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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

Procuro-me

Procuro-me por entre frases e poemas

Procuro saber onde me perdi...que conspirações ergui

Que espada desembainhei

Procuro saber o que nasceu em mim...que mares descobri

Com que asas voei

 

Sei que não me pertencem os flancos do silêncio

Sei que pertenço a outros céus

Sei que a manhã cai sobre a estrada que começa em mim

Que nos meus braços a neve reluz como se me reconhecesse

 

Da janela vejo o vento que arrasta os sorrisos das folhas

Em cada palavra há um infinito...uma chuva...um assombro

Nos meus olhos há palpitações...fogos...calamidades

Enquanto a roda do mundo gira pela luzidia chama dos dias

 

Nada me pertence..nem os gestos...nem as árvores...nem o rasto do mar

Debaixo de mim....o tempo...ressequido...incendiado

Na minha lapela...um suave sopro de fantasia...

Acorda-me...

 

 

 

 

 

 

 

Amanhã..

Amanhã não sei o que farei

Talvez desate em mim o tempo

Talvez abafe em mim o tempo

Talvez corra em direcção a nada

Talvez guarde um poema na gaveta.

Alguém me diz que devia mudar...reconstruir-me

Como se uma pessoa fosse uma casa...

Em cada compartimento um sentimento...uma frase...um quadro...uma angústia

Em cada móvel um segredo...uma aspiração

Amanhã...talvez seja um sóbrio cidadão

A observar o mundo com olhos irrequietos

Como se estivesse dentro de uma solidão

E a claridade das ruas fosse a minha companhia secreta

Talvez passe junto a alguém que me conhece...

Porque somos iguais...mas não sabemos...por isso somos desconhecidos

Se eu coubesse dentro de mim...escolheria um tronco de árvore...só para mim

E se chovesse...talvez me abrigasse por dentro das palavras

Como quem discorre sobre ideias descomunais

Amanhã..sei que tenho a tristeza garantida...

Sei que posso ser a voz que se cruza com outras vozes

E isso me basta...

 

Só tu...

Dentro do sossego do outono...enrolado em folhas cai o tempo

Amanhã....passará um carreiro de formigas em direcção ao coração das folhas

 

Pedra de dor a cobrir a ausência disfarçada em amplos azuis solares

Rumor de vento que seca os olhos...disfarçados...retesados...

Repartidos pelos recantos onde se esconde o mar...salgados...

 

Forma-se um pássaro dentro de mim...acode-me o vento...disponho do tempo

Soletram-se doutrinas nas asas do vazio

Cada gota de chuva tem um sabor...cada passo um ritmo...uma direcção...

 

Afogarei as mãos num riso de criança

Afastarei a espuma com gestos leves...carícias de seda...pele...

Quem me leva...quem me levanta...

Só tu...que não me conheces...

 

Apenas ele...

Para onde irá quem não sabe para onde vai?

Pés calçados...fumo de poeira...gelo nas traves de madeira

Solitário persegue o aroma da alfazema

Desconhecido....ergue o cálice da bebida

Os olhos...fogem para o espaço...são vértices de brilho...travo de nada

Se lhe sussurrarem uma verdade ao ouvido...não a compreenderá!

Mas pensará profundamente sobre o que é uma verdade...

Cansado sentado em frente ao frio...desabafado...

Escandaliza os que pensam que ele é apenas mais gesto sem sentido

Uma criatura que se abre ao frio como quem pede uma recompensa

Todos o olham...ninguém sabe quem é...

Apenas ele...ou nem isso...

 

Um outro tempo

 

Falta-me qualquer coisa que não sei

Talvez uma vaga...uma manhã...um sol a aquecer-me o olhar

Falta-me uma árvore onde possa descobrir as raízes dos dias

Posso dizer que já vi muita coisa...e que muita coisa foi demais para a minha vista

Já vi em cada recanto do mar...uma doçura e um fastio de algas azuis

Já sei que em toda a parte os poetas se sentam nas palavras... e depois calam-se

Contemplam o rasar da luz pela tarde

Esquecendo-se do que está por detrás do parapeito das janelas

Mas também...quem quer saber o está por detrás das janelas?

Quem se importa com cortinas de chita que tapam a luz que sai das casas?

Quando um dia...o poente acordar na cama serena do mar

Então já não será poente...será um outro tempo...a acenar...

E o poeta terá toda a vida...para entardecer...

 

 

Alma gótica...

Alma gótica...nos teus olhos vejo o assombro das noites

Catedral de pedra assombrada...bronze de jarra florida

Na tua ausência sinto a pilhagem dos dias

Que trazem no rasto claro das nuvens...

Um breve recado das horas...cinzentas...

 

Máscara!

Amanhã...deixarei os meus pés marcados no pó do sossego

Amanhã...farei de cada sonho gasto uma escultura

Porém...sei que nas minhas mãos não nascerão flores

E que o espaço é uma imensa gaveta onde guardo os olhos

E o infinito é uma viagem ao invisível mundo das lembranças

Que troçam dos dias em que me deito a fingir que sou uma...

Máscara!

 

Entre nós e as estrelas..

 

Crescíamos por dentro do orvalho como se habitássemos um espaço sem sombras

Entre nós e as estrelas...facas pontiagudas cruzavam a noite

Quantas vezes desejámos ser alquimistas celestes

Quantas vezes quisemos inventar brancos fantasmas de cinza e cal

A nossa vida era um caleidoscópio de palavras erigidas em neblina e luz

E o sangue escorria pela tela onde pendurámos os sonhos

Que depois bebíamos em improváveis taças cosidas no vidro nascido das pedras

Como se fôssemos apenas duas almas...

Juntas pela suavidade da noite....