Queria falar da claridade que sinto... sempre que toco nas aves mais altas
Mas é difícil...
Porque nada sei da pequenez dos homens...nada sei da minha imensa fome
Nem onde estão os meus fantasmas...
E muito menos sei onde está o meu delírio...e as minhas marcas...
Reteso o arco e aponto a flecha... sou feito do areal onde me perco
Vejo uma imagem nítida de um tempo amarelecido
E um longo caminho onde desgasto os pés
Sou a síntese do ocaso do universo
Que se apoderou de mim...como quem vai...sem regresso
E suspeita que um sono é muito pouco
Para quem acorda de um sonho...embevecido...
Os braços apertam a solidão...a rua transborda de cansaço
O céu é uma mancha de fumo e lama
O ocaso...um futuro vazio...raso...
Há uma incoerência em cada dia...um nada em cada viagem
As memórias são turvas visões de um sol incerto
A água lava a vida das lágrimas
Tudo acontece porque assim é...
Mesmo que a bocas bordem flores em panos de linho branco
E os sudários se esqueçam de adormecer
Transportaremos sempre o tempo dentro de uma nostalgia
Uma vertigem em cada remorso
Uma despedida em cada virar de pescoço...
Uma vida...