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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Procuro nem sei bem o quê

 

Respiro as fragrâncias escondidas na insónia

Pelo meu corpo passeiam-se as linhas proibidas

O meu corpo pulsa sempre que procuro o vento

Não há nada de inexplicável no breve instante em que o mar penetra em mim

Há apenas uma obsessão de ser eu

Há apenas um mundo escuro sem portas nem janelas

Um mundo cheio de canais onde se pode percorrer as horas de ninguém

Procuramos esse sonho essencial...essa amostra de nós

Queremos que as nuvens alarguem as fronteiras que ainda possuímos

Queremos que o horizonte nos banhe com as batalhas que perdemos

E que o vento faça ecoar a flauta que se esgota em nós

Procuro nem sei bem o quê

Será aquele instante em que o mundo se revela ?

Ou será que nunca aprenderei a escutar o que resta das paisagens?

Talvez na languidez da chuva acrílica eu encontre os despojos dos astros

Ou no caos das marés eu deponha a minha esperança

Não há respostas às perguntas que faço às areias do deserto

Ergo-me...purifico-me...sou o peixe voador...

Caindo por detrás de um ocasional ...copo de vinho...

Que misturo com o fel que me corre no sangue...

Construção

Com pouca coisa se constrói uma alma

Com pouco tempo se faz um deus

Mas...o que é preciso para erguer um homem?

Que brilho ressalta da imensidão dos seus olhos?

Que tempo ofusca o seu infinito?

Que onda se ergue da sofreguidão do mar e…

Vem mostrar-lhe o reflexo magnético da solidão?

E o homem curva-se por que não sabe...

De si....

 

A ausência de uma palavra...

Que quero deste mundo?

Que surpresa me consolará o cansaço?

Que sonho se absterá de me perseguir?

Olho o espelho...e o meu nome desaparece por detrás das rugas

Olho o espelho e vejo o tempo refletido no meu olhar

Sei que há um sentido trágico nas coisas

Mas também sei que há uma metáfora escondida na pele de cada um

E assim o espanto cresce...enchendo páginas com naufrágios e eclipses

Há palavras proibidas...magias de areia e música

Sopros de corações disfarçados de gaivota...chuva e despedidas

Em todas as distâncias há um enigma...uma voz a corar de errância

Uma proa que ressuscita do branco sal.

 

Que navio rola no teu vento de acaso?

Que tristeza vive nos relâmpagos da alma?

Que dor produz a alquimia dos desejos?

Equações cruzam o Cruzeiro do Sul

Olhos afagam o universo das algas

As mãos despedem-se dos perfumes outonais

E há rotas a florir no coração das florestas

Veredas insanas a clamar por recônditos lugares de calmaria.

 

Dentro do meu pulso há um mar de vento e alegria

Dentro do meu corpo reside a bússola que me traz a paz

E se eu um dia for um pequeno lugar

Uma pequena luz a cintilar na margem do tempo

Então terei cumprido a minha rota

Terei saldado os meus desejos

Serei o corpo que se ergue sobre os vendavais

A fluorescente pele da luz

Ou talvez...a ausência de uma palavra...partida...

 

Apetece-me abrir a terra

Apetece-me abrir a terra e sentir na mão o caroço do tempo

Apetece-me abrir a boca e sentir o uivo do vento...cá dentro...

Depois poderei ser o avesso de mim

A conjunção de uma alma a cintilar no meu breve ocaso

Ou um lugar onde nada mais se sente

Como a infinitude do mar...ou o breve respirar da espuma

Apetece-me lançar fogo às palavras que me queimam

Subir pela combustão negra dos carvões

E pisar o lodo que me queima os pés

Por vezes vejo a estrela cadente do futuro

Outras vezes sinto o meu reflexo caindo numa espiral de bruma

Sinto que não sou mais que um sinal apagado pela aspereza das pedras

Sinto que sou o instinto que corre nas águas salobras

Agarro-me a esse anjo desconhecido...sem nome nem paz

E vou pelo vai-vem incessante das tardes

Buscando no fundo do coração a viagem escondida

Ou o som puro de um instante transformado a mundo...

 

Ajudar ou ser ajudado...uma luta de egos...

Tendo a concordar com Schopenhauer quando diz que ninguém deseja ajudar os outros; pelo contrário , as pessoas apenas pretendem dominar e aumentar o seu próprio poder. Se receber ajuda é ficar de alguma forma em favor, aceitar ajuda significa prescindir da sua liberdade e submeter-se ao poder dos outros. Nunca é fácil aceitar ajuda, é muito mais fácil ajudar porque isso engrandece o ego daquele que presta a ajuda, ao mesmo tempo que empobrece o amor-próprio do que tem necessidade de ser ajudado.Claro que a ajuda tem múltiplas facetas, pode ser financeira, mas também pode ser espiritual, como seja escutar os desabafos de alguém, ou ter outra forma qualquer, mas, em todos os casos, há a dependência de quem é ajudado.

