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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

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Poesia e outras palavras.

Num mundo ideal todas as pessoas deveriam ter a mesma quantidade de dinheiro?

 

Num mundo ideal todas as pessoas deveriam ter a mesma quantidade de dinheiro? Não. Num mundo ideal todas as pessoas devem ter a quantidade de dinheiro merecida.*** Esta é a questão fundamental que deveria regular as diferenças salariais. Podemos questionar-nos sobre se é justo ou merecido uma pessoa ganhar um salário 50 ou mais vezes superior a outra pessoa. Será que quem ganha esse ordenado merece, ou é justo ter essa disparidade salarial em relação a um subordinado? Não me parece aceitável que alguém possa concordar com isto. Somos seres humanos, temos as mesmas necessidades, mas temos uma outra coisa que nos governa, e isso é o egoísmo. É por causa do egoísmo que o mundo está cheio de injustiças. Se uma empresa tem muitos lucros, isso não é só trabalho do empresário, é um trabalho de equipa, não seria mais justo,e digo até, mais normal,que houvesse uma distribuição dos lucros pelos empregados? E não deveria ser uma distribuição de maior valor para os cargos mais elevados, esses por norma já recebem mais ordenado, acho que deveria ser uma distribuição nominal, ou seja, o mesmo valor para todos os funcionários da empresa. Infelizmente não é isto que acontece, a realidade é que na grande maioria das empresas nem sequer há distribuição de lucros, talvez por medo de que os empregados enriqueçam...ou que falte aos patrões.

***Do livro - A sabedoria das multidões - de James Surowiecki

 

Embalamos a lua nos braços...

 

Ele ali está...fechado como uma concha..cheio de palavras...caladas

Por detrás o espelho...onde se reflectem as várias facetas do dia

Livro e espelho...ambos resumidos ao silêncio...intactos..

Quietos...no som da chuva que já deixou de cair...

Absortos...

 

Na primeira página do livro há uma folha de uma qualquer flor

Folha de flor que já não cheira...memória de outra memória que já não tenho

Tampa de cela de onde a memória se desprendeu...

E partiu...

 

Há também uma rosa numa jarra...e também há uma alma em cada estante

Alma submersa pelo aroma da madeira...que suspira...cansada...de ali estar

 

De onde vem a distância que atravessa a vida?

Que viagem fazem os sentimentos diluídos na espera?

Somos isto e aquilo... temos o perfil da luz que se escoa pela nossa face

Desajustados...ferozes...felinos...

Sentimos a tentação pelos espaços

Embalamos a lua nos braços...

Caídos...

 

Dias frios...

 

No meu peito crescem já os dias mais frios

Por toda a parte se sente o sono das árvores

Todos os caminhos estão livres

Todos os corações se alegram com espessura das fontes

Sóis cinzentos despontam nas manhãs

Encerradas estão as margens do rio

Restam os suspiros dos flamingos

As hastes das ervas...

E o assobio dos ventos...

 

 

 

Neblina...

A noite tombou na orla das marés

A neblina cresceu...entornou-se sobre a areia

Alguém passou...alguém sorriu...

Quem?

 

Na sala...um espantalho espreita quem chega

Na ruas explodem longos risos...cavernais

Comprei o meu espanto numa rua de saldos

O sono banha-me o lado esquerdo...nada posso fazer...

Adormeço?

 

Em frente a mim uma vidraça

Espreito-me...

 

Juro que não sei fazer mais nada do que preparar a minha morte

Afinal...a música também se acaba...

 

Pousei o meu retrato numa prateleira cheia de coisas inúteis

Foi mais uma que lá ficou...

A apanhar pó...

Mais nada!

 

É quando um homem se deita que a alma se levanta

E o sonho...é uma pedrada na letargia da noite...

 

O darwinismo social

A notícia do dia é que há em Portugal cerca de 2 milhões de pobres. Chegou-se à conclusão, de que já não basta ter emprego para se sair da pobreza, porque os ordenados miseráveis que muitas pessoas ganham não lhes chegam para cobrir as necessidades mais básicas. Perante esta situação que fazer? A Noruega está a pôr em prática um subsídio à família, que permite que todas as famílias tenham um rendimento suficiente para viver com dignidade, claro que já sabemos que a Noruega é um país rico, mas, penso que isso seria possível fazer em Portugal. E como é que se criava esta ajuda às pessoas mais desfavorecidas? Talvez fosse mais interessante ajudar quem não tem rendimentos suficientes, canalizando a miríade de ajudas e subsídios, que agora se dão para as mais diversa coisas transformando-as num só subsídio. Por exemplo, se perguntarmos a uma família pobre se quer manuais escolares gratuitos, (gratuitidade que é para todos, ricos e pobres), ou prefere um subsídio que lhe permita equilibrar o orçamento familiar, tenho a certeza de que essa família iria preferir o subsídio. Há outra coisa que se chama a mentalidade liberal, essa mentalidade que promove o darwinismo social e que está na moda, tem que ser modificada, esta coisa de se pensar que os pobres são pobres porque querem é um bocado aterradora. Por outro lado, não vemos nem partidos políticos, nem governos, nem sindicatos a lutar por uma verdadeira solução de combate à pobreza, se todas essas instituições se empenhassem em criar soluções para esse combate, como se empenham nos aumentos para os funcionários públicos,( que não têm culpa desta situação), talvez já se tivesse encontrado uma solução.

