Apetece-me abrir a terra
Apetece-me abrir a terra e sentir na mão o caroço do tempo
Apetece-me abrir a boca e sentir o uivo do vento...cá dentro...
Depois poderei ser o avesso de mim
A conjunção de uma alma a cintilar no meu breve ocaso
Ou um lugar onde nada mais se sente
Como a infinitude do mar...ou o breve respirar da espuma
Apetece-me lançar fogo às palavras que me queimam
Subir pela combustão negra dos carvões
E pisar o lodo que me queima os pés
Por vezes vejo a estrela cadente do futuro
Outras vezes sinto o meu reflexo caindo numa espiral de bruma
Sinto que não sou mais que um sinal apagado pela aspereza das pedras
Sinto que sou o instinto que corre nas águas salobras
Agarro-me a esse anjo desconhecido...sem nome nem paz
E vou pelo vai-vem incessante das tardes
Buscando no fundo do coração a viagem escondida
Ou o som puro de um instante transformado a mundo...