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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

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Poesia e outras palavras.

Pensamentos

O tamanho de um homem não está na sua altura...está no silêncio que guarda dentro dele..

Por  muito que a distância nos separe...há sempre um azul a aproximar-nos...

As lágrimas são como crisálidas que ganham asas...só que em vez de voarem...escorrem pela tristeza...

Intensas são as noites...em que os infernos se erguem dentro da nossa alma...

Claros são os dias...em que percebemos que somos apenas carne e ossos...ligados pela angústia...

 

Quando visitamos a sepultura de alguém o que é que pensamos?

Quando visitamos a sepultura de alguém o que é que pensamos? Fiz esta pergunta a mim próprio ao ver uma mulher a falar para a sepultura de um ente querido. Talvez fosse o marido, não sei. Acho que perante uma sepultura não há muito a dizer nem a pensar. Alguns acreditam que quem morre está ali, à sua espera, para que faça uma espécie de catarse às saudades que sente, e para que lhe traga algum alívio. Há muitas coisas que podemos fazer numa sepultura. Podemos limpá-la, arranjá-la, colocar flores, e podemos recordar os momentos que passámos com a pessoa,(que agora já não é pessoa, mas sim o que restou do que já foi uma pessoa),mas, os mortos continuam mortos,continuam distantes, e nada é mais vazio que pensar que o morto está ali à espera da nossa conversa.

 

Os cardos que pisaste...

 

Acendem-se as mãos nas pétalas suaves do vento

O luar...o mar...tudo escorre do círio do tempo

O mel...a fúria...o retrato que arde na distância de um lamento

Fechada a vida...dispersa a infância...o rio corre agora livre e ágil pelas veias

Os cardos que pisaste... as cordas em que te prendeste

Os caminhos que inventaste

Nada resta das asas com que voaste

Mas lá ao longe...timidamente surge a flauta bravia

Surge o canto e o lamento...surge a voz..do tempo

Espalha-se a noite nas pétalas da névoa

As plantas ressurgem frescas e lisas

Gotas de ti assomam à boca da manhã

São como esmeraldas...verdes...esperançosas

São sílabas gastas temerosas

São tudo o que tu és...

 

Se falares nos nomes das coisas que descem do tempo

Se desceres dos arpões que se enrolam nas algas

Se uma rajada de vento te arrastar para dentro da tua a rutilância

Ergue os olhos ao frio que nasce

Lança um brado ao silêncio das pedras

Sopra todo o teu mar para dentro de uma concha... e vai...

Parte como quem nasce de si

Inventa luzes como quem conhece o escuro

Desfaz as palavras que se enrolam na alma

Ergue-te como um gladíolo...ou uma espora

Pica o mundo com a tua voz de gelo e vidro

E nascerão flores em ti

E todos os mundos se acolherão em ti

E serás o dono da tua ausência

Terás a lucidez do voo das aves

Possuirás a frágil aragem das manhãs

E verás os nenúfares na beira lago...felizes...

 

 

Oiço o vento...

Nas minhas mãos carrego o vidro dos dias

No meu olhar tilintam fantásticos mundos

No meu corpo forrado de tule negro...nascem gestos de rios

E peço à terra que me mate a fome de espaço

Que na minha alma adormeçam as memórias dos medos

Oiço o vento...oiço o eco dos seus uivos aguçados

E a noite é um ácido que me penetra na pele arrepiada

Sinto a sede...sinto os murmúrios do deserto que se lava em mim

E quando o frio me sobe pelos ossos....quando se aloja nos meus sentidos

Lembra-me a impotência de ser pálpebra aberta ao sonho

E penso nos dentes que rangem e no sangue que corre... à solta...

Como se levasse o medo a todos os recantos do meu corpo

Como se fustigasse a chama da vela que acendo ao pranto

Mas ergo-me...intacto...estilete e memória

Sede e cidade a clamarem por mais luz

Porque aos vencidos...resta-lhes a sombra...

 

Demasiada informação faz-nos perder a capacidade de sentir...

