Uma flor tardia
Pisou a terra estranha onde as oliveiras guardavam o espaço das águias
Descreveu a curvatura do tempo como se fosse a iliquidez da memória
E foi então que descobriu as faustosas raízes do vento
Os seus passos tacteavam a maresia que se erguia da rubricidade da aurora
O ar trazia-lhe o desmoronar do odor da resina que se ergue da solenidade dos pinheiros
Pelos seus lábios perpassava o fim e o princípio da todas as eras
Pelo seu corpo corriam sóis e neblinas
Cansaços de quem está a um passo de ser Deus
Rotas de silêncios transviados
E ele ergueu as mãos e contou os céus
E pegou nas rédeas de Pégaso e voou de encontro ao seu infinito
Trespassou os seus véus e descobriu a linha curva dos sepulcros
Nasceu então em si a gloriosa fonte das lágrimas e dos risos
Teceu os espaço com estrelas virtuais
Como raios de sol cobrindo a ausência dos pássaros
E uma flor tardia irrompeu da lama
Onde um lugar sem futuro costura a foz dos seus sentidos
No canto da alma uma grinalda de música ergueu-se do lodo dos dias
Ele soube que era uma tardia prece
A ecoar na gélida folha da tarde...