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folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

Quem sabe!

 

Tenho uma cadeira onde sento os sonhos

Tenho um peito onde escondo as sombras

Tenho uma secreta esperança de um dia poder crescer dentro de uma carícia

E fazer de mim um elíptico mar onde me seja possível construir silêncios

 

Há por vezes em mim uma solidão de absinto...um sabor a terra...

Sei...que há tantas solidões como quartos...ou camas...ou apenas olhares

Sei que há ecos que são mais que ecos...são aves a soçobrar...estrelas a cair

E o inverno a descer pelas colinas...a enverdecer os campos..a rasar as casas...

A falar de outros frios que aí vêm...sóbrios e fartos como a chuva

Ou como a face deserta das cidades...

 

Se eu pudesse tocar na loucura...só para senti-la como a sentem os loucos

Se eu lá encontrasse um caminho perdido...

Seria também louco...ou seria uma sentinela a guardar o destino...

Que encontrou um insignificante bafo de luz que me iluminou?

Quem sabe!

 

 

Vazios...

 

Tirei de dentro de mim tudo o que não prestava

Os apertos no coração...os fantasmas primaveris...

O emaranhado dos sentidos...a fome de ser mudança

Tornei-me naquilo que sempre quis...

Mergulhei em regatos de fantasia...despertei da agonia

Fui o solstício de mim próprio...

Matei a sede em orvalhos cristalinos...e ardi

Como às vezes ardem os pássaros que não têm onde poisar.

 

Há um cheiro de memória a enfeitar as sombras

A frescura da manhã assinala o despertar da verdade que queremos esquecer

Se tivéssemos asas...seríamos aves soltas na indecisão dos dias

Seríamos inesperadas fontes onde a luz se encandeia...e os olhos se alegram

Abriríamos as portas do passado...não para entrar...mas para sair...para voar...

 

Já não temos a medida da paz

Perdemos a infância nos volteios da vida

Quem diria que somos os mesmos que ontem corriam pelos valados

Que ontem procuravam abrir as ruas desconhecidas do sonho

E dizer...que tudo era nosso...

Como se fosse nosso o dever de sermos donos de nós...

Como se tivéssemos mesmo que ser quem somos...

Permanecendo ausentes...das coisas...

 

Renascemos...petrificados em poses de estátuas nuas

Sensíveis...saboreamos a chuva que afoga as mágoas

E nem sequer sabemos qual é a inconsciência do tempo

Que mansamente...nos fala de felizes segredos...

Vazios...