Subitamente acordar...
Podem as palavras saltar a margem que nos separa
Pode o riso desmascarar a primavera
Pode até um raio de sol pisar os olhos de um homem
E as praias tecerem esperas invisíveis
Pode a nossa pele dar flor e erguer-se como uma tocha
Pode não haver princípio para o riso...nem alma nas flores das camélias
Pode o impossível voo das pombas enternecer a órbita da luz
Se as tardes se propagarem na superfície enfastiada do tempo
Que sejamos finas pegadas
Que depressa os dias nos levem em direcção às folhas que caem dos sótãos
E os sonhos..esse entoar de árias desconhecidas
Que nos levam...que nos tocam...
Como serpentes que despertam no fundo de nós
E se enrolam ao corpo com olhos de frenesim
Como ruas...como naufrágios...como metáforas que nos mordem
Despertar e ver que tudo é muito fácil
Descer ao lado inútil da chuva...e deixar acontecer
Subitamente acordar... e ser...