Acho, por isso, que ninguém gosta de ser ajudado, mas que por vezes é impossível recusar a ajuda que, em boa verdade,  leva as pessoas a ficarem dependentes dos outros.

 

Nas praias onde o vento corre forte e nu

Nas praias onde o vento corre forte e nu

Onde os presságios se transformam em chagas

E os mistérios se encontram entre a sombra e a luz

Escuto as vozes que se erguem do crepúsculo e do fogo

Sinto o frio que percorre as metáforas do meu corpo dissonante

E encontro na magia das algas a transbordação eufórica do sonho

Aqui começa a distância que não percorro

Daqui saem os sinais salgados da esperança

Por aqui passam metrópoles e vozes de barcos errantes

Aqui ergo o meu tridente por detrás da noite

Que se senta nua...sobre o meu corpo enigmático.

Já muitas vezes quis cavalgar os relâmpagos do acaso

Já muitas vezes desisti de ser destino

Mas também já acordei no coração de uma tempestade

E abri os olhos à agonia imaterial dos veleiros

Como se fosse um peito aberto...florido...imaginário

Ou um cais desperto ao logaritmo das palavras

O que me faz perder na absurda linha do horizonte

É se há um local...onde eu possa nascer dentro de uma nuvem de silêncio

E erguer-me como um fogo irrepetível

Ao mesmo tempo que me transformo na geometria intemporal dos astros

E me torno no poema...que nunca foi escrito...

 

 

Sonho ou caos na nova organização da sociedade?

 

 

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Está a iniciar-se uma maravilhosa nova era, a era em que a máquina vai libertar o homem da escravidão do trabalho. O problema é que o homem vai ficar sem trabalho e sem forma de sobreviver dignamente. Pensa-se que nos próximos dez a vinte anos, quarenta por cento dos empregos vão desaparecer, e não são apenas os empregos que exigem menos qualificações, são também os empregos ligados aos sectores chamados de colarinho branco ou colarinho azul. A robótica e a inteligência artificial irão mudar o paradigma da sociedade, irão transformar esta forma de viver que agora conhecemos por outra que ainda não sabemos bem qual é. Se é verdade que nesse novo mundo laboral as pessoas não necessitarão de trabalhar mais que três ou quatro horas por semana, também é verdade que a maioria das pessoas ficará sem meios de subsistência, ou a viver abaixo do limiar da pobreza, situação que já acontece em 1/6 dos lares norte-americanos. Pensando neste futuro que esmaga e aterroriza a imaginação, a Finlândia está a dar os primeiros passos na criação de um rendimento base, garantido pelo estado, a todas as pessoas. Há quem pense que esse rendimento vai desincentivar as pessoas de trabalhar, mas porque é que há-se ser assim se de qualquer forma as pessoas não terão trabalho? Outro dos problemas é que se as pessoas não tiverem um meio de sobrevivência, também não irão consumir os produtos que a tecnologia põe à sua disposição. De facto o sonho dos empresários que é o de terem empresas sem trabalhadores está a concretizar-se, simplesmente se não for criado o tal rendimento base, esse sonho será um pesadelo. Acredito que a sociedade arranjará formas de ultrapassar esta situação, ou então será o caos, coisa que os ricos não querem nem lhes interessa.

 

Azul a perder de vista...

 

Na tragicidade das metrópoles enfastiadas

Há uma despedida de mar excessivo

Um estigma de dor amortalhada...uma fé no entardecer das matas e dos risos

Como se o tempo rolasse por dentro de um cais vazio

E as horas se arrependessem de apregoar sonhos

E todas as vogais trouxessem consigo a surpresa da fala

Azul a perder de vista...sílaba a perder de tempo...

Mágica passagem de vento alquímico que faz dobrar a pele das tempestades

Quem é este que treme enquanto a terra dança?

Que terror emerge da algoritmia da ondas?

Que lábios crescem por dentro da espuma

Essa espuma feita de esquinas e de ângulos rectos

Onde os desencontram se abrem à rotina das ruas...

 

Instintos

 

Tenho o instinto de um navio que nunca naufraga

Tenho a promessa de ser circulação de sangue a estoirar no garrote da alma

E mesmo que venham chuvas...que aumentem as distâncias...

Que os signos se deleitem com a oclusão de um martírio

Que a chuva traga os instantes em que insano bebo a sua água errante

Terei sempre dentro de mim a atrocidade de um santuário...