O sol arde num céu cinzento
Cai a luz de um fantasma sobre o vento
As tuas mãos procuram o vazio das marés
E porque há um anjo em cada rota
E em cada fogo um céu sinuoso
Um céu de vida e um céu de morte
Um céu de coral... ilegível...adocicado
Um céu que ao mesmo tempo te mostra que nadas num lago raso
Que vives na poeira das palavras
Que plantas versos na indelével tarde tempestuosa
Onde vive a tua respiração obcecada pelo medo das noites melancólicas
Esse céu acrobático e incestuoso é uma janela de prantos
Mas...será verdadeira essa janela por onde espreitas o grito da vida?
Acreditas mesmo que o deserto espera pelo refluxo dos teus sonhos?
Ou passarás a noite a tamborilar sobre as dúvidas que te afligem?
Verdadeiro é o grito...verdadeira é a respiração
Da tinta sai a forma das palavras
Os dedos tocam na viagem do tempo
E na água lacustre da insónia...és outro...és a fonte de ti
És a obsessão de um peito ácido...de um coração que se prolonga no espaço
De um poema que escreves sem saber porquê
Podemos continuar a ser corpos adiados
Podemos até cuspir nas trémulas e extasiadas flores
Só não podemos ser anjos...