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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Águas de novembro

E por mim passam ecos sonhos e estranhezas

E por mim descem grandes vagas de esperança

Mas sou eu que respiro por meticulosos poros

A inclemente força de um vento que me trás o ardor do mar

Na minha face se refletem as águas de novembro

Nos meus instantes há uma prisão de desejos

No meu peito há a ressonância de um tempo despovoado

E para além de tudo há um baile...uma cavalgada...um fastio

Que vive na minha boca de mar exposta aos ventos

Que afaga a acidez das grutas

Onde o tempo se apaga..se acaba...

Como o vaivém de uma onda coberta de algas...

Como o despedir de uma fonte misteriosa

Como uma faca que corta a lucidez dos anjos...

E que me abre o peito com a alucinação plena das horas...

Onde me deito...

 

Os desenhos inteligentes das crianças...

Conto esta história porque ela é uma lição, não para alunos mas para professores. Escola Primária de...(não interessa o nome). Na turma do 1º ano está a minha sobrinha com 6 anos. Na semana antes da Páscoa a professora manda as crianças fazerem um desenho, o tema é livre. Todas as crianças desenham algo a seu gosto. Depois das férias da Páscoa há uma reunião de pais. A mãe da menina vai a essa reunião. A professora informa-a das disciplinas onde a criança está bem e das que está menos bem, mas há um problema, a professora está indignada com o desenho da menina. Acontece o seguinte diálogo.

Professora - Antes das férias da Páscoa mandei os meninos fazerem um desenho a seu gosto, e não queira saber o que a sua filha desenhou.

Mãe - Desenhou algo de grave?

Professora - Vai ver, eu até guardei o desenho - a professora vai buscar o desenho e diz- diga-me lá o que é que acha disto.

Mãe- Acho que é uma boneca.

Professora - Uma boneca? Isto é uma mulher nua com peito e pelos na púbis.

Mãe - Eu ficaria preocupada é se ela tivesse desenhado um homem nu, mulheres nuas vê ela, a mim e à irmâ,( a irmã tem 14 anos). Mas já agora diga-me, perguntou-lhe porque é que ela fez este desenho?

Professora - Eu? Acha que eu ia perguntar a uma criança de 6 anos porque é que desenhou uma mulher nua?

Mãe - Eu acho que sim...mas eu vou buscá-la para ela explicar o desenho.

Professora -Não é preciso.

Mãe - Ai é...é.

A mãe sai e pouco depois entra com a filha.

Mãe - M... foste tu que fizeste este desenho?

Menina - Fui.

Mãe - E porque é que o fizeste?

Menina - Então....é o corpo humano! - diz ela com a sua voz suave  e sem pesos na consciência

Fez-se silêncio.A professora corou e a sua única reacção foi rasgar o desenho em frente da mãe e da criança.

Respeito muito a classe dos professores, mas aqueles que sabem ensinar, esta professora não está preparada para ensinar crianças e muito menos para entender a sua imaginação.

Para além do mundo azul das águas

Já no ar baloiçam as vagas feitas de vidro

Já os meus olhos se desfazem nas dúvidas do mar

Já em mim se cruzam labirintos

Já em mim se desenha o rosáceo abismo das verdades

Gostaria que um sol florescesse em cada chão

Que uma mão agarrasse a luz das pedras

E as rochas que suportam as anémonas

Se erguessem como colunas de espanto e de silêncio

Se para além do mundo azul das águas

O sonho ousar ser mais que areia

Se o vento ousar ser mais que carne

Então o meu lugar é feito de caminhos e de teias

A rolar...sempre a rolar...

 

 

A eutanásia em debate

Há uma espécie de luta nos debates sobre a eutanásia. De um lado estão aqueles que se acham no direito de impôr aos outros a sua concepção da vida. Do outro estão aqueles que pensam que se deve dar a possibilidade de escolher (entre viver ou morrer), a quem já não tem esperança e está em sofrimento, mesmo que esse sofrimento seja mitigado pelos cuidados paliativos. De um lado está uma maneira de ver as coisas imposta pela Igreja Católica, do outro lado estão os que acreditam que democracia é dar a possibilidade de escolha, uma possibilidade livre de dogmas e de falsas ideias de legalização da morte. Legalizar a morte é o elemento básico dos detratores da eutanásia, esquecem uma coisas tão simples como esta: é que quem não quiser praticar a morte assistida tem todo o direito de o não fazer, só podemos é negar essa possibilidade a quem está no fim da vida e não encontra razões para viver mais tempo em sofrimento. Dizem os que são contra que o que é preciso é desenvolver os cuidados paliativos, como se isso resolvesse o problema do sofrimento psicológico de quem já não se sente com força para enfrentar o seu fim. Nesta divergergente concepção de vida, uma coisa é certa, ninguém deve impedir ninguém de fazer com a sua vida o que bem entender.

O esplendor das palavras

Há na poesia uma maneira intensa de dizer coisas que não sabemos. Há na poesia uma ligação à alma que deseja exprimir-se de uma forma por vezes suave e outras vezes violenta. O esplendor das palavras não está nelas próprias. O esplendor das palavras está naquilo que os olhos vêm, nas coisas que a alma sente. O esplendor das palavras está no instante inexcedível em que o poema nasce e que obsessivamente que sair do nosso corpo, como um filho, ou como algo que nos possui.

 

 

Não te percas....

Não te percas nessas ruas onde o tempo estupidificou as árvores

Não te assustes com a perfeição estridente do caos

Tu és a luz a sombra e a penumbra

Tu és as mãos veementes que luzem no artifício das caras

Junto a ti corre a longa e fina alegria

E também o austero sinal de seres um mundo

Mas tu que também devoras o fogo e o contraponto do espaço

Que inventas a dicção poética das coisas

Que corres entre as sílabas e as praias

Ouves esse vasto temporal a luzir no escuro?

Esse temporal que incha o dorso dos navios

E que ressoa para além de todas as estátuas

Como se dedilhasse as cordas leves de uma cítara

Como se corresse descalço pelos calhaus do poente

E se equilibra num breve fio de luz

Inventando as abstrações que iludem os homens...

 

E tu que és a sombra pequenina

Que ondeias no azulado dos versos

Não te percas....

 

Dar tudo a todos

Acho bem que o PCP e o Bloco queiram dar tudo a todos. Acho bem que haja mais dinheiro para a cultura, saúde, educação, funcionários públicos, reformados, etc...Só não podem pedir ao governo que reduza os impostos, pelo menos enquanto tivermos a dívida astronómica que agora temos...

Acidente

Estás sentada na sala de espera do hospital

No teu peito rebenta o frio pesado das horas

Mas...não estás ali

Estás comigo lá dentro e as tuas lágrimas caem sobre o meu corpo empalado

Subitamente desce sobre mim um hálito fúnebre

Agarro-me a ti...sobrevivo...

E já não me sinto tão infinitamente só.