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folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

Sei que sou feito de nadas...

 

Desperto com a árida penumbra cobrindo a luz que oscila na minha agonia

Invento astros para não me queixar da solidão

Afio punhais nas pedras do tempo...corto a direito as palavras que se escondem

Era bom que os anéis movediços dos deuses me descobrissem

Era bom que as palavras se deixassem escrever

A mim...basta-me o verão...

E essa quimera de ser consumido pelas margens do rio onde passeio

 

Sei que sou feito de nadas...

Mas amanhã sei que poderei ser feito de tudo

Sei que poderei conter em mim todos os raios que rasgam os céus

Enquanto espero que o tempo se afunde no destino movediço dos astros

Esperarei também que a morte invente uma consolação ... só para mim

E os pássaros se passeiem pela minha pele gasta

Amanhã...sim amanhã...o amanhã que desgasta

E me basta...

 

Histórias da minha rua - o cavalo

 

Quando eu era criança, na rua onde eu vivia, habitava também uma família muito pobre. Eram eles, pai, mãe, onze filhos e um cão, o Oriental. Eu costumava brincar com o filho mais novo dessa família, era uma criança franzina que tinha a mesma idade que eu, penso que na altura seriam cerca de cinco ou seis anos. Por vezes, quando a fome apertava esse miúdo, à noite, vinha bater à minha porta a pedir comida. Nunca lhe foi negada, ainda mais sendo ele meu companheiro de brincadeiras. Um dia, logo de manhã, ele chegou ao pé de mim e perguntou-me se eu não gostava de ter um cavalo. Um cavalo? - Perguntei admirado. Sim um cavalo, mas a fingir, é que eu podia ser o teu cavalo, e mostrou-me uma corda que passou pelos ombros e por debaixo dos braços a fingir que eram as rédeas. Lá fomos brincar, eu a fingir que era o cavaleiro ele a fingir que era o cavalo. Após algumas corridas, ele pára e diz-me: - agora tens que dar de comer ao teu cavalo. Fui a casa e sem dizer nada à minha mão trouxe um pedaço de pão. Algumas corridas depois ele novamente: - o teu cavalo está outra vez com fome e queria comer uma banana. Fui a casa novamente buscar uma laranja. Novas corridas e lá deu de novo a fome ao cavalo . Agora o teu cavalo queria comer mais um bocado de pão com manteiga. Fui a casa e como ele queria o pão com manteiga tive que pedir à minha mãe. Ela admirou-se do meu pedido e perguntou porque é que àquelas horas da manhã eu já queria pão com manteiga, uma vez que tinha tomado o pequeno almoço havia poucas pouco tempo. É para o meu cavalo- disse eu. O teu cavalo? Mas tu não tens cavalo? É a fingir é para dar ao.... não me recordo do nome dele, nem o diria se me recordasse...então a minha mãe mandou-me chamar o miúdo e deu-lhe o pequeno almoço.