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folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

Quando visitamos a sepultura de alguém o que é que pensamos?

Quando visitamos a sepultura de alguém o que é que pensamos? Fiz esta pergunta a mim próprio ao ver uma mulher a falar para a sepultura de um ente querido. Talvez fosse o marido, não sei. Acho que perante uma sepultura não há muito a dizer nem a pensar. Alguns acreditam que quem morre está ali, à sua espera, para que faça uma espécie de catarse às saudades que sente, e para que lhe traga algum alívio. Há muitas coisas que podemos fazer numa sepultura. Podemos limpá-la, arranjá-la, colocar flores, e podemos recordar os momentos que passámos com a pessoa,(que agora já não é pessoa, mas sim o que restou do que já foi uma pessoa),mas, os mortos continuam mortos,continuam distantes, e nada é mais vazio que pensar que o morto está ali à espera da nossa conversa.

 

Os cardos que pisaste...

 

Acendem-se as mãos nas pétalas suaves do vento

O luar...o mar...tudo escorre do círio do tempo

O mel...a fúria...o retrato que arde na distância de um lamento

Fechada a vida...dispersa a infância...o rio corre agora livre e ágil pelas veias

Os cardos que pisaste... as cordas em que te prendeste

Os caminhos que inventaste

Nada resta das asas com que voaste

Mas lá ao longe...timidamente surge a flauta bravia

Surge o canto e o lamento...surge a voz..do tempo

Espalha-se a noite nas pétalas da névoa

As plantas ressurgem frescas e lisas

Gotas de ti assomam à boca da manhã

São como esmeraldas...verdes...esperançosas

São sílabas gastas temerosas

São tudo o que tu és...

 

Se falares nos nomes das coisas que descem do tempo

Se desceres dos arpões que se enrolam nas algas

Se uma rajada de vento te arrastar para dentro da tua a rutilância

Ergue os olhos ao frio que nasce

Lança um brado ao silêncio das pedras

Sopra todo o teu mar para dentro de uma concha... e vai...

Parte como quem nasce de si

Inventa luzes como quem conhece o escuro

Desfaz as palavras que se enrolam na alma

Ergue-te como um gladíolo...ou uma espora

Pica o mundo com a tua voz de gelo e vidro

E nascerão flores em ti

E todos os mundos se acolherão em ti

E serás o dono da tua ausência

Terás a lucidez do voo das aves

Possuirás a frágil aragem das manhãs

E verás os nenúfares na beira lago...felizes...