Passei o dia com o peito vazio
Passei o dia com o peito vazio
As ruas eram desertos de tédio que se colavam ao interior do tempo
E eu perguntava às paredes ácidas e aos confins do silêncio
Se os desertos têm fim
Se o tempo é uma estrela a iluminar cada casa
Se nas planícies...o canto das cigarras é apenas vento a embalar o destino
E pensava...
Será que nas indecifráveis luas também há caminhos de sombras
Será que lá poderia tocar o vazio dos relógios...
Relógios feitos de uma respiração imóvel
Ah! se eu pudesse desenhar as sombras do vazio
Ah! se eu me pudesse desenhar as minhas próprias sombras
Que constelações acenderia na minha mão calcada pelo medo
Que antigas respirações trepariam pela minha carne em êxtase
Como folhagens de secretos frios
De ostensivos males
De densas arcadas inacabadas
De poemas sombrios feitos na textura dos becos
Como se fossem coisas que há em mim
Como se fossem coisas que não há em nenhum lugar
Como se fosse o brilho misterioso de um areal em desalinho
E eu emergisse de um branco caudal de alma...