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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

A nova sociedade

Estamos a caminhar para uma nova forma de sociedade. Uma sociedade onde tudo é virtual. A verdade, a realidade, o relacionamento social, a democracia, já deixaram de ser certezas para se tornarem em algo que não sabemos muito bem o que é. Hoje muito dificilmente sabemos onde nos situamos, porque há sempre a possibilidade de sermos manipulados pelo aproveitamento que se faz das pessoas através das tecnologias. A própria comunicação social não está isenta de culpas, já que o seu objectivo único não é informar, mas ganhar audiências. E são os jovens os mais atingidos e mais propensos à desinformação, uma vez que a maioria desconhece a história. Não é por acaso que estão a emergir as extremas direitas fascistas, isto só é possível por desconhecimento e também por esquecimento do que se passou ainda não há muitos anos atrás.

 

Arrepio.

 

Moro numa espessa camada de tempo

Ato-me à imensa fantasia da noite...

 

Quando estava triste...de mim pendia um doce sonho

Partir para os recantos mais remotos...e soltar um agudo grito de liberdade

Hoje...não preciso do grito...tenho o frio do inverno por companhia

Hoje...já sei o que sinto...e nada me soa a passado...

Hoje...sento-me ao meu lado...

E vejo como tudo mudou.

 

Falar de mim é o mesmo que dizer que a mim me falto

É o mesmo que nascer numa pintura de Dali

É o mesmo que vogar numa onda desconhecida

E sentir que estou mesmo...ali...

 

Hoje de manhã juro que vi a orla do tempo a passar

E que nesta neblina feita de barcos e vidraças

Mesmo lá por detrás...

Estava a velhice a acenar...

E o mar...esse mediterrâneo insaciável

Esperava...sempre... ver-me passar.

 

Mergulho na luz do fim da tarde

Como quem levanta os olhos para o espanto

Fissura de mim...catedral de paz...

Onde está essa tela que adivinho ver

Onde está o rosto que adivinho ser...

Teu...

 

Há uma tragédia em cada pássaro

Há uma deriva em cada retrato

Há uma terra calma..em cada alma

E uma hora branca em cada frio

E dentro de mim um...arrepio.

 

 

Bebo o mundo..

Bebo o mundo...fixo os olhos...e ali estou

Sou a pedra rugosa do silêncio...onde me sento para falar..

Comigo.

 

Deixo-vos aqui o meu retrato...a minha alma submersa

Sei que todos têm consigo a pressa das manhãs

Mas para que me serve...para que me interessa?

Se tu te levantas e eu me afasto...que nos resta?

 

Se te encontras no rio que entardece

E uma alegria sobe pela maré

A noite foi uma fotografia...muda

O dia... uma força a esconder-se na alma...desnuda..

Que o sol ternamente...aquece...

 

 

O futuro da democracia.

 

Começa a tomar forma a teoria de que a longo prazo a tomada de decisões em democracia será exercida de baixo para cima. Alguns teóricos, acreditam que os governos podem consultar a opinião das pessoas,(através da internet), antes da tomada de decisões que afectem a maioria dos cidadãos. De facto existe esse potencial democrático na web, potencial esse que apenas está dependente da decisão dos governos quererem mesmo governar com a opinião da maioria das pessoas. É claro que os governos não irão colocar todas as decisões nas mãos dos eleitores, mas estes podem ser consultados acerca das leis mais importantes. Quando um dia isto acontecer de certeza que confiaremos mais em quem nos governa, porque termos a possibilidade de avaliar a decisão de qualquer governante é um exercício democrático que ultrapassa o mero acto de votar e depois nada mais poder fazer a não ser aceitar todas as decisões de quem está no governo. É isto que,(espero eu e outros), venha a ser o futuro da democracia.

 

A floração dos corpos

 

Acordo e alguém me diz: envelheceste

A noite condensou-se no gelo que bebeste

O corpo permaneceu...sagrado

Por fora...coberto de presságios...por dentro...

Rasgado.

 

Imóvel...intacto...

Semente de palavras esquecidas

Constato que a felicidade brilha no astro que se espreguiça na água do lago.

 

Cobre-me a noite...cobre-me a vida

Estranhas asas em mim desfalecem

Como se a eternidade fosse sentida

Dentro de sentimentos que não permanecem.

 

De bom grado aceito o espelho onde a noite se instala

De mim...nada lembrarei um dia

Nem o frio aquático da inocência

Nem as asas furiosas da bala

Nem a semente que me arrasta para os espaços

E que cresce dentro da carcaça da minha melancolia

E se encosta à minha eterna dormência...

Feita com os meus olhos já gastos..

 

Diz-me o que ficará das nossas falas

O que restará das nossas conspirações

Entre o outono que vem e a estrela que cai

Que espaço nos resta para a floração dos nossos corpos?

 

 

Fio de tempo

 

Guardo dentro de mim essa vida construída na insónia

Esqueço o passado...atirei-o ao vento...e sigo sereno e límpido como um lago

Habituei-me às sombras...aprendi a ler as horas no silêncio das florestas

Nenhum caminho me detém...nenhuma aflição me acode

Sou um frágil fio de tempo a oscilar num pêndulo indefeso.

