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folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

A floração dos corpos

 

Acordo e alguém me diz: envelheceste

A noite condensou-se no gelo que bebeste

O corpo permaneceu...sagrado

Por fora...coberto de presságios...por dentro...

Rasgado.

 

Imóvel...intacto...

Semente de palavras esquecidas

Constato que a felicidade brilha no astro que se espreguiça na água do lago.

 

Cobre-me a noite...cobre-me a vida

Estranhas asas em mim desfalecem

Como se a eternidade fosse sentida

Dentro de sentimentos que não permanecem.

 

De bom grado aceito o espelho onde a noite se instala

De mim...nada lembrarei um dia

Nem o frio aquático da inocência

Nem as asas furiosas da bala

Nem a semente que me arrasta para os espaços

E que cresce dentro da carcaça da minha melancolia

E se encosta à minha eterna dormência...

Feita com os meus olhos já gastos..

 

Diz-me o que ficará das nossas falas

O que restará das nossas conspirações

Entre o outono que vem e a estrela que cai

Que espaço nos resta para a floração dos nossos corpos?

 

 

Fio de tempo

 

Guardo dentro de mim essa vida construída na insónia

Esqueço o passado...atirei-o ao vento...e sigo sereno e límpido como um lago

Habituei-me às sombras...aprendi a ler as horas no silêncio das florestas

Nenhum caminho me detém...nenhuma aflição me acode

Sou um frágil fio de tempo a oscilar num pêndulo indefeso.

 

A nada posso atender...tenho todo o tempo que preciso...sigo

Dissolvido numa réstia de mim...imagino caminhos...profecias...ilusões

Habituei-me a ser o barro...o barco...o cais onde aporto

Sou o lume suspenso na paciência da noite...

Sou aquele...o tal...a minúscula pedra preciosa...

Que o tempo vai polindo...

 

Vivo escondido dentro dos pássaros

Hei-de encontrar a ressonância de mim

E mesmo que nos meus pés ecoe a poeira dos caminhos

Haverá sempre um lugar onde possa lançar a minha âncora esfaimada

Porque há um lugar inconfundível

Onde as velas não temem o vento

E os olhares e os rostos...não fogem...

 

Que aconteceu hoje?

Que pessoa procuro dentro da alma que se esvazia na calma da tarde?

Pluma de serenidade a procurar o chão...a cavalgar o vazio das ruas

Como quem respira pelos poros das pedras

E não se encontra cá...