de 1921 que ela nasceu. O local era uma qualquer vila perdida no meio do vasto Alentejo. Foi à escola e fez a 4ª classe com distinção, como atestava o diploma daquela altura. Cresceu e o pai queria que ela casasse com um rapaz que ele próprio escolheu. Ela não aceitou. Ela gostava de outro rapaz.Belo, louro, de olhos azuis. Fugiram,ela engravidou e tiveram um filho. Belo, louro, de olhos azuis. Foram felizes. Mas houve um dia em que ele começou com uma tosse cava, profunda, era a tuberculose a dar o seu sinal. Não havia cura. Corria agora no ano de 1949 ela tinha ficado viúva e tinha a seu cargo um filho com 7 anos. Sozinha, não tinha forma de lhe dar a educação que ela entendia que o filho devia ter. Ela sabia que a educação e os estudos eram essenciais a quem queira singrar na vida. Pediu a uma pessoa de família que trabalhava em casa do Governador Civil do seu distrito se arranjava forma de colocar o filho na Casa Pia. E foi assim que ela veio para Lisboa. Ela não podia viver longe do filho. Mesmo assim, o filho sentiu-se abandonado. O filho nunca quis entender as razões da mãe. O filho nunca lhe perdoou o facto de ter sido enviado para uma instituição de caridade. Hoje, dos dois já nada resta., apenas estas palavras recordam a sua história.
A vida é absurda... devemos então vivê-la alegres, devemos matar em nós todo o sentimento de tristeza porque é muito mais absurdo vivê-la de forma triste, a palavra que todos os dias devemos utilizar é: disfrutar! Disfrutar de tudo o que o dia nos trás, disfrutar das chatices, rir-mo-nos delas como se fossem piadas contadas pelo destino. Devemos atingir uma espécie de nirvana que nos trará um estado de alma em que nada importa e tudo é alegria. Afinal a vida é isso mesmo Nada Importa, só é importante viver!
Vivemos numa miserável irrealidade
Recusamos a nossa pouca vida
Sem entendermos que ela é nossa pertença
E que podemos usá-la como aprouvermos
Ao acordarmos na manhã mais cinzenta
Podemos rolar do colchão
Premir o botão e mudar de canal
Escolher o canal da Razão vertiginosa
Lá há sempre qualquer coisa realizável
Num sítio ou outro podemos ser nós.
Podemos viver estólidos..ou viver de imaginação
Deixemos o mundo tangível tilintar lá longe
Parado como uma imagem desfocada...
Feita de memórias esquecidas...
E de contornos translucidamente inítidos.
Recorramos a essa imagem do mundo
Apenas como uma ideia guardada pela inutilidade
Das coisas que ostentamos na lapela como uma medalha
Ou que colocamos numa moldura
Estruturalmente voltada para a parede
Para que nos lembremos de a olhar ...de longe...
Paremos de catalogar sentimentos...amemos sofregamente...
E não nos apaguemos como uma cova noturna.
Soturnamente sós!
Quando ás vezes penso numa simples célula, quando penso na perfeição do corpo humano, quando penso na perfeição da natureza, na perfeição do sistema solar, na perfeição da nossa galáxia e na perfeição do universo, não posso deixar de sentir que essa célula, esse corpo humano, essa natureza, esse sistema solar e essa galáxia estão espantosamente ligadas ao universo infinito, tudo está ligado, então tal como não quero conhecer o homem que me construiu a casa onde vivo também não me preocupo em saber quem fez este magnífico mundo...mas, talvez seja esta magnificência universal o Divino que todos procuramos e que afinal todos podemos observar.
O que sobra de nós é apenas isto
Um mastro de silêncio
Um vento que se arrasta
Um azul de tempo que nos povoa
Como a uma videira da mais pura casta
Na brisa branca baloiça a limpidez do destino
O vazio da tarde desenrola-se nas pupilas
Há um temporal de estátua... cristalino
Há uma porta em mim a abrir-se para o vazio
De uma vaga que corre na vastidão da água
Como se nascesse de um tempo pequenino
Que no meu corpo feito de uma ternura sem memória
Se arrasta...
Diluem-se os instantes
Inclinam-se as memórias
Por detrás da esperança ficam passos
Por detrás dos rostos ficam rastos
Por detrás do vento...o próprio pensamento
E no caos da amargura fica a própria vida
Exposta ao vento...
Espuma repetida na lonjura
Verdade a ressoar na esperança
Tempo obscuro...tempo de criança
Densa mágoa a ressoar na náusea da ternura.
Na luz feita das cores que eu duvido
As aves partem soltas
Como se renunciassem aos galhos que as sustentam.
Despeço-me dos jardins onde germina o silêncio
Visto-me com o reflexo de outro que não eu
E vou...alheio aos deuses...
Como uma penumbra que destoa dos homens...
Em vão procuro nos lagos o reflexo das verdades
Em mim descubro as ruas do pecado
Caminho nas linhas retorcidas das tardes
Como uma náusea sem destino nem corpo onde habitar
Como uma guitarra..sem fado.
Mas as luzes brilham e paz perdura na chama das velas
Alheio a mim...ergo-me como um íman cego e surdo
À florescência das luzes que cegam o cais onde não embarco.
Sozinho..suspenso...no silêncio...no vento
A noite rumoreja sobre o meu esquecimento...