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folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

Sou eu?

 

Estranho ponto pousado entre o espaço e o rio

Sou eu? Ou é a luz a desafiar-me para a longa viagem das aves

É o silêncio das veredas? Ou é a estrada a dizer-me....vem!

Mas eu alastro...alastro por dentro da chuva e dos olhos que não me vêem

Alastro por dentro de todas as fugas e de todos os ventos

É sempre assim...quem fui? Que espera inunda a minha alma feita de noites?

Se corro por entre a vida e a morte...que distância fica entre mim e a minha alma?

Há uma cisma na lua...há uma ausência de mim na chaga dos dias

Há um charco de onde não se foge...

Brincamos nos olhos dos outros...e quando a primavera chega...florimos...

Como narcisos...como desertos....como fomes de sermos outros...

Ninguém vê nem ouve os demónios que nos invadem

Ninguém sente as finas redes que nos tolhem as asas

Ninguém percorre a distância que nos cobre de negro

Oiço um pássaro...ou será um poema de Celan que esta ave anuncia?

Por entre a amargura do tempo...reparto-me em agudas lâminas

Por entre o espaço de um segundo...vivo a plena eternidade!

 

Sei que sou feito de nadas...

 

Desperto com a árida penumbra cobrindo a luz que oscila na minha agonia

Invento astros para não me queixar da solidão

Afio punhais nas pedras do tempo...corto a direito as palavras que se escondem

Era bom que os anéis movediços dos deuses me descobrissem

Era bom que as palavras se deixassem escrever

A mim...basta-me o verão...

E essa quimera de ser consumido pelas margens do rio onde passeio

 

Sei que sou feito de nadas...

Mas amanhã sei que poderei ser feito de tudo

Sei que poderei conter em mim todos os raios que rasgam os céus

Enquanto espero que o tempo se afunde no destino movediço dos astros

Esperarei também que a morte invente uma consolação ... só para mim

E os pássaros se passeiem pela minha pele gasta

Amanhã...sim amanhã...o amanhã que desgasta

E me basta...

 

Histórias da minha rua - o cavalo

 

Quando eu era criança, na rua onde eu vivia, habitava também uma família muito pobre. Eram eles, pai, mãe, onze filhos e um cão, o Oriental. Eu costumava brincar com o filho mais novo dessa família, era uma criança franzina que tinha a mesma idade que eu, penso que na altura seriam cerca de cinco ou seis anos. Por vezes, quando a fome apertava esse miúdo, à noite, vinha bater à minha porta a pedir comida. Nunca lhe foi negada, ainda mais sendo ele meu companheiro de brincadeiras. Um dia, logo de manhã, ele chegou ao pé de mim e perguntou-me se eu não gostava de ter um cavalo. Um cavalo? - Perguntei admirado. Sim um cavalo, mas a fingir, é que eu podia ser o teu cavalo, e mostrou-me uma corda que passou pelos ombros e por debaixo dos braços a fingir que eram as rédeas. Lá fomos brincar, eu a fingir que era o cavaleiro ele a fingir que era o cavalo. Após algumas corridas, ele pára e diz-me: - agora tens que dar de comer ao teu cavalo. Fui a casa e sem dizer nada à minha mão trouxe um pedaço de pão. Algumas corridas depois ele novamente: - o teu cavalo está outra vez com fome e queria comer uma banana. Fui a casa novamente buscar uma laranja. Novas corridas e lá deu de novo a fome ao cavalo . Agora o teu cavalo queria comer mais um bocado de pão com manteiga. Fui a casa e como ele queria o pão com manteiga tive que pedir à minha mãe. Ela admirou-se do meu pedido e perguntou porque é que àquelas horas da manhã eu já queria pão com manteiga, uma vez que tinha tomado o pequeno almoço havia poucas pouco tempo. É para o meu cavalo- disse eu. O teu cavalo? Mas tu não tens cavalo? É a fingir é para dar ao.... não me recordo do nome dele, nem o diria se me recordasse...então a minha mãe mandou-me chamar o miúdo e deu-lhe o pequeno almoço.

