Busco...sei lá o quê...
E vejo...a ilusão que se arrasta pelo corpo do sonho
Para lá de mim...a multidão que ofusca o nevoeiro que me cobre
Para lá das sombras...o côncavo clarão da luz a acenar-me
A arrastar o seu hálito de vida...a fundir-se na largura de um rio sem destino
A transformar-se na síntese da glória de ser o fio condutor da farsa que represento
Do meu corpo saem raízes...da minha alma caem abismos
Em mim se erguem as veias feitas de um chão que não piso
Ergo ao alto todas as derrotas...todos os infernos e todas as solidões
Semeio astros no sopro dos dias que se esvaem em espumas de sonho
E as pedras que me atiram...e as pedras que atiro...
São apenas prolongamentos dessas luzes e desses clarões que me ofuscam
Ponho as verdades que não digo nas asas que uma ave que não voa
Sólidos são os degraus que não subo
Vastos são os silêncios que não procuro
Luto para não tropeçar no fim que desconheço
Busco a brasa que me queima...aquela que não deixo tocar-me
Busco...sei lá o quê...
Talvez a aresta que me rasgue a noite
Talvez o solitário raio que cai de um sol antigo
Talvez eu próprio...