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folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

Abandonos...

Lembraremos sempre o começo obsessivo da floração das amendoeiras

Lembraremos sempre as abelhas empoleiradas nas flores côr-de-rosa

Teremos sempre o riso feliz de uma idade inapagada...

Seremos sempre essa idade sem fim...esse selo de mel e galho quebrado

Um dia hei-de trazer-te o sossego mais profundo...o mais insensato

Encontrarás então a marca de um rosto assomando por detrás das pedras

Poderemos então falar dos sentimentos que se imobilizaram em nós

Das coisas que despontaram nas flores dos narcisos

Das palavras que encontrámos nos caminhos pedregosos...

Tiraremos a humidade viscosa das horas que estalam no peito

Como uma afronta...ou como uma tela pintada por pássaros loucos

Que se perderam nas sílabas assustadas dos sonhos...

Vagabundos de contos de fadas...profundos...quebrados...

Abandonados...

 

E tanto mar

 

Uma flauta...um pequeno sonho a jorrar verdades

Jethro Tull... songs from the wood

As notas ondulam...e eu já me perdi na espessura íntima da vida

Mesmo que alguém me chamasse...eu diria que me esqueci de acordar

Fechei as persianas...e o fumo do que sou sufoca-me

Quem sabe que pés tem a solidão que se levanta em silêncio...

Quando a ponta dos nossos dedos se consome nas ruas húmidas de saudades...

 

Somos símbolos estagnados de quê?

Pomos nomes às coisas...só para chamarmos as coisas por nomes

Afinal...Deus não tem nome ...não precisamos de o chamar...

 

Um dia acordamos e somos pássaros perdidos em gaiolas de pedra

E tanto mar...e tanto mistério...e nós já sem querer saber...

 

 

 

 

Incêndio...

 

Meu pequeno dedo que apontas para uma terra onde nenhum coração te toca

Indicas o caminho onde nenhuma boca bebe

Que terra é essa onde os caminhos vão dar a ti

E tu... finges pairar num sonho sem limites...

Inventaste um jogo de sombras...tornaste-te uma folha vogando na limpidez das fontes

Resta-te o outono..e o vazio das águas...

 

A chuva enche o teu vazio...completa-te

Em toda a parte irrompem os teus delírios...gritos de fogo...cheios de lava negra

Como alegrias entornadas na valeta sólida das madrugadas...

 

Quero que me digas em que ser te transformaste

Que peixe vermelho mora dentro de ti

E me leves...a ver o lugar onde a espuma amansa os dias

 

E se um barco de ferro maciço esperar por mim

Se os meus joelhos dobrarem em sinal de paz

Asseguro-te que serei a poalha de neve que te aquecerá...

E de ti farei o meu mastro..sem fim...

 

É por isso que eu me levanto

É por todo o impossível que eu anseio

É por isso..que no inverno...

Me incendeio...