 

Hoje com a massificação da informação, já poucas coisas nos despertam a atenção, ou nos fazem pensar. Ouvimos constantemente tantas notícias sobre a guerra que já nada nos toca os sentimentos. Bem podemos ver a bomba que explodiu e matou dezenas ou centenas de pessoas. Bem podemos ouvir falar do suicida que levou com ele dezenas de vidas inocentes. Ficamos com pena? Ficamos! Mas vemos e não vemos. Sentimos e não sentimos. Estamos amorfos. Ver a morte na televisão tornou-se um hábito. Mas há a guerra, e para saber o que é a guerra não é preciso lá ir, mas, é preciso ver perto de nós os resultados da guerra. E eu vi. Eu vi os estropiados pelas minas que eram colocadas nas picadas nas nossas antigas colónias. Um dia, visitei o lar onde viviam antigos soldados e oficiais que tinham combatido em África. Soldados que tinham ficado sem pernas, outros sem braços, um ou outro sem os quatro membros, uns tetraplégicos, outros paraplégicos . Uns sofrendo de problemas psicológicos, por causa do stress da guerra. E ainda há os que lá morreram, eu conheci dois ou três, que viviam na mesma terra que eu. Eu, que não fui à guerra, vi ali a guerra. Eu senti ali a guerra. E só vendo os que sofrem com a guerra é que podemos perceber a enormidade, o absurdo e também a política sem sentido que levou tantos jovens inocentes a matar, a morrer, e a ficar a sofrer para o resto da vida. Mas hoje, a guerra continua em tantos lugares do mundo, e nós continuamos alheados do sofrimento daquelas pessoas. Porque hoje, o sofrimento, passou a ser apenas uma rúbrica para preencher noticiários.

 

Céu de silêncio

 

Não sei o que me traz este céu de silêncio

Não sei que fascínio encontro nas pedras

Que medida tem a esperança?

Que glória existe na cinza dos instantes?

Em mim...se esconde o inferno e a beleza dos cristais

Foi a mim que coube a rudeza dos séculos e a perdição dos vícios

E se levanto o olhar...é apenas para ver se as palavras se desprendem de mim

Se saem de mim...se eclodem em mim...

Como correntes feitas de ferro e cinza

Como pequenas fontes de prazer

Como perdições que rastejam para fora de minha alma

Como cantos de almocreves...dolentes...sentidos...sem idade

Estáticas... as veias pulsam no breve tempo dos astros

Anéis de ferro desprendem-se das trevas

Nenhum de nós dará o primeiro passo para a amargura

Nenhum de nós quer entoar a canção da agonia

Entre a primeira vida que houve e a primeira morte que nasceu...

Ficou a saudade...ficou a frescura de uma noite sem tempo

Ficou um caudal de mundos desconhecidos

E para além de todos nós

Para além da diluição de todas as vidas

Há os lagos onde se espelham as nossas feridas

Há abstratos cataclismos...cores nas faces...risos esbatidos

E se do absurdo silêncio se levantasse um chão dorido

Se o céu se abrisse ao nosso acenar

Com que mão o faríamos?

Se todo o nosso ser vive na ilusão geométrica da alma?

 

 

A Internet pode servir as causas sociais.

 

É possível aproveitar o que de bom nos traz a Internet e pô-la ao serviço de causas sociais. Falamos muito nos sem-abrigo e nas crianças institucionalizadas, mas o que é que podemos fazer para os ajudar?

Podíamos começar por criar uma plataforma onde se inscrevessem empresas e entidades que trabalham com essas pessoas. Depois cada empresa, contactava a instituição e dizia que disponibilidade tinha para apoiar uma criança ou um sem-abrigo, indicado por essa entidade. Seria assim uma espécie de tutor. Com as dezenas, ou centenas de milhar de empresas(bastava que uma pequena parte delas aderisse), que existem em Portugal, era suficiente que cada uma apoiasse uma criança ou um adulto, para se resolver grande parte deste problema social.

 

Mulheres de negro

Mulheres de negro...retratos de asas feitas de fumo

Mulheres que voam por dentro de um tempo feito de solidão

Mulheres que geram filhos...que inventam céus

Como se ousassem ser eternas.

 

Ali vai a eternidade enlaçada no colo de uma mulher

Em si desperta o tempo do sonho e do caos

Além inventam  imagens inexplicáveis...falas gastas

Coros de músicas impossíveis

É a vida...a paixão...a pedrada que acerta no corpo gasto

O futuro esconde-se no esvaimento do riso

Resta-te pouco...bem pouco...talvez encontres um céu...

Que te compreenda...ou que não se esconda...

 

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