 

Histórias da minha casa#1

Havia em casa dos meus pais uma parede cheia de fotografias antigas. Eram fotografias a preto e branco, sépias desbotadas e outras onde o amarelado do bolor deixou a sua marca. Havia até uma em que eu, com três ou quatro anos, me empoleirava num banco e dava a mão ao meu pai fazendo pose para a fotografia. Mas também descobri uma coisa, o meu pai nunca sorria para as fotos, tinha sempre o mesmo rosto fechado, como se tirar uma fotografia fosse a pior coisa do mundo. Nesse aspecto saí a ele. Sempre que alguém me tira uma foto e me pede para sorrir, em vez de o fazer, acabo sempre com um ar esgazeado e nem percebo porque é que as pessoas riem para a câmara fotográfica. Mas o que eu quero dizer é que um dia me sentei na sala a olhar aquela galeria de fotografias de pessoas que eu em grande parte desconhecia. Era o meu bisavô materno de bigode e pose séria, casaco e colete e com alfinete de pérola na gravata . Era o meu avô paterno junto a um bispo e com um enorme machado a cortar lenha, (parece que esse meu avô trabalhava num seminário católico. E no meio de tantas fotos lá estava aquela criança que eu não conhecia,(mas que era eu), de mão dada a um sujeito,(de cuja imagem ao tempo eu não lembrava,o meu pai), rodeado pelas árvores de um jardim.

Um dia, quando fiquei com a casa de família, aquelas fotos continuavam a atormentar-me. Não sabia se aqueles meus antepassados estavam ou não fartos de comer o pó que descansava nas molduras, se queriam mesmo estar a espreitar quem visitava a casa, se não se sentiriam como eu me sentia perante as suas fotos, vazio. Resolvi tirar as fotos da parede e acho que agora é que eles finalmente descansaram.



 

Ainda não nasceste...

Crescem as praias na boca dos barcos

Frágeis cristais desenham silêncios

Ventos espreitam na sombra das águas

E tu...estátua queimada por oblíquos sóis

Falas-me do tempo em que os astros teciam húmidos amores

Tu que descansas o rosto na alma dos pássaros

Tu que adormeces na proibição das horas

E te esvais como um relógio sem tempo

Tu que és sol e mar e horizontes

Tu que cresces na aridez do tempo

E que vais de água em água...de amanhecer em amanhecer

Como se corresses perante o olhar atónito do mundo

Dormes sobre a tua infância

Como um romântico explorador de penumbras

Dormes sobre os sorrisos e as histórias e os invernos

Ainda não nasceste...e já dormes....

 

E se em vez de trabalharem 35 horas semanais os funcionários públicos trabalhassem apenas 30 horas por semana?

 

A 1 de julho vai entrar em vigor o horário das 35 horas semanais para a função pública. Durante a vigência da troika, houve cortes nos salários e no subsídio de natal, o Tribunal Constitucional, aceitou estes cortes por serem apenas cortes temporários. Se,( com o acordo dos trabalhadores), o Estado reduzisse o horário de trabalho de 35 para 30 horas,e reduzisse os ordenados em 10%,( penso que isto seria constitucional),como há cerca de 800 000 funcionários públicos, em teoria seria possível o estado contratar mais 80 000 pessoas sem aumentar os custos. Com este horário, teria que passar a haver,(nos casos onde se trabalha por turnos, como na saúde, por exemplo), quatro turnos. Essas 80 000 pessoas que entrassem seriam para reforçar o número de médicos, enfermeiros, pessoal auxiliar, segurança, educação, e nas outras vertentes do estado seria possível ter dois turnos, um das 8 às 14 e outro das 14 às 20. Com estas alterações o estado podia prestar um melhor serviço aos cidadãos sem aumentar os custos. Por outro lado aqueles que aceitassem este novo horário teriam muito mais tempo livre para os filhos e para si próprios. Ninguém duvide que devido às novas tecnologias, o futuro se vai escrever com menos horas de trabalho e mais divisão por todos, desse mesmo tempo de trabalho.

 

Onde as aves se perdem...

Ali...ao longe...

Vejo o versátil mistério de um sono que ondula no perfume dos segundos

Ali...ao longe...

Vejo-me como quem respira pelo voo das águias

É manhã...e cai sobre mim um ar gelado...velado...

Como se na indefinição dos céus o meu corpo de homem ondulasse na aragem

E depois...as memórias fluem....os braços não abraçam ….os dedos desesperam...