 

A nada posso atender...tenho todo o tempo que preciso...sigo

Dissolvido numa réstia de mim...imagino caminhos...profecias...ilusões

Habituei-me a ser o barro...o barco...o cais onde aporto

Sou o lume suspenso na paciência da noite...

Sou aquele...o tal...a minúscula pedra preciosa...

Que o tempo vai polindo...

 

Vivo escondido dentro dos pássaros

Hei-de encontrar a ressonância de mim

E mesmo que nos meus pés ecoe a poeira dos caminhos

Haverá sempre um lugar onde possa lançar a minha âncora esfaimada

Porque há um lugar inconfundível

Onde as velas não temem o vento

E os olhares e os rostos...não fogem...

 

Que aconteceu hoje?

Que pessoa procuro dentro da alma que se esvazia na calma da tarde?

Pluma de serenidade a procurar o chão...a cavalgar o vazio das ruas

Como quem respira pelos poros das pedras

E não se encontra cá...

 

 

 

As horas vazias..

As horas vazias...as tardes encantadas

Sagrada fonte esquecida na noite

Penumbra...janela iluminada...

O corpo cobre-se de palavras...

E a vida escorre pelas linhas desfocadas

 

Semente de astro...pele de seda

A lembrança ecoa na melancolia

Rugas de ferrugem esperam o dia

E a alma...extasiada...

Arde nas chamas inúteis das veredas

 

Lembro-me desse regato de águas quase rasas

Lembro-me da sede das aves e da volúpia das pétalas que flutuavam

Lembro-me de mim...a sorrir...

 

Consola-me dizer que acordei agora

Embora me faltasse o tempo para dormir

Consola-me o respirar da tarde...e o crepitar do relógio da sala

Que ali está...pregado na parede...parado

Enquanto conta as horas que não param nunca.

E eu...esmagado...

 

 

 

E sobrou ele...

Ah se fosse fácil sorrir...se fosse fácil habitar nessa coluna de fumo

E aprender o caminho que as trepadeiras ensinam...se fosse fácil...

 

Se fosse fácil esquecer a urgência cansada do vento

Que varre os peitoris das janelas...e prossegue sempre em direcções desconhecidas

Como se caminhasse por dentro das nossas vidas...

Se fosse fácil..

 

Esse vento ...frágil sustento da alma em flor...

Circunferência de nadas e de tudo

Que corta as emoções a fundo...

E transita pela incomensurável desolação da dor.

 

Cresceu...gastou a ilusão...aprendeu a falar com o tempo

Caminhou por entre preciosas feridas...algures entre a vida e a estrada calcinada

Caiu...intacto e resplandecente...como uma alma alucinada

Sobrou-lhe o vidro cortante dos dias...sobrou-lhe o medo e a eternidade

E sobrou ele...

Como se tivesse sonhado a vida...

 

E quando tudo parecia que era fácil

Quando todos os sentimentos ecoavam como guizos

Quando todas as veias rebentaram...

E a solidez de uma incerteza subterrânea se abateu sobre ele

Ergueu-se como uma pedra cansada

Construiu um coração...onde escondeu todas as profecias

E ali ficou...petrificado...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Na espera da luz...

 

Havia uma serenidade de quilha no silêncio da noite

Havia um suspiro de nómada nos poros das horas

E a máscara de espuma lá estava...a pintar a noite com os seus esgares de alma inchada

Um susto enfeitava o começo do amor...o olhar estava suspenso no mar que bramia

Falámos toda a noite...deixando as nossas impressões digitais na areia

Percebemos que éramos anónimos labirintos procurando uma saída

Éramos aves a dardejar sorrisos nos confins da praia

Não havia absolutamente nada que pudesse descrever aqueles seres

Vazios...feitos de uma esperança vertiginosa...calcária...

A lua molhava as rochas com a sua luz suspirante

Lado a lado...inventámos filosofias...peixes voadores

Ardemos na tristeza de saber que a manhã vinha a chegar

E nós...ali estávamos...perdidos...na espera da luz...

 

Estilhaço...

 

Hei-de trazer-te um dia a pedra onde encerrarás as palavras

Por ti carregarei o infinito como se ele fosse algo mais que uma sombra

 

Construí um tempo no coalho dos teus lábios

E nem hesitei...quando os relógios me falaram da urgência dos caminhos

 

Despi-me do lume dos desertos...desembainhei a minha tela

Pintei o desespero com cores garridas...assombrosas

Incendiei os pulsos com a alma do vento

Espalhei por todo o lado o meu silêncio

E caí...de pé..como uma pétala dentro da madrugada

 

Contamino os gritos com a pressa das estradas

Quero ser um frágil zumbido a pairar na alquimia dos dias

A transitar pelos sinos das igrejas... a perder-me na semente odiosa dos perdidos

A curar esta cicatriz de oráculo entediado

A quem um estilhaço de cinza apagou as alegrias...

 

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