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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

A fusão de mim

 

Na orla de um tempo desmedido

Assentei os olhos...despi os barcos

Detive-me a ver os cisnes no lago verde do jardim

E cheirei no vento o teu perfume de jasmim

 

A solene sombra que por mim passava

Tinha pés de luz e capa de medusa

Era uma folha...era uma cor de ouro

Era um nada movendo-se no meu escuro

Era um espaço correndo dentro de mim

 

Naquela manhã aberta à luz que esfuziava

Despi os pés para pisar a neve

Era novembro que por ali andava

Era verão quando tu estavas

Era sobretudo a fusão de mim.

E era mais que tudo a fusão do fim.

Deixem que vos diga

Deixem que vos diga

Que do alto vem o sonho de quem habita a luz

Que na modulação do vento há uma planície de música

E nos recantos dos jardins

As flores lançam os seus insultos

Sobre quem adormece no nevoeiro cerrado à fantasia

 

 

 

 

Passei o dia com o peito vazio

Passei o dia com o peito vazio

As ruas eram desertos de tédio que se colavam ao interior do tempo

E eu perguntava às paredes ácidas e aos confins do silêncio

Se os desertos têm fim

Se o tempo é uma estrela a iluminar cada casa

Se nas planícies...o canto das cigarras é apenas vento a embalar o destino

E pensava...

Será que nas indecifráveis luas também há caminhos de sombras

Será que lá poderia tocar o vazio dos relógios...

Relógios feitos de uma respiração imóvel

Ah! se eu pudesse desenhar as sombras do vazio

Ah! se eu me pudesse desenhar as minhas próprias sombras

Que constelações acenderia na minha mão calcada pelo medo

Que antigas respirações trepariam pela minha carne em êxtase

Como folhagens de secretos frios

De ostensivos males

De densas arcadas inacabadas

De poemas sombrios feitos na textura dos becos

Como se fossem coisas que há em mim

Como se fossem coisas que não há em nenhum lugar

Como se fosse o brilho misterioso de um areal em desalinho

E eu emergisse de um branco caudal de alma...

 

Dentro de mim há um rio

Dentro de mim há um rio

Onde o peso dos dias aflora como um caminho estreito

Dentro de mim há uma sombra

Que se desprende da frescura da minha alma

Dentro de mim há um sol

Que se refugia na lonjura dos pensamentos

E se esquece do tempo onde é preciso modelar o barro dos dias

Tudo se amontoa em mim

Como restos de um tempo sem medida.

 

Dentro de mim há um escuro

Que me encobre como uma neblina feita de séculos

Em frente a mim há toda a estética de uma alegria pura

Em frente a mim empilha-se o deslumbramento da vida

E traço um risco na luz

E faço uma aliança comigo

E descubro na verdura do mar

A fúria única que une a paixão à vida.

A vida mistura-se no pensamento

 

A vida mistura-se no pensamento

Mas eu nunca quis ser a rocha rente às vagas

Nem quis afastar de mim o mau tempo

Nunca quis ser a pedra onde o vento embate

Nem a face luminosa da corrente

 

A vida mistura-se no corpo

Mas eu nunca quis ser a clareira a gruta ou a esteva

Nem quis ser a sombra que divide a claridade

Nunca quis ser o círculo do naufrágio

Nem o nome que não dizes ...simplesmente

 

A vida mistura-se nas ruas

Mas eu nunca quis ser mais do que um barco

Nunca quis ser mais do que um clamor

Nunca quis ser mais do que um rosto

Que renasce a um canto do poente

 

Vazios

Vazia a hora..vazio o vento...vazia a vaga

Que enche o pensamento

 

Vazio o pranto..vazia a força... vazio o voo da bala

Que cala o pensamento

 

Vazia a chuva...vazio o tempo...vazia a imagem

Que encanta o pensamento

 

Vazia a porta..vazia a costa...vazia a rua

Onde se passeia o pensamento

 

Vazia a mão...vazio o gesto...vazia a dor

Que se acolhe ao pensamento

 

 

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