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folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

Sozinho...

 

Não importa quem faltou naquele dia

Estavam lá os que sabiam o meu nome

Estavam lá aqueles que nunca me faltam

Estavam lá os que crescem na minha vida como que passa a rasurar os dias

Os que conhecem os sabor das fogueiras na praia

E que regressam...sempre que as castanhas despontam nos ouriços...

 

Encostado a estes cedros meço o meu tamanho

Tenho a altíssima aura destes cedros que plantei..cresci com eles...podeios

E mesmo quando a névoa desponta nos seus galhos...e o frio se desprende das manhãs

Eu vejo toda a altura do meu sonho...

 

Se eu consentisse eu saber quem fui no meu passado

Se eu quisesse saber que marés a minha vida vazou

Encontraria uma medida para mim...saberia a que sítio regressar

Como uma criança a quem trocaram as voltas na noite

Mas acabou por encontrar a falésia branca de onde não caiu...

 

Na transparência de mim...seguro o queixo...prego os olhos na face de alguém que passa

Não falo...esqueci a mornura das palavras

Volto sempre a este lugar...mais feito de gestos do que se respirações

Habito as amarras sólidas do poente...sozinho...

 

Ignoro todas as coisas...

 

Por entre a extensão luminosa da manhã

Desci a rua como quem persegue um destino

Procurei  por entre a sombra plumosa das árvores-do-algodão

A extensão cinzenta de mim próprio

Confundi-me com as folhas e com as flores que ressaltam nas janelas

Atirei longe o meu olhar como quem procura a esperança...num ponto qualquer do céu

Caminhei pelo sol... toquei na rudeza das casas ...perdi a idade

Sou agora o cume de qualquer coisa...o pérfido...o que bebe os sons das aves

Arrepio-me...alucino...hoje é tudo diferente dos outros dias

Há feras à solta...há castigos invernais...qual será o que me espera?

 

Quem se sujeita a andar na rua...

Sabe que por entre o azul das sombras se passeiam laços de amizade

E que a irrealidade espreita pelo canto dos rouxinóis.

 

Por entre a beleza dos dias...o corpo senta-se nos ressaltos das portas

As rugas crescem....os frios virão...

É o início dos silêncios... a aportar ao cruel desfilar do destino

Prometi que um dia correria pelo perfume das ramadas

Que um dia faria companhia a qualquer ave solitária

Tão certo como saber que um dia a geada me cobrirá o sono

E as avencas perdoarão a minha falta de atenção

No fundo...ignoro todas as coisas...

Mas perdoo-me...