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folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

A ave voa num solene movimento

A ave voa num solene movimento

Na delicadeza do ar desenham-se as suas asas

E pára...fixa-se...é agora um ponto inerte

No vale embaixo homens procuram os seus próprios instintos

São homens-ave e sabem...que na dimensão de um céu austero

Há o princípio negro de tudo

Mas há também a beleza do universo a espreitar pela escuridão da alma...

 

 

Só não podemos ser anjos...

O sol arde num céu cinzento

Cai a luz de um fantasma sobre o vento

As tuas mãos procuram o vazio das marés

E porque há um anjo em cada rota

E em cada fogo um céu sinuoso

Um céu de vida e um céu de morte

Um céu de coral... ilegível...adocicado

Um céu que ao mesmo tempo te mostra que nadas num lago raso

Que vives na poeira das palavras

Que plantas versos na indelével tarde tempestuosa

Onde vive a tua respiração obcecada pelo medo das noites melancólicas

Esse céu acrobático e incestuoso é uma janela de prantos

Mas...será verdadeira essa janela por onde espreitas o grito da vida?

Acreditas mesmo que o deserto espera pelo refluxo dos teus sonhos?

Ou passarás a noite a tamborilar sobre as dúvidas que te afligem?

Verdadeiro é o grito...verdadeira é a respiração

Da tinta sai a forma das palavras

Os dedos tocam na viagem do tempo

E na água lacustre da insónia...és outro...és a fonte de ti

És a obsessão de um peito ácido...de um coração que se prolonga no espaço

De um poema que escreves sem saber porquê

Podemos continuar a ser corpos adiados

Podemos até cuspir nas trémulas e extasiadas flores

Só não podemos ser anjos...