E depois...os sentidos são como orquestras desafinadas

São como correntes presas ao sonho das colinas que além espreitam

Fino é o galho onde o meu corpo se prende

Fina é a melancolia que se arrasta pela velatura dos sonhos

Há nuvens...há cantos...há sombras ensimesmadas que se alojam no meu corpo

Sou a gora o respaldo do mistério que ondula na roda do amor

Sou a respiração e o voo dos cabelos ao vento

Sou o fio que apruma o meu fantástico sonho de fantasma

O toque leve do temporal que lava a planície distante

Espreito por dentro do vento...que invento...

Comparo-me com a invernia que despe as amendoeiras

E com a terra vazia onde as mãos não tocam

Comparo-me com o fumo que baila na praia vazia

O aço do meu rumo... quebrou-se

O titânico esforço que fiz para traçar o meu retrato sem rasuras...afundou-se

Desatei os nós do destino...perdi a minha raiz...

Sou agora...apenas uma pedra que se afunda no lago caótico dos dias

Como se vivesse na antecâmara de mim

E os meus lábios fossem instrumentos impassíveis....colossais...

Que nasceram de um impossível deserto

Onde as aves se perdem...e o cinzento desabrocha...

 

 

 

 

Infinito...

 

Quando eu souber que é na minha pele que descansa o frio que me envolve

Que os meus pés pisam o fundo das sombras e os morros do mar

Que o luar vibra com a tristeza dos pássaros

Então...espreitarei o fundo de mim perante o cansaço das flores

Tecerei longos mantos com os débeis fios da aurora

Cobrirei o meu esquecimento das coisas com a bruma espessa da infância

Vestirei a minha vigília com a chama de um tempo apagado

E por entre o espaço e o cansaço que me resta

Viverei...como um império de sorridentes ventos

Como uma dança que volteia na imobilidade das chamas

Queimando os dias... queimando as pontes que não posso atravessar

Queimando o mundo e o convés dos instantes que se prendem a mim como faróis

E são esboços de linhas rectas...

Ocasos de silêncios que rolam pela superfície das prisões que me cercam

Que eu atei a mim...como sombras...como barcos...como nós que não desato

Como mirantes de vidas passageiras que desaguam em rios de águas desconhecidas

Náufrago de silêncios....brancura de deuses assentes em estepes desertas

Desfaço-me em grãos de areia que rolam pela minha ansiedade

Como sonhos..como crinas...como sepulturas de almas envoltas em finas asas de cristal

Que assim se vão....de névoa em névoa...de mundo em mundo...

Como mistérios colados aos claustros loucos das catedrais

Como vibrantes e voláteis desejos de eternidade

Como marcas de passos deixados na planície melancolicamente branca

Onde vibro...no fascínio de ser indeterminadamente... corpo que  canta...

Ao infinito...

 

 

Pequenos gestos que engrandecem um homem...

 

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Lima de Faria com 97 anos, cientista português a residir na Suécia, desenvolveu uma teoria que contraria a teoria darwiniana sobre a evolução das espécies, deu-nos alguns exemplos, que agora reproduzo, sobre o que é um grande homem.

 

Quando lhe disseram, por exemplo, que queriam dar o seu nome ao agrupamento de escolas de Cantanhede impôs três condições. Queria que os meninos fossem um dia assistir ao nascer do sol, que tivessem um outro dia dedicado apenas a apanhar minhocas e andar na natureza e que fosse reservado um outro dia ainda para distribuir rebuçados aos alunos. Infelizmente, os pedidos acabaram por nunca ser acatados. “Há sempre uma desculpa.”****

 

Quando lhe disseram que queriam dar o seu nome a uma rua de Cantanhede recusou a homenagem que lhe pareceu uma “coisa altamente estéril” e fez uma contraposta. Preferia que fosse criado um prémio para os melhores alunos do 12ºano. Ficou estipulado que o prémio seria de 750 euros e, mais uma vez, António Lima de Faria tinha condições. Desta vez era só uma: “Um prémio para dar ao melhor aluno no fim do ensino secundário, para rapazes e raparigas, e que fosse dado sem obrigação. Fizessem o que quisessem ao dinheiro, isso era obrigatório.”***

 

Eis alguns dos seus pensamentos:

 

“Sê autêntico. O importante é fazer um trabalho sério. Só o trabalho sério é que perdura.”***

 

Os grandes rios são criados pelos pequenos afluentes.”***

 

A maior mentira não é a que está escrita...é aquela que nunca se escreveu...porque é essa, que pela omissão, permite a manipulação das pessoas...é esse  filtrar permanente da informação que permite que se enganem as pessoas.****

 

****textos tirados do jornal público...