Nos poros do vento
Nos poros do vento descansam mansas poesias
No fundo das lendas rasgam-se as solidões
E os sonhos...esses rebeldes travos de melancolia
Que se erguem do fundo do chão e dos séculos
Como mundos riscados por mares de água corroída
Olhos que viajam e que esperam pelas distancias
Solidões de astros a rasgar as trevas
De uma linha que nos separa do chão desencantado
No fundo dos meus braços erguem-se veredas
E todos os pássaros se despedem da terra deslumbrada
Há uma viagem...um parapeito...uma janela...
Há um corpo debruçado na campina e na agonia
Há uma estreita válvula de fogo a consumir os dias
E o sol a brincar às crianças
Crinas louras feitas de sombras...luzes e pombas
Tudo calmo...tudo absorto...tudo eterno...
As estátuas morreram na brusquidão das almas
Os risos pedem que os deixem passar pelas margens dos fantasmas
E ninguém pensa na nortada que se solta das amarras das galés
Ninguém sonha com desertos
Nem com finos traços de vidas... e de sinas lidas nas linhas das mãos …
Que já não sentem que são mãos
Ninguém diz: - atirem-me pedras...corroam-me as carnes...espreitem por dentro de mim
Ninguém diz: - sou a ilusão da porta fechada...sou o vislumbre da dor inconsciente
Sou a pedra que se arraste pelas escuras gavetas da noite
Ontem vi a lua cheia de si...ontem tornei-me indefinível
Ontem fui a paisagem cheia de luz..o anfiteatro das farsas...
Bebi a saudade com quem boceja
E soube que nenhuma flor se ergue da morte
Que nenhuma porta de abre aos batimentos das folhas ressequidas da alma
Que nenhuma viajem se faz sem que a luz decline
E o coração se erga!