Sou a cidade...
Eu...debruçado sobre o meu vazio...
Pego na noite como quem agarra uma queixa
Sou a cidade...e o lento circular do vento conduz-me ao tempo dos silêncios
A noite não quer saber do cais que brilha na insónia
Na suspensão da luz há um ritual de cedros fluorescentes
Límpidas são as paredes...altíssimas são as vontades
Pelas janelas espreitam rostos inacabados
Nas fímbrias do azul espreitam estrelas transparentes
É o destino a chamar... a clamar por mais ruas
Onde as folhas carcomidas das faias se ergam dentro de nós
Como realidades indistintas...como sóis de trazer por casa
Como perfumes de coisas intransponíveis
A vida é feita com a brancura das mãos
As palavras são instantes largados no papel
O luar é uma teia que nos devora...
Como um fogo de estátua a acenar na brisa dos instantes
Como uma luz quebrada...como um mar de céu...calmo
Como um vazio de barco...que passa rente ao nosso promontório
Sem direcção nem forma...apenas um barco... liso...de chão sagrado
Que voga na ressonância da nossa alma...roxa de frio...