 

Encerrar as contas..

 

Encerrar as contas...procurar no tempo a eternidade

Construir breves formas...esquecer a carícia das saudades

É isso que chamo...incendiar as flores...renascer noutro caminho...ocupar o espaço

 

Sob um céu de luz...os grãos de areia luzem nos sorrisos

Sob a mesma espera...quebra-se o sol...de mansinho

E os búzios...olham-me...como feiticeiros da extensão plana dos sonhos

Que me ligam ao mar...

 

Corpo a mover-se....pluma de pele e ossos a ressaltar nas ruas

Entrelaças a alma em amarras que inventas

Despes-te das feras que se acumulam em ti

Transcendes o impossível véu da noite...

 

Acumulas em ti as ervas...as veias...as esperas

És o alimento da luz...a pétala estalada...bela....deslumbrada

Prometeste construir um enredo de silêncios...inteiro...rosáceo...

Mas apenas fizeste com que os astros caíssem na lama

Rasgaste a vida...receaste a plenitude dos barcos...ficaste...

E já não ousas erguer os olhos para a beleza dos malmequeres...

Lembras-te da espuma a desfazer-se?...como tu...

 

Quem sabe!

 

Tenho uma cadeira onde sento os sonhos

Tenho um peito onde escondo as sombras

Tenho uma secreta esperança de um dia poder crescer dentro de uma carícia

E fazer de mim um elíptico mar onde me seja possível construir silêncios

 

Há por vezes em mim uma solidão de absinto...um sabor a terra...

Sei...que há tantas solidões como quartos...ou camas...ou apenas olhares

Sei que há ecos que são mais que ecos...são aves a soçobrar...estrelas a cair

E o inverno a descer pelas colinas...a enverdecer os campos..a rasar as casas...

A falar de outros frios que aí vêm...sóbrios e fartos como a chuva

Ou como a face deserta das cidades...

 

Se eu pudesse tocar na loucura...só para senti-la como a sentem os loucos

Se eu lá encontrasse um caminho perdido...

Seria também louco...ou seria uma sentinela a guardar o destino...

Que encontrou um insignificante bafo de luz que me iluminou?

Quem sabe!

 

 

Vazios...

 

Tirei de dentro de mim tudo o que não prestava

Os apertos no coração...os fantasmas primaveris...

O emaranhado dos sentidos...a fome de ser mudança

Tornei-me naquilo que sempre quis...

Mergulhei em regatos de fantasia...despertei da agonia

Fui o solstício de mim próprio...

Matei a sede em orvalhos cristalinos...e ardi

Como às vezes ardem os pássaros que não têm onde poisar.

 

Há um cheiro de memória a enfeitar as sombras

A frescura da manhã assinala o despertar da verdade que queremos esquecer

Se tivéssemos asas...seríamos aves soltas na indecisão dos dias

Seríamos inesperadas fontes onde a luz se encandeia...e os olhos se alegram

Abriríamos as portas do passado...não para entrar...mas para sair...para voar...

 

Já não temos a medida da paz

Perdemos a infância nos volteios da vida

Quem diria que somos os mesmos que ontem corriam pelos valados

Que ontem procuravam abrir as ruas desconhecidas do sonho

E dizer...que tudo era nosso...

Como se fosse nosso o dever de sermos donos de nós...

Como se tivéssemos mesmo que ser quem somos...

Permanecendo ausentes...das coisas...

 

Renascemos...petrificados em poses de estátuas nuas

Sensíveis...saboreamos a chuva que afoga as mágoas

E nem sequer sabemos qual é a inconsciência do tempo

Que mansamente...nos fala de felizes segredos...

Vazios...

 

Dissolução

 

Eu já sabia que os olhos são o sal e a forma das coisas

E também sabia que os olhos são a voz do silêncio

Por detrás de cada solidão há um olhar atento

Aos pássaros...aos passos...às luzes que se apagam...ao espaço

Sob um olhar aberto descobre-se um mar...uma nascente de água rasa

Se os olhos tivessem asas...

Talvez pousassem numa ruela onde as pessoas fossem...pessoas

E descobrissem na fugidia luz dos outros olhos...a chama esquecida das noites solitárias

Por cima de cada olhar...vive uma fantasia...um prazer...um nascimento

Abraçamos o olhar...bebemos o vinho...e traçamos voos nos vastos espaços da noite

Nascem-nos sorrisos...ventos breves...prazeres...somos a simbiose do que vemos

Podemos sentir que o corpo se acende numa incansável vontade de viver

Ou podemos simplesmente...dissolver-nos...

 

 

Na perfeição da pedra...

Na perfeição da pedra... a paz....

Sento-me reaprendendo tudo o que já sei

Estender as mãos e tocar a vida...

Com uma...acender uma parte de mim

Com a outra...procurar a outra parte que desconheço

Traçar uma linha recta...inventar...um destino..

Fracassar? Não saber qual o trilho a percorrer?

Saber...que não há caminho sem saída

E a lua a pino...a desenquadrar a noite...

A sair de si...como eu...