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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Sal!

Banho de luz...fina seda...austera alegria

Nas paredes vive a sombra das árvores descompostas

Impetuosa luz indefinida...que dedilha memórias de barcos sem rumo

Um dia acreditámos viver na bolha de um tempo feito de metáforas

Um tempo de palavras e águas livres...límpidas... como crepúsculos oscilantes

Derrubámos muralhas...não por gosto...por necessidade

Subimos promontórios apenas para ver mais longe

Conhecemos os recônditos cantos do corpo

E quando todo o tempo se ergueu em nós...fomos como água que se evapora...ficámos...

Sal!

 

Onde estamos...

Onde estamos...nós... os que oscilam no vazio

Nós...os se lavam nas margens opalinas da noite

Como fugazes sóis...como estremecimentos de exílios

Nós...aqueles que já não querem nada

Que já não procuram nada

Porque sabem que de uns lábios vazios nascerá um outro poema

Porque sabem que de cada nuvem descerá uma luz

Que nos lavará do medo e do silêncio

Que nos trará a húmida e cálida felicidade

Nós...animais emboscados em falsas esperanças

Onde estamos?

 

E isso nos basta...

 

Por acaso sabes que  mar se espraia nos teus olhos?

Que mitológicos navios aproam às memórias de um tempo salgado?

Não sabes...não sabemos...porque somos sublimes...

Porque caminhamos sobre a sublimidade das águas

E nada nos interessa mais que a brandura das palavras

E nada queremos mais que o esquecimento das batalhas

A maré sobe-nos pela pele...e com ela vem o beijo do vento

E isso nos basta...foi para isso que viemos...

E aqui estamos...

 

Não esqueço...

E nós...que crescemos sob todas as dores

Que somos escassos perante o azul vivo do mar

Que queremos ser mais que uma inscrição na pedra

Sabemos...desde pequenos...

Que somos frágeis varas de salgueiros a acenar ao vento

Sabemos...que por entre os arbustos espreita o gosto da vida

Que o infinito dura mais que o tempo...e que os tronos caem...

Como pétalas...como deuses...

Como eufóricos traços desenhados no ar por um papagaio de papel e sombras

Erguemos a cabeça...somos gentis...assombramos as normas da respeitabilidade

Só porque não podemos ser outra coisa...ou porque não queremos ser outra coisa

Vamos por declives em direcção sabe-se lá a quê

Demoramo-nos nas praças onde os pombos revolteiam os ares

Pobres bichos...doentes como nós...esfomeados de liberdade

Não me esqueço que um dia tomei o gosto da vida...e gostei...e foi bom

Não esqueço....

 

Tão longe do mundo...tão perto da vida...

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A cerca de dez minutos da Expo, entramos num outro mundo, a Reserva Natural do Estuário do Tejo.

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 Aqui existe um passeio pedestre à beira do Tejo com cerca de seis quilómetros de extensão. Aqui é um local privilegiado para a observação de aves migradoras e também algumas residentes.

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 Como é a época dos flamingos, este post é acerca deles.

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 Lá andam nas suas vidas, e nem querem saber de quem passa...

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 Aqui também há os barcos da comunidade de pescadores, os chamados avieiros.Sobre eles um dia farei um post.

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 Este é o alfaiate, ave escolhida para símbolo da reserva.

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 Só mais uma imagem dos flamingos...

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 E por agora terminamos com alguns patos. Estes são abundantes na primavera até agosto podem ser observadas várias espécies. Calcula-se que existam aqui mais de duzentas mil aves migradores, umas vêm passar cá o verão, outras o inverno, é o caso dos flamingos.

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 E para quem estiver interessado, o passeio ribeirinho fica na Póvoa de Santa Iria.

 

 

 

 

Madrugada..

 

Que vês na mitológica praia onde a noite não é mais que uma solidão?

Que sabes das coisas em que não pensas?

Será que pensas nas coisas que não sabes?

Madrugada...onde mora a altiva idade dos fantasmas?

Madrugada...onde mora a insatisfação  cansada do exílio dos dias

Madrugada...onde a insatisfação traça no céu uma linha sem imaginário.

Passos curtos...longa rota...aurora de ferro

Espero...que o horizonte seja mais que uma linha flutuante...uma barca

Dispo-me...o corpo livre...a alma presa...

O vento ergue-se por dentro do meu tempo

Basta um minuto...para que os olhos se fechem e as dunas respirem

E as estrelas emudeçam...e....sejam como luzes pregadas num céu de hulha

Pego no futuro...é agora...já o tenho...estóico... penso que tenho tudo

Desço por este desvão em direcção a um tempo raso

Mas chove nos candeeiros apagados...não há luz na retina das ruas

Algo se quebrou...algo se partiu na gruta do oráculo

Foi o tempo e a raiva...foi o escuro e a fala...

Foi o mundo!

 

Imóvel...

 

Imóvel...como pó a desfazer-se numa côr irreal

Fecho-me dentro de um espelho onde vislumbro o segredo da chuva

Não regressarei...mesmo que os grilos acordem a noite

E os morcegos adornem a lua

Fechar-me-ei devagar...como se não houvesse vento

E as flores das camélias fossem rostos em canteiros desanimados

Soprarei...e todos os planetas tremerão com o meu gélido bafo

Todos os silêncios descerão a pique...

E o cimo do mar soçobrará na volúpia suave da luz dos faróis

Será a coreografia da luz...o tempo dos destinos...o mundo

Na noite a vida gira em caleidoscópios de vazio...nada diz...sofre...

Tece hipóteses de futuro com gramáticas impossíveis

A alegria recosta-se nos telhados...assoma pelas janelas...tudo brilha

A alma renasce...o fim acaba...a manhã cresce.

 

 

Anónimos desejos

Anónimos desejos percorrem-me a pele

Se for preciso aprenderei a cerrar os olhos...a construir paredes

Ah....e também aprenderei a perceber a fonética do mundo

Depois...talvez tenha uma ideia...um sonho sem esperança...uma ilusão

Depois...quem sabe...serei um meridiano a assomar a um sol imaginário

Viverei como vivem os parasitas...nem pequeno...nem grande

Apenas um homem...civilizado...a erguer-se como um troféu por dentro da sua hemostasia

Lá ao fundo da rua... esperará por mim uma hipótese de contentamento

Desfazendo-me da minha imobilidade de argonauta sem tesouro

Deslocar-me-ei por dentro dos enredos...como quem constrói cenários fantásticos

Da minha apoplexia nascerá de uma veia que se fartou do sangue

E uma maré de cal...apagará a minha sentença de morte...irónica e despretensiosa

E...um fogacho de mim iluminará o espaço...sempre o espaço...

Para sempre o espaço...a acenar.

 

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